O que quer dizer “até mesmo os loucos não errarão”?

O que quer dizer “até mesmo os loucos não errarão”?

Qual a correta interpretação da passagem bíblica de Isaías 35.8, que fala sobre os loucos não errarem o caminho?

O texto de Isaías 35.8 possui a gloriosa promessa de um caminho excelente e perfeito. A referência de que “até mesmo os loucos não errarão” este caminho é significativa e salta aos olhos. Mas, o que realmente isso quer dizer? Qual o sentido de “loucos” aqui e a quem a Bíblia está se referindo?

A natureza dessa profecia diz respeito ao futuro glorioso que Deus tem preparado para o Seu povo, com promessas de renovação da alegria (vv.1,2), do fim do sofrimento (vv.3-7) e de um “Caminho Santo” (vv.8-10). A análise aqui proposta é parte da promessa a respeito desse caminho, que, de acordo com alguns estudiosos, é a promessa chave para a compreensão de todo este capítulo.(1) Caminho tem relação com o modo ou padrão de vida e, ao referir-se a um “alto caminho”, o texto aponta para uma elevada e nova maneira de viver. Acerca desse caminho, Matthew Henry indica quatro aspectos que o caracterizam: a) ausência de sofrimento; b) separa os santos dos imundos; c) caminho reto; e d) segurança plena.(2) Essa promessa prevê a renovação da esperança do povo de Deus, além de um tempo de alegria perfeita e prosperidade plena. Destaca-se que essa é exclusivamente para um povo cuja vida é oposta aos que são chamados de “imundos”. Portanto, nesse sentido, esse texto é excludente e visa renovar as promessas ao povo de Deus e advertir para que os homens se arrependam e se voltem para Deus. Aqui essa análise alcança o seu ponto central, no qual visa a dirimir dúvidas sobre a referência feita pelo profeta de que “até mesmo os loucos” não errariam o caminho prometido. Mas, a quem o profeta se refere ao usar o termo “loucos”?

Há quem afirme ser uma referência aos que possuem algum transtorno mental ou mesmo a pessoas simplórias, com baixa capacidade intelectual. Contudo, isso não se sustenta à medida que avaliamos o contexto e o real sentido do texto (o que não significa dizer que Deus não possa salvar e salve deficientes mentais, mas esse texto não trata disso). Há duas formas pelas quais essa pergunta pode ser respondida.

A primeira é perguntando: “loucos” aos olhos de quem? O apóstolo Paulo afirma que os incrédulos classificam a mensagem do evangelho como “loucura” (1 Coríntios 2.14). Aliás, por se dedicarem irrestritamente ao Senhor, os apóstolos foram considerados loucos (1 Coríntios 4.10-13). Portanto, há quem defenda que esses “loucos” seriam os que são vistos como tais pelos que não servem a Deus. A segundo forma como essa pergunta pode ser respondida é perguntando: qual o sentido usado para “loucos” nessa passagem? O sentido dessa expressão é “estultícia”, que na Bíblia geralmente traz a ideia do comportamento leviano de uma criança imprudente e que precisa ser corrigida pelos pais. Nesse caso, é possível que o profeta esteja advertindo Israel por sua teimosia, mesmo porque há muitos textos bíblicos nos quais se percebe essa referência em determinados momentos da história desse povo (Salmos 75.4; 92.6; 94.8; Jeremias 4.22; 5.4; 10.8 etc.).

Conclui-se então que, embora a primeira possibilidade exposta acima seja plausível, entretanto a segunda opção, na qual defende o termo “loucos” como uma referência à teimosia de Israel, é a mais aceitável, haja vista que o capítulo 35 é um registro de uma promessa de restauração desse povo. Além disso, algumas lições podem ser extraídas desse texto: a) O Senhor é Deus de restauração; b) há uma promessa de uma vida (caminho) perfeita para os que temem a Deus; c) todos, indistintamente, que temerem a Deus desfrutarão dessa vida prometida; d) ainda que com falhas, mas havendo arrependimento, o Senhor é Deus misericordioso.

(1) PRICE, Ross E. Comentário Bíblico Beacon. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2005, p 111.

(2) HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2018, p. 162,163.

Por Elias Torralbo.

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