Milagre da multiplicação ou partilha de alimentos?

Milagre da multiplicação ou partilha de alimentos?

Há quem diga que, no milagre da multiplicação, quando o moço ofereceu seus 5 pães e 2 peixes, outras pessoas também fizeram suas doações. Assim, toda a multidão comeu e sobejou. Essa sugestão faz algum sentido ao lermos o relato bíblico sobre esse episódio?

Pelo que se depreende da pergunta, a passagem bíblica em foco é a registrada pelo evangelista João, que dá conta de que André, irmão de Simão Pedro, disse estar no meio da multidão um rapaz que tinha “cinco pães de cevada e dois peixinhos” (João 6.1-15). É importante, a partir deste ponto, citar que, com algumas pequenas diferenças de autor para autor, sem contradições, o relato da primeira multiplicação dos pães e peixes está registrado não apenas em João, mas também nos outros três evangelhos: Mateus, Marcos e Lucas (Mateus 14.13-21; Marcos 6.30-44; Lucas 9.10-17). E em todos os textos bíblicos referentes ao acontecimento, nenhum dos evangelistas apresenta qualquer margem de possibilidade de que o ocorrido ao final da tarde naquele deserto não tenha sido um milagre. O que aconteceu ali não foi o compartilhamento das porções de alimentos que muitos da multidão tinham consigo, seguindo o exemplo do rapaz, por vários fatos claros.

Primeiro, João não registra ter havido manifestação de mais nenhum discípulo falando de outras pessoas com mais alimentos, mas apenas o rapaz citado por André. Nem o próprio André disse haver mais gente com comida entre a multidão.

Segundo, Marcos deixa claro que os discípulos pediram ao Senhor para despedir os que ali estavam para irem “aos campos e aldeias circunvizinhas” comprar comida, pois não tinham o que comer (Marcos 6.36).

Terceiro, todos os evangelistas confirmam que a quantidade total de pães que dispunham era apenas cinco e que os peixes eram apenas dois. “Não temos senão cinco pães e dois peixes...” (Mateus 14.13); “E ele disse-lhes: Quantos pães tendes? Ide ver. E, sabendo-o eles, disseram: Cinco pães e dois peixes” (Marcos 6.38); “Não temos senão cinco pães e dois peixes...” (Lucas 9.13).

Em quarto lugar, não havia mais alimento além daquele, pois todos os quatro evangelhos dizem que Jesus orou abençoando apenas os cinco pães e os dois peixes, não mais que isso. “E, tomando os cinco pães e os dois peixes e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão” (Mateus 14.16); “E, tomando ele os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu, e abençoou, e partiu os pães, e deu-os aos seus discípulos para que os pusessem diante deles. E repartiu os dois peixes por todos” (Marcos 6.41); “E, tomando os cinco pães e os dois peixes e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos seus discípulos para os porem diante da multidão” (Lucas 9.16); “E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos, pelos que estavam assentados; e igualmente também os peixes, quanto eles queriam” (João 6.11). Veja que o evangelista Marcos diz que Jesus “repartiu os dois peixes por todos” – apenas dois, não mais peixes, pois não havia. Da mesma forma foi feito com os cinco pães, repartidos por todos. E esses “todos” citados, servidos pelos discípulos, eram quase 5 mil homens (Mateus 14.14; Mc 6.44; Lucas 9.14; João 6.10). O milagre pode ser visto também na abundância do que sobejou: doze cestos cheios de pedaços de pão e de peixe.

Por fim, em João 6.14, vemos pessoas confirmando que o que aconteceu naquele deserto havia sido um milagre: “Vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam: Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo”.

Na segunda multiplicação, da mesma forma, o que aconteceu foi um milagre (Mateus 15.29-39; Marcos 8.1-9). Naquela ocasião, Jesus alimentou uma multidão de “quatro mil homens, além de mulheres e crianças” (Mateus 15.38) a partir de sete pães e uns poucos peixinhos. Além disso, o evangelista Marcos registra uma exortação do Mestre aos discípulos por não compreenderem os milagres das multiplicações (Marcos 8.14-21).

Por Francisco Edilberto da Silva.

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