Contemplando as promessas do Senhor a Israel a despeito das sombras inimigas

Contemplando as promessas do Senhor a Israel a despeito das sombras inimigas

A escolha entre confiar em sua própria percepção dos fatos, ou dar ouvidos à interpretação distorcida de outra pessoa, foi o diferencial que levou à derrota um dos filhos de Ebede, chamado Gaal. Levantado como opositor de Abimeleque, por ocasião do levante dos siquemitas, numa espécie de guerra civil incitada pelo próprio Senhor (Juízes 9.23, 24), Gaal obteve relativo sucesso numa operação em que contou com os habitantes da cidade, enfraqueceu a liderança local exercida por Zebul, fragilizou possíveis resistências ao redor e acenou com a possibilidade de um futuro melhor sob sua liderança; no entanto, enquanto Gaal celebrava suas primeiras vitórias dentro dos muros de Siquém, Zebul, irado, mandava anunciar a Abimele que sobre a revolta e incitava-o a armar emboscadas no campo e reagir ao insulto. Assim fez o assassino de irmãos, dividindo o povo com que podia contar em quatro bandos – e avançou contra a cidade. O movimento de suas tropas não ficou escondido aos olhos do atento Gaal: “E, vendo Gaal aquele povo, disse a Zebul: Eis que desce gente dos cumes dos montes. Zebul, ao contrário, lhe disse: As sombras dos montes vês por homens” (Juízes 9.36). Caindo no ardil, Gaal desprezou a verdade que estava diante dos seus olhos, dando lugar aos ardis do inimigo, sendo derrotado, levando os moradores de Siquém à morte e a região ao redor à assolação. O conselho que o impediu de uma pronta reação contra seu inimigo pessoal está resumido na expressão “as sombras dos montes vês por homens”, facilmente substituída pela forma “não é bem assim”, que tem se tornado avaliação frequente daqueles que preferem ignorar acontecimentos ruins, minimizar perigos e relativizar ofensas. A adesão a essa postura inativa as reações possíveis e fortalece opositores, até o ponto de impossibilitar reações que debelem suas intenções destrutivas.

Trazendo para os nossos dias a reflexão acima iniciada, basta ver como prosseguem as várias tentativas de se relativizar o Holocausto, quer seja através de falsos argumentos históricos, quer por declarações deslocadas em seu conteúdo e contexto, como se pôde ouvir, recentemente, no pronunciamento de Mahamoud Abbas durante uma coletiva de imprensa em Berlim. Disse ele: “De 1947 a hoje, Israel cometeu 50 massacres em aldeias e cidades palestinas. Cinquenta massacres, 50 holocaustos, e até hoje, e todos os dias há vítimas mortas pelos militares israelenses”. Suas palavras foram entendidas como uma reação ao pedido feito por um jornalista, momentos antes, de que Abbas se desculpasse pelo massacre dos reféns israelenses durante os Jogos Olímpicos em Munique, no ano de 1972 (na ocasião, morreram seis treinadores e seis atletas, além de um policial alemão e de cinco membros do Setembro Negro). A lembrança da brutalidade perpetrada talvez tenha aborrecido Abbas e provocado a reação discursiva. Em resposta, o chanceler alemão Olaf Scholz, presente na ocasião, escreveu posteriormente estar indignado com os “comentários ultrajantes feitos”. Reforçou, asseverando que, para os “alemães em particular, qualquer relativização da singularidade do Holocausto é intolerável e inaceitável; condeno qualquer tentativa de negar os crimes do Holocausto”. O que impressiona é a postura de muitos ao observar eventos como esse e continuar negando os sentimentos contra Israel presentes em muitos pronunciamentos de líderes mundiais, com a justificativa de que ‘os fatos não são bem assim’.

Que dizer, então, da presente dificuldade encontrada pelos israelenses (sabidamente amantes do futebol) ao tentarem acessar o site do Comitê Organizador da Copa do Mundo no Catar e consultar opções de pacotes de hospedagem para o torneio? Isso porque é necessário especificar o país de origem para fornecer a localização e obter vaga na agência oficial. Acontece que a busca pelo país não oferece a opção Israel, senão a de “Territórios Palestinos Ocupados” (os pacotes são vendidos pela Winterhill Hospitality). Nadav Tsinsafer, repórter esportivo do jornal Yedioth Ahronoth observou: “Milhões de israelenses estão assistindo atentamente aos torneios de futebol da Copa do Mundo, um dos maiores eventos esportivos do mundo. No entanto, ficou claro para eles que o próprio Israel não existe no site da FIFA para a Copa...”. Mesmo compreendendo a delicada relação entre os países (em 2020, o ministro das relações exteriores do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani descartou qualquer “possibilidade de seu país normalizar relações com a Síria e com Israel”), alguém poderia afirmar que ‘os fatos – ora presentes – não são bem assim’?

Em Israel, nas proximidades da sinagoga de Kever Shmuel (tumba do profeta Samuel), ao norte de Jerusalém, um homem judeu foi atacado por um grupo de manifestantes que gritavam e agitavam bandeiras da OLP. Se não fossem as forças de segurança, o homem, que se deslocara com o propósito de orar, teria sido pisoteado até a morte. Tais protestos têm sido recorrentes no local, habitado por imigrantes judeus do Iêmen desde 1890 e expulsos de lá em 1929. O Departamento de Estado dos EUA, em seu relatório anual sobre a liberdade religiosa no mundo, reconheceu Kever Shmuel como “um local considerado sagrado para os judeus”. No entanto, sobre o relatório, Stephen M. Flatow, em artigo para A voz judaica, declarou: “O relatório do ano passado reconheceu que Kever Shmuel ‘é um local sagrado pelos judeus’, mas o nome que o relatório usou para o local é “o local sagrado da Mesquita do Profeta Samuel” – dando assim primazia à presença de uma mesquita lá, mesmo que tenha sido construída mais de 1.600 anos depois que Shmuel foi ali enterrado”. Acrescentou: “O relatório do Departamento de Estado também tentou universalizar o Túmulo de Raquel, chamando-o de ‘um santuário de Belém de significado religioso para judeus, cristãos e muçulmanos’ [...] Parece que os judeus do mundo não podem contar nem com a mídia nem com o Departamento de Estado para prestar atenção aos ataques [...] aos fiéis judeus”. O autor, claramente, faz referência às constantes agressões sofridas por fiéis em Belém, bem como junto ao Túmulo de José, em Siquém. Vale lembrar que o costume de fazer orações junto aos túmulos dos patriarcas figura, para os judeus, como uma lembrança de suas vidas e seus exemplos, e que não é uma prática cristã evangélica, o que não impede nosso respeito às tradições religiosas desse ou de demais grupos. O espanto reside na observação da tentativa de se descaracterizar os locais como sendo marcos da história e da religião de Israel, muito embora algumas vozes possam dizer que ‘não é bem assim’.

Talvez, o mais estranho exemplo da postura que tenta, reincidentemente, minimizar os fatos e ignorar os males neles presentes, seja o conjunto de reações manifestas pela mídia internacional depois que, no último domingo de agosto, um grupo de fiéis judeus entrou no Monte do Templo, através do Portão das Tribos (localizado a nordeste do Monte, próximo da “Piscina de Israel” e da “Torre dos Filhos de Israel”) para orar, algo que não ocorria desde 1967 (Guerra dos Seis Dias). Escoltado, o grupo saiu pelo mesmo portão. O espanto deve-se ao fato de que os judeus apenas estão autorizados a usar o portão próximo ao Muro das Lamentações (Dung Gate, ou Portão do Estrume, também chamado Portão Mughrabi, ou portão dos Marroquinos, ou ainda Portão Silwan), para lá fazerem suas preces; mesmo assim são revistados e passam por detectores de metal. Os outros nove portões são reservados aos muçulmanos. É vedado o acesso ao Monte do Templo. “As visitas dos judeus ao Monte do Templo, o local mais sagrado do judaísmo, são limitadas no tempo e no espaço, bem como no número de visitantes permitidos [...] Embora os direitos dos judeus ao culto no local tenham melhorado nos últimos anos, ainda falta muito, e a plena liberdade de culto ainda não foi concedida pelo Estado de Israel aos visitantes judeus” (Aryeh Savir, 30 de agosto de 2022). De qualquer forma, a visita dominical mexeu com sensibilidades e deu margem a insinuações de respostas contrárias ao ato. Quem minimiza as reações, querendo supor que a religiosidade judaica desfrute de plena liberdade expressiva em Israel, talvez queira, no fundo, defender que inexista diferença na forma como os grupos envolvidos são tratados, ou que os conflitos resultantes das tensões existentes ‘não sejam bem assim’.

Querer ter acesso aos fatos como eles realmente ocorrem não significa alimentar disputas, tão somente obter a possibilidade de contemplar com clareza a dinâmica dos acontecimentos e poder apresentar-se como instrumento útil – inclusive na vida de oração – para a mudança das circunstâncias e do coração dos envolvidos. Infelizmente, a referida clareza dessas informações costuma ser-nos negada pela divulgação midiática marcadamente contrária a Israel. Resta-nos, por filtro, usar a desconfiança diante daquilo que nos é anunciado, quando nos querem convencer da inexistência dos ataques e das intenções inimigas. Um recurso possível é emprestar a fala do falso anunciador e refletir que, talvez, o que ele declara acusando Israel não seja bem assim. Isso levará o observador atento a ir mais a fundo na busca por informações, fora do raio dos noticiários já há muito contaminados. Recurso mais excelente é manter viva a lembrança nas promessas feitas por Deus a um povo e a uma terra, mesmo sabendo que tais promessas não se cumprirão pela força do braço, mas pelo poder do Deus que as formulou. Oremos pelos povos irmãos que habitam aquela região tão disputada. Oremos por salvação e por paz, pois, afinal, de todas as notícias que temos referindo-se a Israel, a mais atual e que nos alenta o coração é a inabalável certeza de que o Senhor, o Príncipe da Paz, voltará para ela. Ele anunciou e Ele é Fiel. É Ele o Amém, portanto, assim seja.

Por Sara Alice Cavalcanti.

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