O tempo que nos resta com nossos pais

O tempo que nos resta com nossos pais

O relacionamento entre pais e filhos vai se modificando ao longo do tempo. Quando os filhos são pequenos, os pais são jovens e fortes, têm sonhos, projetos, às vezes estão iniciando a vida financeira ou profissional, e os filhos pequenos se envolvem nesses projetos também. Mas, conforme o tempo vai passando, os filhos crescem e os pais envelhecem. Neste texto, queremos refletir sobre a importância de se valorizar o tempo que nos resta com nossos pais. É importante lembrar que, nesse processo, muitos filhos podem ter mágoas e os pais têm temores ou remorsos, mas é fundamental que ambos possam valorizar e cultivar esse tempo “mágico”.

Os filhos também devem monitorar o sentimento de egoísmo, pois, ao estarem envolvidos em projetos e conquista de sonhos, podem ter pouco tempo para estar com os pais. O que muitas vezes acontece depois que os pais morrem é um sentimento de culpa, por não terem valorizado e priorizado a companhia deles.

Relação pais e filhos

A relação pais e filhos inicia na concepção e se estende até o final da vida. É uma relação muito forte e pode ser constituída tanto de amor como de mágoas e temores. Segundo Oliveira (2007), é muito importante que pais e mães possam ser amigos dos seus filhos, mas, antes de qualquer outra coisa, por amor a seus filhos, os pais têm o dever de educá-los, de colocar limites e estabelecer proibições. Para ela, é importante que os pais sejam amigos mais próximos, mas os filhos também precisam de pais que saibam dizer não, estabelecer o que é certo e o que é errado, e quais os limites que precisam ser seriamente respeitados.

É importante salientar que não há como ser um bom pai ou uma boa mãe só esperando serem amados por seus filhos. É preciso, muitas vezes, suportar a frustração de ser odiado por seu filho num dado momento, para o próprio bem dele e o futuro, ainda que isso, na maioria das vezes, custe muito caro aos corações dos pais.

A relação entre pais e filhos vai se modificando com o tempo. Quando criança, os filhos veem os pais como heróis; na adolescência, já os veem como competidores; e na maturidade, com admiração. O tempo passa muito rápido e muitos pais nem percebem que os filhos já cresceram e os filhos não percebem que os pais envelheceram.

Um dia, quando nos damos conta, não somos mais nós que precisamos dos cuidados dos pais, mas, sim, eles que precisam de nossa dedicação. Quando esses papeis se invertem, os filhos precisam lidar com todas as dificuldades da vida de um idoso e isso pode gerar ansiedade e preocupação. Mas é de suma importância que os filhos não vejam os pais como um fardo, mas tentem fazer com que esse momento seja de aprendizado e de elaborações. Talvez a relação entre pais e filhos não seja das melhores, mas esse é o momento para falar das mágoas, das perdas, das incompreensões, mas também para dizer “eu te perdoo” e “eu continuo te amando”.

Velhice

Os estudos apontam que o processo de envelhecimento biológico se inicia aproximadamente aos 30 anos, quando ainda se pensa ser muito jovem para planejar a própria velhice. Também indicam que apenas 30% do envelhecimento é representado pela genética, os outros 70% estão relacionados aos hábitos de vida, ou seja, podem sofrer influência de programas educacionais de promoção da saúde.

É importante que pais e filhos elaborem traumas e mágoas do passado, pois somente assim o tempo que resta será de qualidade. Sabemos que assistir o envelhecimento dos pais, vê-los com dores ou dificuldades, é um momento que gera muita tristeza e sensação de incapacidade.

A qualidade das relações ao longo da vida tem impacto nesse momento; nem toda relação entre pais e filhos foi baseada em afetos positivos. Alguns filhos guardam ressentimentos e não conseguem perdoar seus pais, mas precisam exercer a função de cuidado, e o exercem somente pelo dever.

Precisamos entender que quando os pais vão envelhecendo, o tempo com eles se torna mais precioso. Devemos valorizar cada minuto juntos, mas não devemos ignorar o fato de que se as relações anteriores com os filhos não foram muito boas, ou próximas, podem surgir mágoas e culpas. É fundamental que os filhos entendam que o processo de envelhecimento gera arrependimento, sensibilidade, culpas e remorsos. Muitos idosos entram em depressão, e o cuidado, a atenção e o perdão dos filhos torna a velhice um pouco mais agradável.

O tempo com os pais sempre é especial, por isso esteja presente na vida deles, pois eles precisam da sua atenção, do seu amor e da dedicação de um tempo de qualidade. Os filhos que podem acompanhar e ser protagonistas dos últimos anos de vida dos pais têm a chance de retribuir todo afeto que receberam e sentir aquela sensação de dever cumprido.

Esse tempo também é um tempo de reflexão, de perdão, de ressignificações, onde tanto pais como filhos podem falar sobre a vida, relembrar momentos juntos, compartilhar experiências, sejam boas ou ruins. A velhice dos pais pode ser o momento mais significativo para os filhos, assim como foi o nascimento do filho para a vida dos pais. É uma questão de escolha, de perdão e de aceitação.

Lembre-se: o tempo que resta com seus pais pode ser muito curto, por isso invista em tempo de qualidade e, se puder, de quantidade, sem esquecer de valorizar o conhecimento deles, dar autonomia, cuidar com descrição e priorizar a alegria e a gratidão.

Referências Bibliográficas

BEAUVOIR, S. A velhice. M. H. F. Monteiro, Trad. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1990.

FERREIRA, Adriana do Vale Ferreira. Tempo de convivência entre pais e filhos: reflexões sobre a parentalidade residencial compartilhada. Pensando fam. vol.22 no.2 Porto Alegre jul./dez. 2018.

OLIVEIRA, Ana Claudia Ferreira de. A delicada relação entre pais e filhos. Publicado no Psicologia.pt a: 2007-05-21- São Paulo.

Por Serenita Rienzo.

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