A síndrome de Labão

A síndrome de Labão

O texto de Gênesis 24.29-31 nos diz “E Rebeca tinha um irmão cujo nome era Labão, o qual correu ao encontro daquele homem até a fonte. E aconteceu que, quando ele viu o pendente, e as pulseiras sobre as mãos de sua irmã, e quando ouviu as palavras de sua irmã Rebeca, que dizia ‘Assim me falou aquele homem’, foi ter com o homem, que estava em pé junto aos camelos, à fonte, e disse: “Entra, bendito do Senhor; por que estás fora? Pois eu já preparei a casa, e o lugar para os camelos”.

Esse texto é significativo. Embora visto isolado ou como uma parte natural da narrativa de todo o capítulo 24, ele expõe uma das grandes fragilidades humanas: o poder da barganha, do interesse financeiro por trás de ações e reações. O que chamo de “A síndrome de Labão” é uma reflexão sobre um lado feio do ser humano: a ganância.

O personagem em foco aparece pela primeira vez na Bíblia no episódio em que Abraão enviou seu servo a Harã para encontrar uma esposa para seu filho Isaque. Labão se impressionou e se interessou pelos presentes valiosos que o servo do patriarca tinha consigo. Rapidamente Labão concordou e o encorajou a se hospedar de forma fidalga e consequentemente à realização do casamento (Gênesis 24.22-53).

O perfil psicológico de Labão revela que ele era um homem de duplo caráter. Por um momento era astuto e tendencioso à cobiça, com capacidade de fazer qualquer coisa para alcançar suas vontades. Ele também reconheceu o poder do Deus de Abraão, Isaque e Jacó, mas não abandonou sua idolatria, permanecendo politeísta, conforme configurado em Gênesis 24.50; 30.27; 31.30,53.

O fato de Rebeca receber joias e presentes despertou Labão a ir ao encontro do servo de Abraão, uma reação a uma atitude fundamentada no desejo de se dar bem. Quem pensa assim faz de tudo para oferecer algo que jamais ofereceria a quem com menos favorecimento necessitasse. O mundo está cheio de bajuladores que, em outras palavras, são canteiros de corrupção. O capitalismo imprime em algumas pessoas a ideia de que a felicidade floresce de tudo o que se possui; por isso, é frenético o corre-corre por bens e posições. A vida de Labão se resumiu no culto ao egoísmo. Seu objetivo central era cuidar de si mesmo; a forma de tratar os outros era limitada e controlada por esse objetivo. Tudo girava em torno de si. Labão não prezava a humanidade; ele via o semelhante como um meio para lucrar, um meio de vantagem.

Externamente é difícil reconhecermos que somos iguais a Labão, mas o seu perfil egoísta está presente em todos os seres humanos; afinal, a raiz de todo pecado está em nós (Romanos 3.10; 5.12). A sociedade de hoje expõe de forma clara como o tratamento dado às pessoas geralmente se dá na espera de benefícios. Há uma troca de favores. Dessa forma, cargos, posições e oportunidades podem ser negociadas em um jogo de vantagens mútuas. As benesses funcionam como moedas de trocas (poder etc).

O egoísmo se ativa pela visão, seja ela física ou mental: tendo Labão “visto o pendente, e as pulseiras sobre as mãos de sua irmã”, oportunizou a entrada do servo. Consideremos essa cena em outro contexto: o servo sem nada, vestido em roupas simples, com mãos vazias. O que teria acontecido? Você já tratou alguém diferente porque analisou que o tal não tinha muito a lhe oferecer?

Por fim, o personagem Labão lucrou financeiramente ao depois usar Jacó, mas nunca foi beneficiado espiritualmente. A exploração humana é prejuízo espiritual. Paulo afirmou que, em Cristo, o “morrer é lucro” (Filipenses 1.21). Que a graça de Cristo habite em nós de maneira abundante. Shalom!

Por Isaac Moura.

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