Crianças superdotadas: o que as igrejas podem fazer por esse grupo específico?

Crianças superdotadas: o que as igrejas podem fazer por esse grupo específico?

Organização Mundial da Saúde (OMS) contabiliza que cerca de 5% da população possui algum tipo de superdotação. Se for aplicado esse percentual nos mais de 47 milhões de alunos da educação básica (ensino infantil, fundamental e médio) no Brasil, esse grupo soma cerca de 2,3 milhões de estudantes. Considerando a estatística do IBGE de 2010, estima-se que em nosso meio pentecostal temos aproximadamente 350 mil pessoas superdotadas. Esse número é expressivo e precisa de atenção especial das igrejas. Com o propósito de despertar a atenção para estes dados, neste artigo apresentamos o conceito e as características da superdotação, o papel da família e os desafios eclesiásticos em relação aos superdotados.

Conceito de superdotação

Os critérios a serem avaliados em busca da definição de superdotação são inúmeros e variados. Contudo, em termos gerais, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) editadas pelo Ministério da Educação (MEC) conceitua o superdotado como sendo o estudante que apresenta notável desempenho e/ou elevada potencialidade, isolados ou combinados, nos seguintes aspectos: capacidade intelectual, aptidão acadêmica, pensamento criador, capacidade de liderança e talento especial para arte e habilidades psicomotoras.

Na conceituação de Landau (2002, p. 30), a superdotação constitui um aspecto básico da personalidade que lhe propicia revelar seu talento num nível superior, de maior abrangência, tanto intelectual, como cultural e social. Como o conceito é abrangente, torna-se imprescindível não generalizar. Um estudante superdotado ou com altas habilidades nem sempre apresenta domínio em todas as áreas. Alguns superdotados podem ter alto desempenho em algumas áreas do conhecimento humano, e, em contrapartida, podem ter médio ou até baixo desempenho em outras aeras do saber.

Características de uma criança superdotada

Conforme a Secretaria de Educação Especial do MEC, dentre as características mais comumente encontradas em crianças superdotadas em idade pré-escolar destacam-se:

- Alto grau de curiosidade; boa memória e atenção concentrada;

- Interesse por áreas e tópicos diversos;

- Aprendizagem rápida; criatividade e imaginação;

- Vocabulário avançado e riqueza de expressão verbal;

- Habilidade para considerar pontos de vistas dos outros;

- Facilidade de interagir com crianças mais velhas ou com adultos;

- Habilidade para lidar com ideias abstratas e interesse por livros.

Como é possível perceber, o espectro é enorme e, desse modo, exige um apurado processo de identificação. Geralmente, tais características são percebidas no ambiente escolar com a participação dos técnicos da educação especial e informações dos familiares e pessoas que convivem com a criança. Essa avaliação é feita por equipe multidisciplinar e compreende, entre outros, os aspectos cognitivos, acadêmicos, sociais e emocionais. Segundo Ludmilla Souza (Agência Brasil, 2021), “o processo de identificação tem duração variável, podendo chegar até mesmo a um ano”.

Outro meio que auxilia na identificação de uma criança superdotada é o teste de quociente de inteligência (QI). Os testes de QI surgiram na China no século V e receberam caráter científico a partir do século XX. De acordo com Tiago Dantas (Uol, 2022), o teste de QI “demonstra um conjunto de habilidades mentais, verbais e lógico-matemáticas que são relevantes para o contexto das sociedades globalizadas e urbanas”. No somatório da pontuação alcançada no teste, as crianças acima de 140 de QI são classificadas como superdotados e as crianças com QI acima de 180 são consideradas gênio.

O papel da família no desenvolvimento de talentos

É consenso entre os educadores, que pais afetuosos e dedicados podem auxiliar no desenvolvimento das habilidades de seus filhos. Quando a família interage e participa a criança sente-se segura e administra melhor o seu potencial. Nesse aspecto, Virgolin (2007, p. 16) relaciona uma série de evidências colhidas por Benjamin Bloom de como a postura dos pais podem influenciar positivamente no desenvolvimento da inteligência de seus filhos.

Segundo a pesquisa, os pais que motivaram seus filhos são os que: a) combinavam apoio e altas expectativas para com o desempenho dos filhos; b) encorajavam a criança nos seus esforços para aprender novas habilidades; c) providenciavam recursos e oportunidades de aprendizagem além daquelas fornecidas pelo ambiente escolar; e d) estimulavam seus filhos a se engajarem na área de interesse o mais cedo possível, escolhendo o primeiro instrutor com cuidado. O estudo de Bloom confirma que “o desempenho superior aparece depois que as crianças são estimuladas e encorajadas pelos pais, e não antes, como se poderia supor” (Virgolin, p. 17).

Nessa direção, a família cristã desempenha papel preponderante no estímulo de seus filhos com altas habilidades a contribuírem expressivamente com o futuro da sociedade. Tais crianças podem se tornar celebridades em todas as áreas do conhecimento. É imperioso que a cosmovisão cristã ocupe o seu espaço na esfera pública, acadêmica e científica. Para tanto é imprescindível que a preocupação dos pais não se limite ao desenvolvimento intelectual de seus filhos superdotados, mas, sobretudo, que haja estímulo à formação espiritual, bíblica, doutrinária e teológica (Pv 22.6).

O desafio das igrejas quanto aos superdotados

Muito se fala da necessidade de implantação da educação inclusiva na Igreja. Incluir pessoas com necessidades especiais em nosso ambiente eclesiástico não é uma tarefa fácil. Isso porque a inclusão vai muito além de dar acesso às pessoas com alguma dificuldade de aprendizagem, ela também compreende aqueles que aprendem muito rápido – os superdotados. Nesse mister, a igreja depende da visão da liderança em capacitar educadores para o atendimento desse importante grupo de pessoas.

Neste caso, o ministério de educação cristã da igreja local desempenha função importantíssima. Algumas práticas pedagógicas precisam ser implementadas, principalmente na Escola Dominical, dentre elas, destacam-se: a) criação de uma classe especial para alunos superdotados; b) formação de corpo docente com habilitação especializada ao ensino de alunos especiais; c) infraestrutura adequada que viabilize uma metodologia dinâmica e eficaz; d) disponibilidade de recursos de mídias e demais tecnologias da informação.

Os alunos com superdotação devem ser estimulados a potencializar suas habilidades na leitura e memorização de textos bíblicos. A capacidade de aprendizado deve ser direcionada aos grandes temas doutrinários do Cristianismo e do Pentecostalismo; ao debate interdisciplinar e a dialética entre as ciências sociais e teológicas, tais como Antropologia, Filosofia e Sociologia. A cosmovisão bíblica e a reflexão crítica devem ser instigadas na análise de argumentos humanistas, marxistas e ideologias anticristãs. Aliado a isso tudo, tais alunos devem ser direcionados na busca do aprimoramento espiritual por meio do fruto do Espírito a fim de desenvolverem o autêntico caráter cristão, e assim, tornaram-se multiplicadores da fé entre seus pares superdotados.

Considerações finais

O número considerável de pessoas superdotadas não pode ser negligenciado em nosso meio pentecostal. O alto grau de habilidades destas pessoas precisa ser potencializado pelas famílias e direcionado pela Igreja em prol do bem comum da sociedade e para o avanço do Reino de Deus na terra. É inadiável na igreja hodierna a necessária atenção para este público específico de nossos irmãos em Cristo: “o que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força” (Ec 9.10a – NVI).

Referências bibliográficas

DANTAS, Tiago. Quociente de Inteligência (QI). São Paulo: Mundo Educação, Uol, 2022.

FLEITH, Denise de Souza (Org). A Construção de Práticas Educacionais para Alunos com Altas Habilidades / Superdotação. Vol. 2. Brasília: (MEC) Secretaria de Educação Especial, 2007.

LANDAU, Érika. A Coragem do Ser Superdotado. São Paulo: Arte & Ciência, 2002.

MOLL, Jaqueline (Org). Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília: (MEC) Secretaria de Educação Básica, 2013.

SOUZA, Ludmilla. Mais de 24 mil crianças no Brasil são Souza superdotadas, mostra censo. São Paulo: Agência Brasil, 2021.

VIRGOLIM, Angela M. R. Altas Habilidades / Superdotação Encorajando Potenciais. Brasília: (MEC) Secretaria de Educação Especial, 2007.

Por Douglas Roberto de Almeida Baptista.

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