Guardião dos muros para um tempo de ataques

Guardião dos muros para um tempo de ataques

O mês de agosto mostrou-se, desde o seu início, um período de agitações e ameaças no sempre instável clima político do Oriente Médio. Como parte da “Operação Amanhecer”, 140 alvos da Jihad Islâmica situados na Faixa de Gaza foram atingidos por Israel, resultando na morte de vários líderes da organização ou, segundo expressão usada por Oded Basiuk, chefe do departamento de operações das Forças de Defesa de Israel — FDI, a “elite de segurança da Jihad”, dentre eles, Ziad Al-Midallal, filho de um líder sênior e Khaled Mansour, líder responsável pelas ações realizadas na área sul, cujo nome esteve envolvido em dezenas de incidentes com foguetes, bombas e mísseis antitanques lançados contra Israel. Durante a “Operação Guardião dos Muros” ocorrida em 2021, por exemplo, somente ele foi responsável pelo lançamento de algumas centenas de mísseis e pela morte de muitos israelenses. Mais recentemente, planejava a instalação de mísseis antitanques 120 longo da região fronteiriça, como uma muralha impenetrável para as tropas inimigas.

Como de costume, a mídia internacional, culpou a ação militar impetrada pelas Forças de Defesa pela morte de crianças em Gaza, ‘esquecendo-se’ convenientemente de, posteriormente, desmentir a acusação diante das provas apresentadas de que ocorrera, de fato, um auto-ataque a partir da região, revelando, mais uma vez, descuido para com as vidas e falhas técnicas. Declarou Basiuk: “A Jihad Islâmica dispara centenas de foguetes; uma parte significativa dos quais atinge o interior da Faixa de Gaza [...]. A organização não só põe em perigo as vidas israelenses, mas também prejudica os [habitantes locais]”. No "The Jewish Voice " pudemos ler que: “Na noite de sábado [logo após as operações], o IDF apresentou evidências em vídeo de que um ataque de foguete fracassado da Jihad Islâmica foi responsável pela morte de várias crianças em Jabalia, ao norte da cidade de Gaza, contrariando as alegações árabes de que um ataque israelense causou as referidas mortes”.

As tensões aumentam quando às vozes locais somam-se outras, a partir do Hezbollah, no sul do Libano, declarando que seus integrantes estão atentos às movimentações de Israel e prontos a unirem forças aos militantes de Gaza. A principal ameaça reside em um possível ataque aos dutos de óleo natural de Israel, situados no Mediterrâneo, sendo eles fonte e promessa de riqueza para o país. Tentativas de atemorização desse tipo, num momento em que a Europa examina todas as possibilidades de aumentar o leque de seus fornecedores de combustível não são desprezíveis e mantém o governo israelense em constante estado de alerta.

A movimentada região do Crescente Fértil sempre exigiu atenção. Por causa disso, escavações arqueológicas comprovaram que a presença das antigas torres, tenham sido elas erigidas para a proteção das lavouras e dos pastos, quanto para a defesa de cidades maiores. W. F. Albright encontrou, em Tell el-Full, os restos da antiga torre de esquina que fazia parte dos muros da cidade nos dias do rei Saul. Em Tell Beit Mirsim, mais ao sul, foram encontrados os restos de uma torre de portão, um tipo de construção que, nos dias antigos, dava acesso a um pátio com seis salões para a recepção de hóspedes. Também eram comuns as torres semelhantes às de Tell em-Nasbeh, construídas em sequência, com uma distância de aproximadamente 32 metros entre elas. Algumas eram quadradas, outras cilíndricas. Algumas ficavam isoladas, outras inseridas nos muros, dos quais, por vezes, projetavam-se em direção ao exterior por cerca de dois metros. Também eram comuns que as torres comportassem espaço para verdadeiras cidadelas, ultrapassando a condição de hospedaria para algum viajante, para alcançar a posição de refúgio final para todo um povo no caso de um avanço de tropas adversárias.

Cada ‘migdal’ (torre) não podia prescindir de seu ‘tsofeh’ ou ‘shomer’ (guarda, guardião), ou vigia. Ele era comumente chamado de ‘shomer hachomot’ (lê-se: /shomêr arromot/), que significa ‘guardião dos muros’. Contra animais ferozes, aproximação de pessoas desconhecidas ou para denunciar movimentos hostis, o vigia tinha papel preponderante para a defesa da cidade. Quando as muralhas, comumente erguidas com seus dois terços inferiores de pedras, sendo a parte superior complementada por tijolos cozidos, não continha o avanço inimigo, restava à torre ser o baluarte da resistência, a estratégia de defesa secundária, a esperança de proteção para o restante das tropas, para os sobreviventes dentre o povo e para a família real.

Ainda hoje há, na região montanhosa central de Israel, uma torre que, provavelmente, foi uma daquelas construídas pelo rei Uzias: “Também Uzias edificou torres em Jerusalém, à Porta da Esquina, à Porta do Vale e aos ângulos e as fortificou. Também edificou torres no deserto...” (2Cr 26.9 e 10a). O rei, grande líder militar, conquistador dos filisteus, dos árabes e dos amonitas, teve o reinado mais longo dentre os reis de Judá ou de Israel. Foi um edificador, fortaleceu o exército da nação, possuiu muito gado e amava a agricultura. Infelizmente, morreu leproso, sendo-lhe vedado o sepultamento junto aos outros reis, na cidade de Davi. O início de seu desvio, invadir o Templo e queimar incenso no altar, é relatado de forma poética e eufêmica no versículo 16 do capítulo 26 (2Cr): “Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper...”. O soberano, que tantas obras edificou para fortalecer sua nação, partiu para um projeto pessoal, de auto-edificação, sendo fortificado como torre de vaidade, violando o lugar sagrado e irando-se contra os sacerdotes do Senhor.

A construção de muralhas e de torres não pode prescindir – repito – da pessoa do vigia e da atitude de vigilância. O salmista expressa essa postura atenta, que chega a ser cansativa e gerar uma ansiedade, especialmente pelo amanhecer e, certamente, pela mudança do turno da guarda: “A minha alma anseia pelo Senhor mais do que os guardas pelo romper da manhã. Mais do que os guardas pelo romper da manhã” (Sl 130.6). Para o exausto guarda noturno, o amanhecer traz descanso, para os que iniciam a jornada, desafios.

A “Operação Amanhecer” nada mais foi do que a conclusão da “Operação Guardião dos Muros”, ou Operação “Shomer Hachomot”, e o nome dado pelas Forças de Defesa de Israel está baseado em Isaías 62.6, 7: “Sobre os teus muros, Jerusalém, designei vigias. Durante todo o dia e toda a noite, eles nunca ficarão em silêncio. Vocês, que professam o nome do Senhor, não descansem para vocês mesmos – e não deem a Ele descanso até que Ele estabeleça e faça de Jerusalém um objeto de louvor na terra”. O nome da operação militar não aponta para o fim da vigilância, mas para o término de uma etapa de ataques iniciada em 2009, aumentada em 2010, aparentemente pausada, mas nunca concluída, e que, agora, alcança ao menos a certeza de que os principais objetivos foram alcançados.

Miriam Peretz, renomada educadora, em declaração à Rádio Kan, declarou que a ocasião não lhe trazia “nenhuma alegria ou felicidade”: “Não há alegria neste dia, que é um dia de destruição nacional e também um dia de destruição pessoal”. Para compreender suas palavras, precisamos conhecer que a senhora Miriam perdeu seu filho Uriel nos combates contra o Líbano em 1998; doze anos depois, perdeu seu outro filho, Eliraz, jus-tamente em um dos muitos ataques comandados por Mansour. Eliraz aniversariaria no dia 8 do mês judaico de Av; Mansour foi morto no dia 9 do mesmo mês judaico. Aliás, a data é considerada a mais triste do calendário hebreu, pois marca a destruição de dois templos bíblicos, daí a referência que Peretz faz à ‘destruição nacional’ – a véspera de Tisha b’Av era o aniversário de seu filho. Mas, observemos a continuidade da postura vigilante, quando Miriam Peretz faz menção aos seus quatro netos, filhos de Eliraz: “Eles cresceram e continuam a viver em Israel. Eles estão prestes a se alistar nas IDF e estão levando adiante o mesmo espírito. Ele [o inimigo] não quebrou o nosso espírito – e essa é a nossa vitória”. Apesar de suas dores como mãe e avó, Miriam Peretz sabe que Israel somente sobreviverá se continuar mantendo sua postura de vigilância de inabalável atenção. Alguns guerreiros substituirão outros, alguns vigias montarão guarda enquanto outros descansarão, mas as muralhas e as torres precisam permanecer guarnecidas.

Como de costume, aplicamos os acontecimentos que se desenrolam nas amadas terras bíblicas à nossa caminhada procurando servir ao Senhor. Construindo muralhas e torres (que não sejam as da vaidade), cumprindo os turnos a nós designados, fortalecendo aqueles que estão cansados das longas vigílias, despertando ao alvorecer para também vigiarmos e, humildemente, orando para que sejam formados e despertos aqueles que nos substituirão, sigamos vigilantes em todo o tempo. Talvez a vitória demore a vir, ou pareça demorar, mas virá. Nosso inimigo não é de carne ou sangue, mas opera incansavelmente contra nós, contra a Igreja, contra o Nome Santo do Senhor. Pois, justamente, o nome contra o qual ele peleja é a nossa verdadeira torre, nossa muralha sobremodo resistente, a proteção, o Shomer Hachomot de Israel.

Por Sara Alice Cavalcanti.

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