O que a Bíblia diz acerca dos deficientes mentais quanto à salvação em Cristo? Eles desfrutam dos mesmos direitos e deveres como os demais seres humanos?
Com ajuda de Deus, tentaremos trazer alguma luz sobre este assunto, acerca do qual quase nenhuma literatura existe e as Sagradas Escrituras não tratam do tema. A análise será feita de forma objetiva e sistemática, sendo necessário buscar os princípios gerais da hermenêutica para termos alguma elucidação.
Em primeiro lugar, a loucura é um produto da Queda de nossos pais Adão e Eva, que afetou todo planeta: “Maldita é a terra por causa de ti [...] espinhos e cardos também te produzirá” (Gênesis 3.17,18). Esses “cardos e espinhos” representam toda dor e sofrimento que advieram à humanidade e ao planeta por causa deles, inclusive as doenças e enfermidades, sejam físicas, psíquicas e principalmente espirituais. Assim sendo, os portadores delas não são responsáveis diretamente pelo mal que sofrem.
Paulo, o Apóstolo dos Gentios, nos diz que “a criação está sujeita à vaidade, não por sua própria vontade, mas por causa daquele que a sujeitou” (Romanos 8.20). O vocábulo “vaidade” no grego do Novo Testamento é mataiotes, que, entre outros significados, é também “fragilidade, falta de vigor”. Por perdermos nossa fortaleza dada por Deus na criação, ficamos, desde a concepção, “sujeitos” à fraqueza, debilidade, doenças e, por fim, à morte. A expressão “sujeito” no grego é hipotasso, que, entre outras coisas, significa “submeter-se ao controle de outrem”. Assim, cada ser humano foi atingido em alguma área da vida, e alguns dos nossos parentes e amigos foram atingidos na psiquê.
Em segundo lugar, o louco não tem condições de discernimento nem a capacidade de crer ou descrer. Se pela lei humana ele é inimputável, imaginemos diante da justiça de Deus (Gênesis 18.25).
Em terceiro lugar, o Senhor Jesus declarou a respeito das crianças que não possuem ainda o uso da razão que “das tais é o Reino dos céus” (Mateus 19.14). Por analogia, cremos que assim como as crianças inocentes têm garantido o Reino, os loucos de todo o gênero o terão, pois a graça de Cristo é recebida pela fé, pelos que podem crer, e imputada, pela misericórdia e justiça de Deus, naqueles que não o podem fazê-lo.
Em quarto lugar, cremos verdadeiramente que de forma semelhante será imputada a graça de Deus aos bebês que, por motivo de patologias, perdem a sua vida no ventre materno e, do mesmo modo, aqueles que são barbaramente assassinados com autorização de suas próprias mães (se assim o pudermos chamar), mediante o infame ato do aborto.
Em quinto lugar, verdade é, e a experiência nos mostra, que existem os deficientes mentais que são totalmente insanos. Acreditamos que esses estão inclusos em Isaías 35.8, onde diz-nos que o santo caminho “nem os loucos errarão“. O vocábulo louco é eviyl, e tanto pode se referir aos enfermos das faculdades mentais quanto aos loucos espirituais desprovidos de sabedoria e do temor de Deus. Ao longo da vida, conhecemos vários loucos que foram crentes fiéis ao Senhor. No tocante ao grau de loucura e à capacidade de crer ou não no Senhor Jesus como Salvador, tal conhecimento foge da nossa alçada e só pertence ao “Senhor, Deus dos espíritos de toda a carne” (Números 27.16).
Em sexto lugar, que os pais, irmãos e todos que amam os deficientes mentais confiem na justiça e na graça de Deus quanto aos entes queridos dessa classe. Em Apocalipse 22.15, há uma lista dos que ficaram fora da cidade santa, mas os nossos familiares atingidos por essas deficiências não estão ali.
Em sétimo lugar, a eles não foi concedido o direito do livre arbítrio e, portanto, estão excluídos dos deveres dos demais seres humanos e, com certeza, o bondoso Pai celestial os acolherá no Seu Reino, aplicando neles a generosa graça que há em Seu amado filho Jesus. Afinal, Ele afirmou: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6).
Por, José Orisvaldo Nunes de Lima.
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