“Por que os crentes estão morrendo?”

“Por que os crentes estão morrendo?”

Esta pergunta é atualíssima e não quer calar, não somente por aqueles que não comungam a fé evangélica que, semelhantes aos contemporâneos do salmista, questionavam: “Onde está o teu Deus?” (Salmos 42.3). Mas o que nos chama a atenção é que até mesmo os crentes, em suas aflições, citam em seus clamores o profético salmo messiânico: “Deus meu, Deus meu; porque me desamparaste?” (Salmos 22.1). Na certeza do amparo divino e apoiado nas Sagradas Escrituras, vamos nos debruçar a fim de encontrarmos respostas a esta pergunta.

Em primeiro lugar, esta pergunta envolve a Teodiceia, termo criado pelo filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz em seu Ensaio de Teodiceia, que justifica a existência de Deus a partir da discussão do problema da existência do mal e de sua relação com a bondade de Deus. Os termos provêm do grego: “Théos” (= Deus) e dike (= justiça), e, traduzindo à miúdos, significa “justiça de Deus”. O que vamos meditar vai além da Teodiceia, que apenas pergunta porque Deus permite o mal. A nossa pergunta é: Por que Deus permite o mal na vida dos que o adoram do mesmo modo daqueles que o desprezam? Tema não fácil de abordar, mas, buscando nas Santas Escrituras, vamos obter a resposta.

Em segundo lugar, necessitamos entender que a maneira pueril de enxergar a religião como amuleto que nos livra de todos os males a que estamos submetidos neste “vale de lágrimas” é terrivelmente defeituosa e falsifica a realidade sobre Deus, criando uma caricatura dEle. Dessa forma, a adoração ao Senhor não equivale a uma vacina ou antídoto contra os males da presente era. A fé produz uma esperança que crê e confia no Deus amoroso, mesmo sem ver resultados aparentes. Portanto, os crentes em Deus e em Seu filho Jesus Cristo morrem nas pandemias e tragédias, tanto quanto os infiéis, às vezes até em número maior. A fé em Deus e a vida devota e consagrada a Ele e a Sua causa, não mata os outros e deixa-nos incólumes, haja vista que os homens mais devotados a Deus, por exemplo, o justo Abel, assassinado pelo fraticida Caim; incluindo o patriarca José, cujos irmãos quase o mataram; sem esquecer o martírio do profeta Isaías, que foi serrado ao meio; João Batista, cuja cabeça foi decepada  no  cárcere  por  ordem  do rei Herodes Antipas; Tiago, o piedoso também vítima da brutalidade de Antipas; Bartolomeu acabou sendo esfolado; e Pedro, que acabou a sua jornada nesse mundo crucificado de cabeça para baixo. A Bíblia afirma que foram “homens dos quais o mundo não era digno” (Hebreus 11.38).

Em terceiro lugar, faz-se necessário esclarecer que se todas as nossas orações fossem ouvidas e atendidas por nosso Senhor, segundo os nossos desejos egoístas e compreensão reduzida, que nos são peculiares, pouco ou nenhum sofrimento haveria, nem tristeza, decepção ou mesmo morte; e se isso não existisse, tampouco haveria sucesso, alegria, ressurreição e a vida eterna.

Em quarto lugar, cremos na intervenção de Deus no universo, pois, de forma ordinária, suas intervenções são contínuas. Afinal, está escrito acerca do Senhor Jesus Cristo que Ele “é a imagem do Deus invisível [...] nEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra [...] tudo foi criado por Ele e para Ele [...] e todas as coisas subsistem por Ele” (Colossenses 1.15-17). O termo “subsistir” na língua grega é “sumistão”, que significa “fortalecido por outrem”, ou uma existência que depende de outra maior. Vemos em Hebreus 1.4,5 que o Senhor Jesus não apenas criou o Cosmos, mas também sustenta o Universo. “Sustentar” no grego é “Phero”, que significa “levar consigo mesmo”, “carregar”, “mover”, “guardar de cair”, “preservar”. Portanto, diariamente a preservação das coisas “macro” e as coisas “micro”, desde os grandes planetas e estrelas à mais minúscula célula dos organismos, são milagres ordinários de Deus, nosso Senhor. De forma ordinária, mas não menos milagrosa, Ele pode providenciar a cura de inúmeros males pela ação inteligente dos homens e mulheres da Ciência, que diuturnamente encontram-se nos laboratórios em suas pesquisas na busca de uma vacina ou remédio para combater os males terríveis. Se os tais fossem mais humildes ao gritarem “Eureca!”, dariam glórias ao Deus dos céus que lhes concedeu a inteligência para alcançar essas proezas. Todavia, cremos também na intervenção extraordinária de Deus quando age soberanamente intervindo na ordem natural da criação, ou atende as orações, defende do perigo, cura as doenças e faz portentos extraordinários como a cura de um cego de nascença e outros maiores até.

Em quinto lugar, o Senhor Jesus deixou-nos bem claro no Evangelho de Lucas 13.1-9 que os infortúnios da vida e o tipo de morte que traz o nosso fim neste mundo, não identifica se fomos ou não piedosos e tementes a Deus ou se nós fizemos o bem ou não ao próximo neste mundo.  Não sabemos se para desdenhar dos galileus, alguém natural da Judeia contou a Jesus acerca da carnificina que Pilatos perpetrara a um grupo de galileus que adoravam ao pé do altar dos holocaustos. Além de um crime, um sacrilégio, pois o sangue dos assassinados misturou-se com sangue dos sacrifícios. Jesus é a própria sabedoria e respondeu-lhes de imediato com outra pergunta sobre uma tragédia ocorrida em Jerusalém conhecida como “queda da torre de Siloé” onde morreram 18 pessoas, provavelmente da própria Judeia. O Senhor disse que nem os galileus, nem os da Judeia, ambos atingidos por tragédias, eram mais pecadores que os demais, e aconselhou que seus interlocutores se arrependessem dos seus pecados, senão pereceriam também. Deste modo o Senhor nos adverte que devemos estar com a vida emendada e em comunhão com Deus, pois isto é o que importa. Aqueles que sobreviveram a Covid-19, evitem a vaidade, pois um dia irá ao encontro de Deus por outros meios!

Conclusão: o sábio, há cerca de três mil anos, já dissera: “A mesma coisa acontece com os honestos e os desonestos, os bons e os maus, os religiosos e aos não religiosos, os que adoram a Deus e os que não adoram. A mesma coisa acontece com quem é bom e com quem é pecador” (Eclesiastes 9.2 – NTLH). Os servos de Deus que foram, o foram “antes do mal” (Isaías 57.1) e nós ficamos ainda por um tempo atravessando este “Vale de Baca”. Que o Senhor se apiede de nós!

Soli Dei Gloria

Por, José Orisvaldo Nunes de Lima.

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