Chamada do profeta Jeremias (1ª parte)

Chamada do profeta Jeremias (1ª parte)

O profeta Jeremias é conhecido por ser muito emotivo, por isso é apelidado de “Profeta das Lágrimas”. Escolhido desde o Ventre materno, ele era de família sacerdotal. Quanto ao temperamento, era completamente diferente de Paulo e Ezequiel. Ele teve um ministério longo, de mais de 40 anos, e profetizou em um dos períodos de maior apostasia do povo de Deus, porém sua base e formação espiritual se deram nos dias do piedoso rei Josias, quando Judá viveu o maior avivamento de sua história desde que o Reino de Israel foi dividido. Essa boa base Ihe deu condições para enfrentar o terrível período de apostasia de Judá e a consequente ida ao cativeiro.

A exemplo de Paulo, que enfrentou ameaças de morte, apedrejamento, açoites, perseguições, prisões e falsos apóstolos, Jeremias enfrentou ameaças de morte, prisões, maus tratos, ameaças de apedrejamento e perseguição de seus irmãos e dos falsos profetas.

O mundo de Jeremias

A geografia do Oriente Médio sempre exerceu influência sobre a política da região sírio-palestina, e isso aconteceu sem dúvida no tempo de Jeremias. As terras de Judá sempre foram disputadas por superpotências ao norte ou ao sul, que competiam pelo domínio da região. Judá sempre precisava se adaptar às mudanças políticas: o declínio do império assírio, um breve período de domínio egípcio e, a seguir, o cruel domínio do império babilônico. Saber quem apoiar e como fazer isso sempre foi uma dificuldade para os reis de Judá.

Judá também experimentou rebelião interna. Quando o rei Josias introduziu amplas reformas religiosas, elas tiveram apoio apenas parcial de seus súditos, de maneira que, nos reinados seguintes, caíram no esquecimento e várias influências estrangeiras ressurgiram. Embora Josias tenha reinado com sabedoria e justiça, o mesmo não pode ser dito de seus sucessores. Uma pressão externa cada vez maior e inquietação e confusão internas constantes demonstram que, em seus anos finais, Judá foi jogado de uma crise a outra.

Em 745 a.C, houve uma expansão da potência mesopotâmica que durou mais de um século, dominando todo o Oriente Médio, subjugando cidades e reinos, inclusive Israel, no reinado de Manaém, impondo uma relação de vassalo que o obrigava a pagar tributo e fornecer soldados quando exigido. O estado satélite continuava a ser dirigido por seu rei, mas se ele se envolvesse em qualquer atividade subversiva, haveria imediata intervenção militar assíria para depô-lo e instalar um governante mais submisso. Nesse ponto, o território seria reduzido; o valor do tributo, aumentado; a política externa do governante, monitorada de perto; e vários membros da nobreza, transportados para partes distantes do império a fim de serem usados como reféns contra o comportamento futuro do país. Ao menor sinal de inquietação no território vassalo, seu governante era removido e sua independência completamente eliminada. Um governante assirio com uma equipe de apoio era designada para aquilo que era agora uma província totalmente anexada ao império assírio. Havia grandes deportações das classes mais altas da nação e a introdução de povos estrangeiros na região para diluir a possibilidade de rebelião.

Oséias, o último rei de Israel, decidiu suspender o pagamento de tributos à Assíria, provocando imediata reação. Samaria foi cercada por três anos e tomada em 722, sendo incorporada à Assíria. Houve deportações imediatas de Samaria para várias partes da Babilônia e Média, seguidas do estabelecimento forçado de estrangeiros na terra, que trouxeram seus deuses e santuários.

Judá não foi assolada na mesma época que Samaria, mas não porque buscou a ajuda divina, mas porque o rei Acaz (743-715) foi a Damasco e prestou reverência aos deuses assírios em um altar 

de bronze, trouxe uma cópia do mesmo e mandou colocá-la dentro do Templo de Jerusalém, deixando, ao morrer, para seu filho Ezequias, um reino cercado pela Assíria e em total estado de dominação. Aos 11 anos de idade, Ezequias subiu ao trono, iniciou as reformas religiosas, reabrindo o Templo, que estava fechado; celebrou a Páscoa e se empenhou para integrar os israelitas restantes do norte na adoração em Jerusalém. Ele acabou se rebelando contra a Assíria e a resposta foi devastadora. Orei da Assíria tomou 46 cidades de Ezequias e anexou-as, forçando-o a pagar tributos, mas Deus deu um grande livramento no cerco a Jerusalém. Com esse livramento, 10 povo passou a entender que Judá seria diferente, não seria como o Reino do Norte, pois possuía o “Templo e a descendência de Davi para assegurar a bênção divina. Judá ainda não havai sido reduzida a uma província assíria.

Veio, então, o reinado de Manassés, filho de Ezequias. Com 12 anos, ele já era co-regente. A terra continuaria a pagar tributos a Assíria e a fornecer soldados quando exigido. No governo de Manassés, a Assíria atacou o Egito, utilizando o território da Palestina como acesso para seus exércitos. Não restava outra alternativa para Judá senão continuar como vassalo. Mas Manassés fez muito mais. Ele se voltou à política pró-Assíria de seu avô Acaz e isso não foi apenas sujeição política, mas o reconhecimento dos deuses da Assíria. Ele abriu as portas para todos os tipos de práticas religiosas abusivas, cancelou as medidas reformistas de Ezequias, permitiu a restauração dos santuários locais e deu rédeas soltas às antigas práticas cananitas, inclusive o culto a Baal e Aserá; ele tolerou cultos à fertilidade, com sua prostituição até mesmo nos recintos do Templo. Ao oferecer seu filho no fogo, o rei Uma vez que a aliança foi rejeitada, a violência e a injustiça se alastraram por toda parte. A enormidade da má conduta religiosa e social de Manassés constituiu o fundamento adequado para o julgamento que subsequentemente caiu sobre a nação. Embora Manassés tenha terminado com um retorno pessoal ao Senhor, seu filho Amon seguiu a política pró-Assíria, promovendo a antiga política religiosa. Amon reinou por pouco tempo antes de ser assassinado (2 anos), provavelmente por oficiais de alto escalão que podiam estar tentando organizar uma revolta anti-Assíria. O povo interveio e os assassinos foram executados, e Josias, com 8 .anos de idade, neto de Manassés, foi colocado no trono. Jeremias nasceu por volta dessa época.

Em meio a batalhas contra o Egito, orei da Assíria morre e seu reino é dividido entre seus dois filhos, Assurbanipal, rei de Nínive, e Shamassi, rei na Babilônia. Coma morte de Assurbanípal, o rei da Babilônia, um caldeu chamado Nabopolassar, se rebelou , tendo derrotado as forças assírias em 626, declarou-se rei da Babilônia. Finalmente, em 612, Nínive caiu e se levantou o Império Babilônico de Nabucodonosor.

Foi durante o período do colapso do poder assírio que Josias se tornou rei (640 a.C), quando tinha apenas 8 anos de idade. Durante sua menoridade, o governo da terra ficou nas mãos dos principais membros da corte. Esses homens tinham sentimentos anti-assírios e desejavam reafirmar a identidade nacional de Judá em oposição aos seus odiados dominadores, logo também eram simpatizantes da adoração ao Senhor. No oitavo ano do reinado de Josias, quando ele tinha 16 anos de idade, ele começou a buscar o Senhor e, quatro anos mais tarde, aos 20 anos, começou a purificar Judá e Jerusalém. Seis anos depois, iniciou a reforma do Templo, onde foi encontrado o Livro da Lei. Após encontrar o Livro da Lei, ampliou as reformas religiosas, o uso de lugares altos foi eliminado, renovou a aliança com o Senhor, celebrou a Páscoa em Jerusalém e também procurou ampliar a purificação para o território do antigo Reino do Norte, destruindo os ídolos encontrados.

Josias teve um embaraçoso fim de vida ao enfrentar o faraó Neco, que se dirigia contra as forças da Babilônia. Josias tentou atacar o faraó Neco, com o objetivo de demonstrar lealdade à Babilônia e obter vantagens para Judá, mas acabou morto pelas forças do Egito, que dominaram Judá. Seguem então os reinados de Joacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias, com a invasão e queda de Jerusalém em 586 a.C. Babilônia cai em 539 a.C por Ciro, que autoriza a volta dos judeus a Jerusalém (Esdras 1.9-11; 6.13,14).

A vida de Jeremias

Filho de Hilquias, um sacerdote que viveu em Anatote, podendo ser descendente de Abiatar (banido para Anatote por Salomão), ou de outras famílias levíticas, a família tinha uma propriedade na região, portanto tinha alguma condição financeira. Embora fosse de família sacerdotal, não consta que tenha exercido o sacerdócio, pois vinte anos era a idade em que os levitas começavam seu ofício, portanto estava abaixo de 20 anos por ocasião de sua chamada. Também não era casado e em uma família de sacerdote a idade de casamento para o homem era de 20 anos, portanto Jeremias tinha cerca de 18 anos por ocasião do início de seu ministério público, tendo nascido nos anos finais do reinado de Manassés (645 a.C).

Seu ministério começa por volta da época da morte de Josias, sendo seu chamado por volta de 12 a 13 anos e somente aos 18 anos ele inicia seu ministério público. Na juventude, certamente era um estudante na escola de escribas em Jerusalém.

Sendo Hilquias um sacerdote, Jeremias teria recebido, desde seus primeiros dias, instrução sobre as tradições sagradas de Israel. Visto que Anatote estava dentro do território de Benjamim e não era longe de Siló, é provável que tenha aprendido a história do norte e do sul, bem como se familiarizado com a advertência solene dada sobre as consequências da apostasia. Ele também estava consciente, em seus anos de formação, da história mais recente de seu povo, inclusive sobre o que ocorreu no reinado de Manassés e Amon.

O que faziam os sacerdotes de Anatote? É improvável que ministrassem nos lugares altos. Sua proximidade com Jerusalém sugere que participavam do serviço no Templo. É provável que, na sua juventude, Jeremias, como aprendiz de sacerdote, tenha frequentado a escola de escribas em Jerusalém, presidida por Safã. Em sua formação, Jeremias se familiarizou com as tradições da comunidade da aliança.

Durante o reinado de Josias, parece que o ministério de Jeremias foi amplamente favorável à política oficial de reforma religiosa. Porém o profeta sabia que as mudanças nas estruturas religiosas externas não substituía a mudança interna do coração. O registro do início do ministério de Jeremias mostra a essência de sua mensagem: mudança de coração e não apenas mudança externa. A nação estava contente com as pompas da religião e não conseguia enxergar a necessidade de arrependimento. Afinal, a terra já não tinha sido purificada das práticas ofensivas de tempos passados e o Templo não tinha sido restaurado? A reforma de um edifício (o Templo) tinha tomado o lugar da devoção pessoal ao Senhor.

Por Paulo Morais.

Compartilhe este artigo com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem