Nova onda de violência em Israel é imprevisível e preocupa o mundo

Nova onda de violência em Israel é imprevisível e preocupa o mundo

Segundo as Nações Unidas, atual conflito pode se tornar “guerra em grande escala”; evangélicos oram pela paz e também doam abrigos antibombas

Em maio (2021), o Oriente Médio experimentou sua pior onda de violência em anos no conflito entre palestinos e israelenses, levando a Organização das Nações Unidas (ONU) a alertar que o conflito pode se transformar “em uma guerra em grande escala”. O que começou como tumultos em Jerusalém em 10 de maio levou, em menos de dois dias, a uma agitação civil generalizada, ao lançamento de milhares de foguetes contra Israel por parte do Hamas e a ataques aéreos de Israel a Gaza. O saldo de tudo isso são muitas mortes, feridos, prisões e danos materiais.

O grupo terrorista islâmico Hamas disparou mais de 1,1 mil foguetes e mísseis contra Israel só nos dias 11 e 12 de maio, a maioria dos quais foi abatido pelo sistema de Domo de Ferro de Israel; o restante caiu em áreas civis. A agressão do Hamas levou a ataques aéreos de retaliação das Forças de Defesa de Israel contra a Faixa de Gaza, matando importantes líderes do Hamas. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, esses ataques iniciais levaram à morte de 80 palestinos, sendo 17 crianças e sete mulheres, e 480 pessoas ficaram feridas. Desses 80 mortos, há um comandante sênior do Hamas e pelo menos 10 importantes figuras militares do grupo terrorista.

Nos primeiros bombardeios do Hamas, pelo menos sete pessoas foram mortas em Israel, incluindo um soldado morto por um míssil antitanque e uma criança de 6 anos atingida por um ataque com foguete, de acordo com The Associated Press. Imagens colhidas pelos correspondentes em Israel dos canais de tevê PBS e SkyNews mostraram dezenas de carros, casas e prédios atingidos pelas bombas do Hamas, inclusive uma sinagoga.

Nova onda de violência em Israel é imprevisível e preocupa o mundo

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, até 17 de maio, havia pelo menos 200 mortos pelos ataques aéreos israelenses em Gaza, além de mais de 1,2 mil pessoas feridas. Por sua vez, de acordo com autoridades israelenses, o Hamas e outros grupos militantes palestinos radicais já haviam lançado até aquela data 3 mil foguetes contra Israel, o que resultou na morte de 10 pessoas e centenas de feridos. Foguetes chegaram até os arredores de Jerusalém, ao Aeroporto Ben Gurion, à Tel Aviv e a seus subúrbios, de acordo com funcionários da ONU. Apesar da grande eficiência do sistema de defesa de mísseis “Iron Dome” (“Domo de Ferro”) de Israel, destes 3 mil foguetes, 450 caíram em áreas construídas e outros pousaram dentro de Gaza, o que causou algumas baixas palestinas erroneamente atribuídas a Israel.

O “Iron Dome” é construído pela empresa israelense Rafael Advanced Defense Systems, que descreve o sistema como “o único sistema multimissão no mundo que fornece uma solução de defesa comprovada em combate para conter foguetes, artilharia e morteiros para terra e mar. O Iron Dome opera dia e noite e em todas as condições meteorológicas, incluindo nuvens baixas, chuva, tempestades de poeira ou nevoeiro. O Iron Dome protege cidades, vilas e ativos estratégicos, forças de manobra e navios. O sistema usa um interceptor exclusivo com uma ogiva especial que detona a ogiva alvo no ar. Se a trajetória estimada da ameaça aerotransportada se dirige para a zona defendida, um comando é dado e um interceptor é lançado contra a ameaça”.

No dia 13 de maio, o senador republicano Ted Cruz, do Texas, pediu ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para reabastecer o estoque de mísseis do “Iron Dome” de Israel. “Um dos verdadeiros desafios que Israel enfrenta agora são os estoques dos seus mísseis Iron Dome”, disse Cruz. “Os interceptores estão disparando esses foguetes um após o outro. Vou lhes dizer algo que Joe Biden poderia fazer hoje para mostrar liderança presidencial decisiva: ele se mexer e dizer que vamos reabastecer os mísseis Iron Dome de Israel. A propósito, esses mísseis nunca são direcionados às pessoas. Eles são direcionados a foguetes que tentam assassinar civis inocentes. O governo Biden precisa agir hoje para garantir que Israel tenha um suprimento adequado de mísseis”, declarou Ted Cruz.

Nova onda de violência em Israel é imprevisível e preocupa o mundo

O detalhe é que, em 14 de maio, o Estado de Israel completou 73 anos de fundação. Ou seja, em uma data que deveria ser marcada por festa e alegria, o que se viu foram milhares de foguetes, destruição e medo caindo sobre Israel, que, mais uma vez, teve que se defender.

Como teve início este novo conflito

Os bombardeios do Hamas foram precedidos por confrontos entre manifestantes e autoridades israelenses na histórica mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém, no Monte do Templo. O acontecimento que foi usado pelos militantes do Hamas como justificativa para iniciar os protestos e consequentes ataques a Israel foi um processo judicial que se desenrola já há algum tempo e que objetiva despejar várias famílias palestinas do bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, as quais estariam residindo ali ilegalmente.

Em resposta ao avanço desse processo judicial, houve um protesto violento no dia 10 de maio para o qual a polícia israelense foi chamada a intervir, o que resultou no confronto perto da mesquita de Al-Aqsa, considerada o terceiro local mais sagrado do Islã. A violência levou à mudança de trajeto da já tradicional e histórica Marcha das Bandeiras do Dia de Jerusalém, que celebra a unificação de Israel em 1967. A marcha ocorre tradicionalmente no dia 10 de maio.

Em seguida, ocorreram manifestações cada vez mais violentas em vários locais da Cisjordânia, inclusive em torno de Ramallah, Hebrom, Nablus e Jenin. No lado palestino, bombas caseiras e pedras foram jogadas contra as forças de segurança, que responderam com gás lacrimogêneo, balas de borracha e, em alguns casos, até com munição de verdade. Ao final, 10 manifestantes morreram e cerca de 150 ficaram feridos. Paralelamente a essas manifestações, o Hamas e a Jihad Islâmica começaram a lançar foguetes sobre Israel em uma escala até então inédita.

Nova onda de violência em Israel é imprevisível e preocupa o mundo

Os tumultos atuais são os mais graves desde a Segunda Intifada, que foi a segunda grande revolta civil palestina contra Israel, que começou no ano 2000, se estendeu por cinco anos e terminou com cerca de mil israelenses e 3,5 mil palestinos mortos.

Diante da rápida escalada do conflito já nos primeiros dois dias, o coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, alertou no dia 12 de maio que o conflito em andamento poderia levar a uma “guerra em grande escala”. Nas redes sociais oficias da ONU, ele asseverou: “Cessem fogo imediatamente. Estamos nos encaminhando para uma guerra em grande escala. O custo da guerra em Gaza é devastador e está sendo pago por pessoas comuns. A ONU está trabalhando com todos os lados para restaurar a calma. Parem a violência agora”.

Cristãos se mobilizam em oração e doam abrigos antibomba

Enquanto isso, pastores e líderes cristãos de todo o mundo, através de suas mídias sociais, conclamaram os cristãos a orar pela paz no Oriente Médio. Franklin Graham, filho do famoso evangelista Billy Graham e chefe do ministério social Bolsa do Samaritano, escreveu que tem muitos amigos que moram em Israel, tanto árabes quanto judeus, que estão “muito preocupados com a situação lá”. E acrescentou: “Pessoas foram mortas, famílias estão se encolhendo de medo em abrigos antiaéreos e precisam de nossas orações. Como nos é ordenado nas Escrituras, vamos orar pela paz de Jerusalém”.

A Embaixada Cristã Internacional em Jerusalém (ICEJ, na sigla em inglês) doou 15 abrigos antibomba portáteis para proteger as comunidades próximas à fronteira de Gaza. “Os cristãos ao redor do mundo querem fazer algo positivo para ajudar Israel agora”, disse o vice-presidente do ICEJ, David Parsons, ao jornal The Jerusalem Post. “Eles estão orando e defendendo Israel em seus próprios países, mas sentem que essa doação é algo que podem fazer para realmente contribuir para a segurança e a paz em Israel”. Como Parsons frisa, “os abrigos procuram garantir menos vítimas”. O ministério ICEJ foi fundado em 1980 para representar igrejas e denominações cristãos em todo o mundo “que compartilham um amor e preocupação por Israel e que procuram reparar a ruptura histórica entre a Igreja e o povo judeu”.

Os primeiros 9 abrigos foram entregues ainda em maio. Os outros seis já haviam sido encomendados e em breve seriam enviados a comunidades israelenses localizadas perto da fronteira com o Líbano.

Segundo matéria do jornal The Christian Post, o ICEJ doa abrigos portáteis para comunidades em risco desde 2008. “Com o apoio de cristãos em todo o mundo, 118 abrigos já foram doados para comunidades do sul de Israel. O ICEJ tem parceria com a Operação Lifeshield para garantir que os abrigos sejam construídos de acordo com os padrões das Forças de Defesa de Israel. A Operação Lifeshield é uma campanha de emergência para salvar vidas inocentes, fornecendo às comunidades ameaçadas de Israel abrigos antiaéreos protegidos”, afirma The Christian Post.

“Muitas casas, prédios comunitários e outros locais públicos não têm abrigos antiaéreos nas proximidades, e os residentes da área têm apenas 10 a 20 segundos para encontrar abrigo quando o alerta vermelho soa de foguetes chegando”, escreveu o presidente do ICEJ, Dr. Jürgen Bühler, em uma postagem de blog no site de seu ministério. “Minha família e eu nos encontramos em nosso próprio abrigo esta semana. Do abrigo, podíamos ouvir as explosões dos quatro foguetes do Hamas caindo perto de nossa comunidade nos arredores de Jerusalém. Portanto, conhecemos os sons assustadores das explosões de foguetes e também sabemos que esses abrigos literalmente salvam vidas!”, afirmou Bühler.

A escalada continua e com final imprevisível

Em 15 de maio, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para pedir o fim do atual conflito. Biden reafirmou seu apoio ao direito de Israel de se defender ao mesmo tempo em que expressou preocupação com a morte de civis e a segurança de jornalistas. Por outro lado, dentro dos EUA, o presidente norte-americano está sendo criticado por ter liberado, logo após assumir a presidência no início do ano, dezenas de milhões de dólares aos palestinos a título de ajuda social e que, segundo especialistas, foram usados em grande parte pelos palestinos para se rearmarem nos últimos meses. Em 2018, durante a gestão Trump, os palestinos tiveram esse dinheiro cortado, de maneira que nos últimos três anos os bombardeios a Israel haviam praticamente cessado, por falta de dinheiro para se armar para o conflito. Por outro lado, o Irã tem também ajudado a Jihad Islâmica a se rearmar, como líderes do grupo terrorista palestino confessaram recentemente.

No dia 16 de maio, as Forças de Defesa de Israel haviam indicado a possibilidade de aceitar uma oferta de cessar-fogo, uma vez que teriam atingido os seus objetivos já na primeira rodada de luta contra o Hamas e os grupos terroristas palestinos da Jihad Islâmica, segundo informou o jornal The Times of Israel. A questão era saber se esses grupos aceitariam o cessar fogo. Resposta: não. Os ataques continuaram.

Até o fechamento desta edição, a escalada do conflito continuava e seu desfecho era imprevisível. No dia 17 de maio, as Forças de Defesa de Israel atacaram o Quartel General da Segurança Interna do Hamas. Em resposta, o Hamas lançou mais foguetes sobre Gaza e ameaçou atacar ferozmente Tel Aviv. A ONU, por sua vez, convocou uma assembleia geral extraordinária para tratar do conflito e os EUA bloqueou uma declaração do Conselho de Segurança da ONU culpando ambos os lados.

Enquanto isso, o Hamas vai ganhando força entre os palestinos. Na Cisjordânia, a liderança política está desempenhando um papel moderador. No poder está o partido Fatah, que pertence à Organização de Libertação da Palestina (OLP). Ela coopera com Israel em muitas áreas e também tem conexões internacionais. Seu líder, Mahmoud Abbas, adiou repetidamente as eleições. Ou seja: governa basicamente sem legitimidade democrática há uma década. Mas o experiente político, de 85 anos, ainda é o primeiro ponto de contato palestino para diplomatas.

Segundo matéria do site Deutsche Welle, “há frustração a esse respeito, especialmente entre a geração de jovens palestinos adultos. Um dos atuais grupos de protesto são os jovens palestinos decepcionados com a liderança política do Fatah, porque não há estratégia e nenhuma visão de como alcançar a independência ou uma melhoria nas condições de vida. ‘Com as eleições adiadas várias vezes’, diz o observador alemão Steven Höfner, diretor do escritório da fundação alemã Konrad Adenauer (KAS), no centro administrativo da Cisjordânia, ‘mesmo pessoas na faixa dos 30 anos na Cisjordânia nunca foram conseguiram votar. Há uma completa desconexão entre esta demografia e a política. Os jovens são ativos sobretudo no Facebook, mas serviços como TikTok e Instagram também estão ganhando força. A liderança, no entanto, especialmente a elite mais antiga do Fatah e da Autoridade Palestina, não está presente ali de forma alguma. Como de costume, eles tentam chegar à população através de declarações públicas na imprensa ou meios próximos a eles. Mas eles não se relacionam com a população jovem em particular. O Hamas, por outro lado, está ativo nas mídias sociais, e a situação cada vez pior dos árabes israelenses também está se espalhando rapidamente em ambos os lados das barreiras que separam Israel e a Cisjordânia. Se as incontáveis publicações nas mídias sociais também levarão a uma maior mobilização [dos jovens radicalizados] na Cisjordânia, ninguém pode estimar no momento. Em Ramallah, entretanto, quanto mais tempo durar o conflito, mais forte se tornará o Hamas, porque o Fatah também não tem nenhuma contra-estratégia própria e não oferece nenhuma alternativa para o confronto”.

Como terminará esse novo conflito? Só Deus sabe. Uma coisa é certa: oremos pela paz naquela região. Aliás, é um mandamento bíblico: “Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam” (Salmos 122.6).

(Com informações dos jornais The Christian Post, Jerusalem Post, Deutsche Welle e The Times of Israel).

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