Sabendo lidar com as más notícias

Sabendo lidar com as más notícias

A nossa vida neste mundo é permeada de momentos significativos de ganho e perda. Todos nós construímos sonhos, organizamos as nossas ações e buscamos recursos para a concretização de nossos projetos. Através de nossos talentos e demais habilidades, investimos e acompanhamos com grande expectativa o resultado do nosso trabalho. Essa dinâmica reitera-se em todas as áreas da atuação humana. Na verdade, os seres humanos iniciam as construções de suas realizações muito cedo. Para nós que conhecemos e reconhecemos o Senhor Jesus como o Guia de nosso destino, a confiança de que tudo vai dar certo é tranquilizadora. Alimentamos expectativas de sucesso e ganho, olhamos para o futuro com otimismo! Traçamos planos de estudo, escolhemos carreira profissional, buscamos um cônjuge para a formação de uma família, idealizamos o lar que funcionará como uma extensão do Céu na Terra. Inúmeros projetos são realizados e ficamos alegres! As boas notícias, as vitórias que alcançamos, trazem satisfação contagiante ao ambiente familiar, o que é saudável para todos os membros da família; são exemplos vividos que ensinam a importância do esforço, persistência nos objetivos e confiança em Deus.

Porém, em alguns casos, no seio da própria família, sentimentos individuais de inveja ou raiva podem interferir na satisfação geral, mas não chegam a ofuscar o brilho e a importância das conquistas. Certo é: muito mais fácil e confortável é lidar com as boas notícias. Só que os cristãos, embora amados de Deus, sabem que não vivemos o tempo todo a recepcionar apenas as boas notícias. As dificuldades foram previstas por Jesus a Seus discípulos: “Tenho-vos dito isto, para que em Mim tenhais Paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo” (João 16.33). As más notícias percebidas e interpretadas na perspectiva humana podem trazer efeitos devastadores a quem a recebe e à família. Dependendo da maneira como são anunciadas, às vezes são lançadas como verdadeira bomba, sem o menor preparo ou sensibilidade. As informações podem conter vários graus de gravidade.

“Má notícia é aquela que, drástica e negativamente, altera a perspectiva da pessoa e dos seus familiares em relação ao futuro. É capaz de provocar uma desordem na dinâmica emocional da pessoa, no seu domínio cognitivo e de comportamento, que persistirá por certo período de tempo após o recebimento da má notícia” (DIAZ 2006). A vivência de más notícias está ligada a uma carga emocional que repercute na vida e convivência familiar. Cada pessoa reage de forma diferente à situação.

Normalmente, são consideradas más notícias: desilusão; desapontamento; expectativas frustradas; acordos desfeitos; sonhos e projetos não concretizados; filhos rebeldes; perda do emprego; injusta “puxada de tapete” por inveja de carreira profissional; amigo ingrato; boa amizade que acaba por mal entendido; perdas por traição entre cônjuges; o esfacelamento do relacionamento conjugal; doença grave sem prognóstico de cura; e perda por morte de uma pessoa querida, sendo estas últimas as mais penosas e significativas das más notícias. Vivemos um tempo longo de afastamento social por causa da pandemia. A moléstia tem colaborado para o aumento de casos de ansiedade, depressão e distúrbios emocionais com sintomas diversos, devido à sensação de medo, estado de alerta, isolamento, perda de entes queridos, dificuldades financeiras, incertezas, mudanças de rotina. Além das más notícias verdadeiras, temos ainda as falsas más notícias que assombram as famílias.

A maneira como lidamos com as más notícias é relevante, uma vez que podemos desenvolver patologias. Normalmente, o emocional humano envolve-se de forma intensa em situações difíceis e sem nenhuma opção de escape dos problemas. Os seres humanos são inteligentes e ágeis, mas não possuem força e poder para resolver determinadas situações, apenas Deus. Diante da angústia, passamos a agir sob efeito do estresse, que conduz ao desgaste emocional, mental e físico, e ainda produz vários tipos de doenças psicossomáticas. Mente e corpo começam a sentir os efeitos das más notícias. Mas é importante lembrar que as reações emocionais adversas são altamente contagiantes no núcleo familiar. Todos passam a viver o mesmo clima de tensão. As reações às boas e más notícias nunca são neutras em termos dos seus efeitos no lar. Vejamos alguns possíveis comprometimentos.

O esgotamento emocional, por exemplo, é responsável por ansiedade descontrolada. É caracterizada por uma sensação difusa, pela preocupação excessiva ou expectativa apreensiva, persistente e de difícil controle, inexplicável e provoca sintomas diferentes para cada pessoa: ansiedade com relação ao passado (sentimento de culpa) e ansiedade com relação ao futuro (preocupação excessiva). O ser humano é afastado de viver o presente nos dois casos acima mencionados, uma vez que os nossos pensamentos estão focados nos temas preocupantes.

A síndrome do pânico é um tipo de transtorno de ansiedade, quando ocorrem crises inesperadas de desespero e medo intenso de que algo ruim aconteça, mesmo que não haja motivo algum para isso ou sinais de perigo iminente. A depressão, por sua vez, é uma doença causada por alterações químicas no cérebro, produz perturbação de humor, um sentimento de vazio mais profundo do que a tristeza, capaz de comprometer toda a dinâmica da vida da pessoa, tornando a situação cada vez mais complicada afetando objetivos e perspectivas de vida. As doenças psicossomáticas são sintomas provocados por alterações emocionais, como dores musculares ocasionadas pela tensão emocional, falta de ar, coração acelerado, tremores, diarreias, alteração de pressão arterial e outros.

O cristão sabe que existe um tempo determinado, específico, orientado por Deus para cada conquista ou perda em nossa existência na Terra. Essa realidade está ligada à vontade imperativa do Criador. A vontade permissiva de Deus opera quando queremos muito fazer a nossa própria vontade, sem se importar com a vontade divina. Mesmo assim, Ele demonstra o Seu amor por nós e permite que nossos deslizes se transformem em aprendizado (falo de decepções, perdas, más notícias). Nosso processo de crescimento precisa das lições importantes que as dificuldades conseguem proporcionar. É importante para saúde pessoal e familiar a maneira como interpretamos e transmitimos uma má notícia, bem como as estratégias mais saudáveis e assertivas para minimizar o impacto e a condução das elaborações.

As perdas, com a ótica divina, sempre trazem a possibilidade de reflexões construtivas para compreensão da realidade em que vivemos, embora não fazendo parte do nosso plano de ação. Demonstramos, muitas vezes, enorme dificuldade aceitar e aprender com os problemas ao redor. Quando nos vemos sozinhos, nem sempre conseguimos reverter o quadro. O próprio envolvimento emocional com a situação e o sofrimento não favorecem atitudes coerentes. O conceito de saúde envolve três dimensões: espiritual, mental e física. Essas três dimensões estão intimamente relacionadas. Se há problemas em uma delas, as outras também são prejudicadas. Mas há um recurso infalível: apegar-se a Deus, buscar forças e orientação divina; reconhecer que temos à nossa disposição a graça do Senhor que serve como um bálsamo a emoções danificadas. O Senhor reconstrói relacionamentos destruídos. A fé perfeita em Deus nos encoraja a aprender com as más notícias. “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Salmos 46.1).

Por Sonia Pires Ramos.

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