Asafe e as reflexões do salmo 82

Asafe e as reflexões do salmo 82

“Até quando julgareis injustamente e respeitareis a aparência da pessoa dos ímpios? (Selá)”” (Salmos 82.2). Gosto de ler o livro de Salmos imaginando como seria a execução desses cânticos originalmente, porque o que lemos e pregamos hoje era, no princípio, cantado, louvado dentro do templo. Com o passar dos anos, ficaram os escritos e muitos compositores colocaram outros ritmos e melodias para as mesmas letras. Porém, alguns indícios em alguns salmos nos permitem manter a raiz de sua harmonia, como por exemplo o salmo 82.

O salmo 82 foi escrito por Asafe, um homem de grande prestígio em seu tempo, deixando sucessores, mas pouco comentado nos tempos contemporâneos. Para entendermos este salmo, temos que entender a mente do compositor, que o levou a escrever este salmo.

Asafe aparece na Bíblia pela primeira vez quando Davi resolveu trazer novamente arca do Senhor para Israel (1 Crônicas 15). Ele era sacerdote e tocava na Casa do Senhor. Tocava tão bem que foi o responsável por tocar quando a Arca estava voltando para Israel. Os músicos que iriam tocar foram escolhidos a dedo, um a um, e Asafe foi um deles. Mas Asafe não iria tocar qualquer instrumento; ele era especialista em um instrumento bastante estratégico: o címbalo de metal (1 Crônicas 15.19). Címbalo é um instrumento que quando tocado emite um som agudo e que é muito gostoso de ouvir. O som ecoado cria uma satisfação plena ao ser ouvido, mas a finalidade desse instrumento não é ser tocado sozinho. Ele dava o compasso, a marcação. Ele servia para dar o ritmo para outro instrumento: a harpa. Címbalo e harpa eram tocados juntos (1 Crônicas 15.16). O címbalo dava o ritmo e a harpa brilhava com o som. Estes dois instrumentos juntos possuem uma harmonia perfeita. Naquele tempo, havia dois homens que eram os melhores para tocar esses instrumentos. No címbalo, era Asafe; e na harpa, era Davi.

Asafe, no original hebraico massorético, quer dizer “Aquele que o Senhor possuiu” ou “Possuído por Deus” em traduções contemporâneas.

Quando Davi entrava com a Arca, ele não usava vestes reais, mas vestes sacerdotais (1 Crônicas 15.27) para mostrar a todos que aquEle que governava, o Eterno Comandante de Israel, estava voltando novamente a governar o Seu povo. Davi entra com alegria, mas Deus usou Asafe para tocar címbalo nesse dia para mostrar a Davi que Ele o estava possuindo, e quem iria ditar o ritmo de Davi seria Deus. Davi poderia entrar com alegria; se quisesse, poderia continuar a tocar harpa, mas deveria ter um címbalo para ditar o ritmo no qual a harpa deveria ser tocada; ele deveria ter um ritmo para mostrar o caminho que a harpa deveria seguir.

Quantos são os irmãos em Cristo que são tomados por Deus, mas não aceitam o ritmo ditado pelo Eterno? Nossa vida na Terra não pode ser feita de maneira desordeira. Ela precisa ter um ritmo. Ainda que você possua o melhor talento, o melhor dom, seja o mais respeitado, sempre precisará de um címbalo para ditar o ritmo, para saber o caminho e o tempo certo de andar e como deve andar, quando deve parar e quando deve seguir.

Após o evento, Asafe teve um papel muito grande dentro do templo. Nos louvores ao Senhor, chegou a liderar os músicos, sendo chefe deles (1 Crônicas 16.5). Passando os anos, percebemos pelos Salmos que Asafe era muito cauteloso e observador. Ele foi contemporâneo de Davi em seu ministério e já de idade mais avançada ainda liderou no reinado de Salomão os que louvavam na Casa do Senhor (2 Crônicas 5.12). Em suas composições (ele escreveu 12 salmos), percebemos que ele era muito cauteloso e observador com o que ocorria no meio do povo. Mesmo sendo reinado de Davi, homem segundo o coração de Deus, Asafe se deparava com muitos acontecimentos em meio à nação, muita corrupção, desonestidade. Sua mente era levada para o terreno observando as injustiças, andando pelas ruas, falando com os amigos, atentando às circunstâncias. Ele percebia que eram muito grandes os males, mas, ao mesmo tempo, toda vez em que entrava no templo, o Espírito do Senhor lhe mostrava o outro lado da moeda, e seu coração se acalmava, Deus o tranquilizava. Em um desses dias, Asafe começou a olhar alguns julgamentos e isso o inspirou tanto que ele começou a compor, de maneira que chegamos então no salmo 82. Asafe fez um cântico sobre as pessoas que via não respeitarem a lei, mas valorizar a aparência dos homens corruptos.

Quando Asafe compõe o cântico do salmo 82, chegando no verso 2, ele diz: “Até quando julgareis injustamente e respeitareis a aparência da pessoa dos ímpios? (Selá)”. Parece que o salmo caminha para um destino ruim, prevalecendo o ímpio, o mal, aquele que sempre faz coisas ruins e sempre sai ganhando. No entanto, se atentarmos bem, antes de terminar este verso, existe a palavra Selá. Essa palavra muda tudo. “Selá” é um sinal. Apenas os músicos entendem o que quer dizer “Selá”. Ela não é falada, nem cantada. As pessoas que cantavam ou cantam este salmo não pronunciam a palavra “Selá”, pois ela apenas serve de sinal para aqueles que tocam. Quando em uma composição judaica existe esta palavra, os músicos já sabem que haverá um interlúdio. Quer dizer que nesse momento se para de cantar e apenas tocam os instrumentos. Dá-se um tempo para depois voltar a cantar.

Para os cantores judaicos, o “Selá” tem uma importância, pois ela definia dois tempos. Quando entrava o “Selá”, não apenas se deveria parar de cantar e entrar os instrumentos, como, em um primeiro momento, se era tocado em uma forma mais melancólica, para que se refletisse o que havia sido dito no primeiro momento. Então, todos sabiam que precisavam refletir em silêncio no que havia sido dito. Imagine agora todos em silêncio refletindo as injustiças que Asafe havia composto, refletindo que os homens estavam julgando injustamente, que eles não estavam respeitando a lei, mas a aparência; não respeitavam a Deus, que também julgava no meio dos poderosos. Todos nesse momento tinham que refletir. Mas, o “Selá” não terminava nessa parte. São dois momentos; no primeiro, era a reflexão, onde todos ficavam quietos ouvindo os instrumentos tocando de forma melancólica e reflexiva; mas, quando acabava a primeira parte, chegava o segundo momento. Os músicos já sabiam, eles precisavam sair da melancolia e potencializar o som dos instrumentos, dando alegria, força, dinamismo, mudando o ritmo para outro patamar, isso porque eles davam uma ênfase no que viria depois. Eles precisavam colocar mais força, ritmo, alegria para a segunda parte do salmo, então todos continuavam cantando. Nesse caso específico, cantaram assim: “Defenda o pobre” (v.3); “Livrai o pobre” (v.4); “Levanta Deus” (v.8). Quantas são as pessoas que talvez estejam lendo este salmo refletindo sobre suas vidas e ainda estão na primeira parte dele, em uma melancolia, depressão, vivendo uma realidade que Deus quer mudar por completo. Com certeza, você precisa refletir sobre essas coisas, mas não esqueça que sua vida tem um segundo tempo: o tempo de potencializar o seu futuro, colocar alegria naquilo que Deus quer te dar em um novo amanhã.

Antes de Deus começar a realizar o futuro, dentro de você ele precisa já ser potencializado. É preciso usufruir da alegria da salvação, mudar a visão e colocar o novo ritmo que se aproxima. O passado você não muda, apenas reflete; mas, seu futuro tem que vir com mais potência, com alegria, com força, porque no seu futuro haverá a defesa de Deus, o livramento. O Senhor se levantará ao seu favor. Não se prenda ao passado ou em uma realidade injusta que talvez você esteja vivendo, pois Deus irá potencializar seu futuro com muita alegria. Asafe sabia disso e por essa razão colocou os dois lados, aquele que é humano, corrupto, com tristeza, mas fez uma pausa, acrescentando o “Selá” para uma reflexão e para dizer que, antes do futuro acontecer, nós primeiro precisamos potencializar nossas vidas, elevar nosso espírito, colocar alegria, ter o entendimento espiritual, pois nós receberemos um futuro de livramento e de defesa do Espirito Santo. Deus irá se levantar a nosso favor. Este será o nosso futuro.

Por Kleber Gustavo.

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