O valor da renúncia no casamento

O valor da renúncia no casamento

É comum vermos casais, seja o marido ou a esposa, que pensam que tudo deve girar em torno de si. Mal-acostumados a ter tudo o que sempre quiseram e não serem contrariados, vivem como se não tivessem que mudar algumas de Suas práticas e comportamentos quando se casam. Todavia, se você resolveu compartilhar a vida com outra pessoa através do matrimônio, deverá incluir o verbo renunciarem ao seu repertório, ou seja, “abdicar, deixar voluntariamente de possuir algo, de exercer condição ou direito” (AURÉLIO, p. 597).

Não há como falar em uma virtude tão importante como essa sem mencionar Jesus. O próprio Cristo deixou a Sua glória por amor a nós (Filipenses 2.7). Assim, também devemos seguir o exemplo de Cristo, nos esvaziando do “eu” e vivendo em benefício do próximo. Diz a Bíblia: “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Filipenses 2.4,5). Tal sentimento foi demonstrado por meio do Seu sacrifício em prol da humanidade. Ele nos ensinou que a renúncia também faz parte de nossa caminhada cristã.

Nunca vivemos em uma época tão egocêntrica quanto esta, em que cada um atenta para seus próprios interesses, desprezando a condição do seu próximo. O individualismo tem sido a marca nessa sociedade. Para a maioria das pessoas tornou-se um desafio abdicar de suas próprias vontades, e infelizmente em muitos casamentos tem sido assim.

Não podemos conceber um casamento em que as partes envolvidas não estejam dispostas a renunciar algumas coisas em prol do bem comum. Comumente frases como “Eu não posso fazer isso por você”, “Eu não estou disposto a isso”, “Eu não quero” ou mesmo “Eu não estou a fim” têm revelado a falta de consideração do cônjuge em relação ao outro. Permita-nos perguntar: Por que temos tanta dificuldade em renunciar nossa vontade em favor da coletividade e do bem familiar? A verdade é que a influência social tem adentrado em nossos lares, nosso ego evoluiu e se transformou em uma barreira tão alta que não conseguimos enxergar as necessidades daquele(a) que amamos. Esse aspecto egocêntrico tem se enraizado na vida dos cônjuges. Todavia, precisamos rever nossos conceitos e promessas feitas no altar e iniciar um relacionamento pautado no bem do outro. Afinal, Deus instituiu o casamento para que não fossem mais dois, mas uma só carne (Gênesis 2.24). Temos um hábito quase que natural e competitivo de sempre querer estar certos, e isso por vezes acaba afetando nosso casamento. Abrir mão do “Eu estou certo” pode soar para alguns como derrota, mas no relacionamento não há competição de quem está certo ou errado. Renunciar pode ser a melhor escolha para evitar conflitos e trazer a paz para a família.

A Bíblia nos dá muitas evidências de que o matrimônio deve ser um espaço de renúncia. A primeira delas, direcionada às mulheres, diz que essas devem ser submissas aos maridos (Efésios 5.24). A exegese deste texto bíblico não tem o sentido de humilhação, como alguns chegam a pensar e até se beneficiam de um falso entendimento, tornando suas esposas semelhantes a serviçais. Paulo utiliza o verbo hypotasso, isto é, “sujeição no sentido de submeter-se voluntariamente em amor” (ARRINGTON, p.454). Essa submissão envolve respeito, amor, honra, lealdade e fidelidade, os mesmos sentimentos requeridos à Igreja para com Cristo. Com relação ao marido, esse deve amar a sua esposa como Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela (Efésios 5.25). Jesus entregou a própria vida por amor de Sua noiva (João 3.16).

É importante atentar para um detalhe: a ação de Cristo foi incondicional, ou seja, Ele fez sem estipular condições. Nós, maridos, não podemos pautar nossas ações por meio de condições. Devemos agir em busca da felicidade de nosso cônjuge, isso de maneira incondicional. Assim deve ser a postura do esposo para com sua esposa; o bem dela é o bem dele, a alegria dela é a alegria dele. Por mais que para isso ele tenha que abrir mão de seus direitos e suas vontades com o objetivo de salvar e proteger o bem-estar da esposa.

Percebe-se, portanto, que há uma relação de renúncia entre Cristo e a Igreja, e o próprio Mestre disse que devemos negar a nós mesmos se quisermos segui-lO (Lucas 9.23). Assim como a Igreja renuncia aquilo que não agrada seu amado, devemos também renunciar o que não agrada o nosso cônjuge, a fim de vivermos felizes. Nossa relação deve envolver os mesmos princípios: renúncia recíproca. Mas, como se estabelece essa relação? Como posso demonstrar essa virtude em meu casamento?

Em primeiro lugar, eu renuncio quando me importo. É fato que, para pensar no outro, ele deve ser importante para nós. É exatamente esse sentimento que é gerado quando realizamos atos de renúncia. Nosso cônjuge se sentirá valorizado, porque deixamos de fazer algo que queríamos em virtude da vontade dela(e). O oposto também é verdadeiro: se não sou capaz de renunciar nenhuma de minhas vontades, como posso dizer que me importo com minha (meu) esposa(o)? Alguma vez você já abriu mão de seu direito porque não quis feri-lo(a)? A renúncia só acontece quando nos importamos mais com o outro do que conosco.

Em segundo lugar, a renúncia indica o grau do meu comprometimento. Gosto dessa palavra, que indica “compromisso, envolvimento” (AURÉLIO, p. 169). Logo, se não estou disposto a abrir mão daquilo que agrada unicamente a mim, não estou totalmente envolvido com as necessidades da minha família. O envolvimento é parte fundamental para a felicidade do casal, pois esta diz respeito à capacidade de compartilhar. Quem está envolvido verdadeiramente compartilha, renuncia, coloca as necessidades do outro à frente das suas.

Em terceiro lugar, a renúncia cumpre a vontade de Deus. Nas palavras de Josué Gonçalves, “os casais devem saber que Deus os estabeleceu na terra não para viverem para si mesmos, mas para alcançar outras famílias” (p.83). Quando exercitamos a renúncia, estamos gerando exemplo para outros, estamos praticando o amor ao próximo. Os cônjuges que vivem um para o outro serão casal exemplar para anunciar a Palavra de Deus.

Em quarto lugar, a renúncia cumpre as promessas do altar. As promessas que são feitas um para o outro no momento da cerimônia de casamento certificam nosso cuidado total na vida daquela(e) que estamos recebendo. Nosso compromisso envolve ser fiel, amar e respeitar em todas as circunstâncias. Para isso, é impreterível colocar nosso cônjuge ao nosso lado. A incapacidade de praticar atos de renúncia indica, acima de tudo, egoísmo e mesquinhez. Para cumprirmos nossas promessas outrora feitas para quem amamos, é imprescindível renunciarmos a nós mesmos para felicidade, não apenas de nosso cônjuge, mas também nossa. Quando abrimos mãos de nosso egoísmo, cumprimos o bem da coletividade e alcançamos a felicidade da família.

BIBLIOGRAFIA

Bíblia. Bíblia de Estudo Palavra-ChaveHebraico e Grego. Texto Bíblico: Almeida Revista e Corrigida, 4ª ed.; Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. 2ª ed.; Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
Comentário Bíblico Pentecostal. Novo Testamento. Vol. 02, Romanos – Apocalipse. CPAD, 2012.
GONÇALVES, Josué. Casamento é uma viagem: 12 regras para sua viagem dar certo. Bragança Paulista, SP. Mensagem Para Todos, 2015.
KASCHEL, Werner; ZIMMER, Rudi. Dicionário da Bíblia de Almeida. 2ª edição. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.
NOGUEIRA, Makeliny Oliveira Gomes; LEAL, Daniela. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os pensamentos filosóficos, pedagógicos e psicológicos. (Série Construção Histórica da Educação). Curitiba, PR. Interesaberes, 2013.

Por Auricléssio da Silva Lima.

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