Mindset do relacionamento conjugal

Estava lendo um livro sobre mindset (1) (mentalidade), onde a autora diz que a maneira como pensamos define nosso sucesso. Na leitura, me chamou a atenção a ideia de existir pessoas com mindset fixo: indivíduos que não alteram sua maneira de pensar, que não estão abertas ao desenvolvimento pessoal, diferentemente das pessoas de mindset de crescimento, que estão sempre em processo de desenvolvimento.

Enquanto lia o livro, diversos pensamentos começaram a vir à mente. Lembrei-me de amigos, colegas e conhecidos que se enquadram nesses modelos de mindset. Pessoas que simplesmente não evoluíram ao longo de anos, indivíduos que ainda possuem, por exemplo, a mesma maneira grosseira de tratar a esposa, de ensinar os filhos e de se reportar às pessoas em seu convívio social. Os tais ainda costumam dizer: “Esse é meu jeito de ser e pronto!”. Tal pensamento limita a competência de mudanças. Enquanto alguns perceberam que suas atitudes e comportamentos direcionados ao cônjuge estavam provocando consequências ruins e decidiram mudar, outros apenas estagnaram.

Os modelos de mindset fixo e de desenvolvimento estão presentes na vida de todos os casais. Conheci um casal que claramente transparecia o mindset fixo. O esposo acreditava que o comportamento firme é baseado no tratamento áspero e insensível com a esposa. Para ele, o esposo deve ser respeitado e obedecido, logo deve apresentar atitudes duras com quem diz amar. Passados alguns anos, ao reencontrar o casal, percebi, para minha tristeza, que a esposa estava a ponto de pedir divórcio, já não suportava mais a ausência de afeto por parte do esposo.

O mindset é algo que deve ser tratado diariamente em nós, pois não se limita apenas à vida profissional, mas está presente em todas as áreas de nossa vida, inclusive na vida conjugal. Não são poucos os que acham que casamento é sinônimo de prisão, fim do divertimento, fim do livre arbítrio e fim de seus planos pessoais. Mas será que o casamento é de fato tudo isso? Por que há pessoas que simplesmente andam fugindo do casamento? Afinal de contas, o casamento não deveria ser algo bom?

Há quanto tempo as pessoas se casam? Você já percebeu que essa prática remonta ao início da humanidade? Desde o primeiro casamento realizado por Deus entre Adão e Eva, as pessoas continuam se casando. Mas, por que as pessoas desejam tanto o casamento enquanto outras andam fugindo de tal compromisso?

E quando se sabe a hora certa para se casar? O que as pessoas pensam sobre o casamento? Qual o mindset solidificado na sociedade sobre o casamento? Poderia ficar fazendo perguntas sobre o casamento por horas, mas o que quero aqui é chamar você para uma reflexão: para cada uma das perguntas acima haverá uma resposta diferente. Por quê? Porque as pessoas possuem uma mente, uma forma de pensar diferente. Uma coisa, porém, é fato: em todas as culturas ao redor do mundo há casamento. O casamento é base para continuação da sociedade, seja ela qual for. Todavia, nenhum casamento é igual, pois existem diversas expectativas em volta do casamento. Para alguns, é uma forma de negócio; para outros, é apenas uma formalidade para satisfação sexual; em algumas culturas, o casamento é o momento mais esperado da vida de uma mulher. Há casamentos que custam uma fortuna, outros apenas o valor pago no cartório.

Há hoje casamentos fragmentados dos preceitos bíblicos, casamentos de pessoas do mesmo sexo, casamentos poligâmicos. Em nosso planeta, existem os mais variados tipos de casamentos.

Dentro da cultura cristã, o casamento é um divisor de águas para as vidas daqueles que estão contraindo o matrimônio. É um compromisso para toda a vida, por essa razão é visto com tanta importância. Todavia, na mente de muitas pessoas, o casamento pode ser desfeito a qualquer instante. Em momento de conflito, muitos veem o divórcio como a única opção. Por quê? Ora, o mindset é cultural, portanto a maneira de pensar a respeito do casamento é fruto de uma construção cultural, iniciada no seio familiar. Logo, entendemos que a razão pela qual muitos casais estão fracassando é em virtude da mentalidade sobre o casamento. A forma que esses casais foram ensinados a respeito do que é o casamento influencia diretamente a maneira de pensar, de valorizar e entender o verdadeiro propósito do matrimônio.

Quando olhamos para exemplos reais, o que mais ouvimos das pessoas, sejam nas redes sociais, em roda de amigos ou entre colegas de trabalho, são palavras que refletem uma mentalidade tendenciosa ao fracasso. Vejamos alguns exemplos.

“Ah, se não der certo separa!” - Já ouvi muitos dizerem isso. Se alguém entra no casamento com essa mentalidade, no primeiro sinal de conflito abandonará o matrimônio. No subconsciente a pessoa já está pré-disposta ao divórcio, ou seja, não fará esforços para manter uma relação saudável, não fará sacrifícios em prol da relação, não aplicará a empatia em momentos de discordância. É inteiramente necessário mudar esse tipo de mindset.

"O casamento é uma prisão!” - Entrar no casamento acreditando que é uma prisão gera um sentimento de querer fugir a qualquer momento. Por mais que algumas pessoas digam essa frase em tom de brincadeira, essas palavras são absorvidas pelo cérebro. Este, por sua vez, não diferenciando o que é verdade ou mentira, aos poucos vai enraizando essa afirmativa na mente, que posteriormente influenciará o comportamento. É extremamente importante o que falamos a respeito do casamento e a respeito de nosso cônjuge. Acreditar que o casamento é uma prisão nunca lhe proporcionará felicidade. 

“Não dê o braço a torcer no casamento!” - É comum ouvir mulheres e homens argumentando que não se pode baixar a cabeça para o cônjuge na relação, no sentido de aceitar que o outro está certo. Isso acontece principalmente em relacionamentos marcados pela disputa de quem está certo e quem está errado. Pessoas que não aceitam quando estão erradas e se sentem desconfortáveis ao aceitar a palavra do outro possuem um mindset direcionado à superioridade. Pessoas assim foram ensinadas que não podem se sujeitar a ninguém, precisam ser independentes em tudo, então, quando casam, levam o mesmo pensamento para a relação e apresentam comportamento de competição. Dentro da relação conjugal, não existe “você errou”. Se um erra, ambos erraram, pois a responsabilidade pesa sobre ambos. Esse mindset deve ser alterado para um mindset de coletividade, união, compartilhamento e humildade. Há muitos outros mindsets que podem ser prejudiciais na relação conjugal.

A razão de tantos casais estarem contraindo o divórcio começa na existência de conflitos. Infelizmente, poucos aprenderam como lidar com os conflitos no casamento e essa falta de conhecimento faz com que cada cônjuge aja da forma que aprendeu. E onde eles aprenderam? A maioria de nós aprendeu a lidar com os problemas da forma como nossos pais lidavam, outros aprenderam com vizinhos, outros com amigos do trabalho, outros com parentes, e por aí vai. São nesses ambientes que formamos nosso mindset.

As mudanças que você já fez ao longo de sua vida foram fáceis ou difíceis? Até onde sei, toda mudança significativa não é fácil, pois exige a saída de uma zona de conforto. Mas algumas mudanças são necessárias. Mudar a forma de pensar não é simples. Uma nova mentalidade exige novos entendimentos, e estes são construídos através de novos saberes. Alimente sua mente com aquilo que afirma a Palavra de Deus.

(1) DWECK, Carol S. Mindset: A nova Psicologia do Sucesso. 1ª ed. – São Paulo: Objetiva, 2017.

Por Auricléssio Lima.

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