Pastoreando em tempos difíceis

Pastoreando em tempos difíceis

Pastorear o rebanho de Deus é uma grande responsabilidade e um grande privilégio. Contudo, pastorear em tempos de crise é um desafio imenso, pois as dificuldades são bem maiores. Mesmo assim, o pastor deve continuar pastoreando de maneira resoluta e confiante que Jesus, o Sumo Pastor, lhe dará vitória, pois para isso foi chamado. Ele mesmo disse para Pedro, após tratá-lo de sua crise, quando, após a prisão de seu Mestre querido, O negou por três vezes: “Apascenta as minhas ovelhas” (João 21.17 – NAA). O tríplice chamado do Senhor restaura Pedro ao futuro serviço a Jesus e à Sua Igreja (João 21.15-17).

O grande apóstolo Paulo, em sua terceira viagem missionária, visitou Macedônia e Acaia, e permaneceu alguns dias em Mileto, cidade localizada na região da Ásia Menor. Ali, ele mandou chamar os presbíteros da igreja de Éfeso para uma audiência cristã. Ao encontrá-los, disse: “Vocês sabem como me conduzi entre vocês em todo tempo, desde o primeiro dia em que entrei na província da Ásia, servindo ao Senhor com toda humildade, com lágrimas e com as provações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus” (Atos 20.19-20 – NAA). Observemos que mesmo Paulo enfrentando severas provações e dificuldades, em momento algum ele deixou de anunciar o evangelho, como ele mesmo declarou (cf Atos 20.20). Às vezes as crises e dificuldades tentam parar os valorosos obreiros de Cristo, mas sigamos avante, pois teremos uma recompensa.

Uma das grandes orientações de Paulo para o pastor continuar pastoreando o rebanho de Deus em tempos de crise é que o pastor precisa cuidar de si mesmo e ao mesmo tempo do rebanho do qual o Espírito Santo o constituiu como pastor (Atos 20.28). Geralmente, o pastor é aquele que cuida de todos, mas quase não recebe cuidado de ninguém, por isso ele precisa cuidar de si mesmo: da sua vida espiritual, familiar, emocional, doutrinária, financeira, intelectual e também da saúde. Nos dias pandêmicos que estamos vivendo, muitos pastores e abnegados servos de Deus foram chamados para o descanso eterno. A infecção causada pelo novo coronavírus, bem como as sequelas deixadas por ele, levaram ao óbito de muitos líderes, principalmente os que possuíam comorbidades. E isso, consequentemente, causa um impacto psicossocial na igreja e nos demais pastores, que precisam lidar com a dor do luto e, ao mesmo tempo, levar uma palavra de consolo aos fiéis.

Por estarem na linha de frente e dando assistência ao rebanho por meio da intercessão, pregação, visitação e aconselhamento, os pastores estão mais vulneráveis. Por isso, o pastor precisa estar atento e tomar os devidos cuidados, pois ele também é humano. Paulo disse a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (1 Timóteo 4.16a – ARA). A expressão “tem cuidado” no grego é epeche, significa que o grande apóstolo orientou o seu discípulo a cuidar de si mesmo, do seu caráter e suas ações, o que também inclui a saúde mental e física. Isso associado ao cuidado com a doutrina, o “ensino”, no grego tei disdaskalia. Ele ainda orienta Timóteo de forma clara a cuidar de sua saúde: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades” (1 Timóteo 5.23 – ARA). Cabe aqui a observação da Bíblia Shedd, quando diz que o vinho aqui é de uso medicinal e não conflita com 1 Timóteo 3.3. Assim, Paulo deixa claro que o pastor também está sujeito às enfermidades, por isso ele deve ter cuidado com sua alimentação, com a saúde emocional, fazer exames periódicos, ter momentos de lazer em família, praticar atividade física, repousar, entre outras preocupações.

O pastor Jeren Rowell faz uma afirmativa pertinente, quando diz: “Muitos de nós provavelmente não tomamos os cuidados adequados com nossos corpos. Muitos pagam um preço caro, depois de anos de negligência”.

Em tempos difíceis o pastor também precisa ter um cuidado especial com a doutrina. A doutrina 

aplicada a si mesmo e também aos que lhe ouvem (1 Timóteo 4.16). Para Rowell (2008), “a base da saúde pastoral é uma teologia bíblica pastoral abrangente”. Isso requer disciplina pessoal, vida de piedade, aplicação à leitura, à exortação, ao ensino e ao estudo bíblico e teológico. Paulo ainda faz a seguinte recomendação a Timóteo: “Ocupa-te destas coisas, dedica-te inteiramente a elas, para que o teu progresso seja manifesto a todos” (1 Timóteo 4.15 – ARA). O pastor, como um obreiro que está à frente do rebanho, precisa valorizar o dom que recebeu da parte de Deus. Ele deve colocar em prática o que Paulo ensinou a Timóteo. Vejamos: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2.15 – ARA). Atentemos para algumas observações no texto bíblico supracitado. Primeiro, antes de se apresentar ao povo o pastor precisa apresentar-se a Deus aprovado. Segundo, ele deve ter conduta ilibada, de forma que não seja envergonhado, e nem tenha do que se envergonhar. Terceiro, ele precisa manejar bem a Palavra da Verdade, isto é, fazer a exegese correta do texto bíblico, e para isso é necessário se debruçar no estudo das Sagradas Letras.

Outro fator importante para o pastor ser bem-sucedido em tempos difíceis é a perseverança. O pastor Charles Swindoll afirma que “os ministros não têm sucesso no ministério por causa do cérebro, talento, carisma ou habilidades interpessoais. Os ministros têm sucesso sendo perseverantes em tempo difíceis”. O obreiro chamado por Deus precisa perseverar diante dos desafios, dificuldades, crises, escassez, críticas e intempéries que podem surgir na jornada ministerial. Aqueles que recuam e desistem em tempos difíceis não obterão sucesso. É necessário perseverar. Paulo declarou: “Persevera nessas coisas, porque, fazendo isso, te salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Timóteo 4.16 – TB). Ainda é importante pontuarmos que a perseverança precisa ser acompanhada da oração contínua. A oração é, sem sombra de dúvidas, uma arma poderosa contra as hostes infernais da maldade. É uma das formas de continuarmos avante em tempos difíceis. Jesus afirmou: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mateos 26.41 – ARA). A oração é uma prática que sempre foi eficaz na vida do povo de Deus ao longo da História.

No Livro de Atos, observamos que os crentes primitivos, antes de receberem a promessa do derramamento do Espírito, perseveravam unanimemente em oração (Atos 1.14). E após receberem o revestimento de poder (Atos 2.1-4), continuaram perseverando na oração (Atos 2.42). Os apóstolos instituíram sete diáconos para servir aos necessitados, enquanto eles perseveravam na oração e no ministério da Palavra (Atos 6.4). Pedro foi preso por pregar o Evangelho, mas a Igreja orava incessantemente a Deus por ele (Atos 12.5). O grande apóstolo Paulo ensina na carta aos Roma nos a perseverarmos na oração (Romanos 12.12), e também pede que os irmãos lutassem juntamente com ele em suas orações (Romanos 15.30). A oração é um dos fundamentos da Igreja. É uma arma secreta e eficaz. Em tempos difíceis, o pastor jamais poderá abrir mão dela. Como afirmou o Dr. Shedd em seu livro A oração e o preparo de líderes: “Na luta contra o maligno, Jesus não segregou os seus discípulos, colocando-os numa fortaleza; mas eles foram enviados para o mundo com uma arma totalmente eficaz, a arma da oração”. Doutor Shedd ainda diz: “Todo aquele que negligenciar a oração terá uma despensa espiritual vazia”. Que Deus continue abençoando a todos os pastores na nobre missão de pastorear o rebanho de Deus, e mesmo em tempos difíceis, prossigamos firmes e constantes, pois Jesus nos dará vitória. “E quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1 Pedro 5.4 – ARA).

Referências

Bíblia de Estudo Palavra-Chave – Hebreico e Grego. Texto Bíblico: Almeida Revista e corrigida, 4ª ed.; Socidade do Brasil, 2009. Rio de Jeneiro: CPAD, 2011. 

Bíblia Shedd. São Paulo: Vida Nova; Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997.

ROWELL, Jeren. O que um Pastor deve fazer?. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

SWINDOLL, Charles R. Comentário Bíblico Swidoll: 1,2 Timóteo, Tito. São Paulo: Hagnos, 2018.

SHEDD, Russell Philip. A oração e o preparo de Líderes. São Paulo: Shedd, 2001.

Por Raydfran Leite de Oliveira.

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