A maior parte da oposição aos dons espirituais vem de segmentos cessacionistas e de pessoas ressentidas, porque foram enganadas por alguém que supostamente exerceu um dom e prometeu ou revelou algo que não se concretizou ou mesmo eram inverdades, mas essas questões não são parâmetros aceitáveis para rejeitar os dons, pois são exceções à regra.
Os dons foram outorgados à Igreja para a sua edificação e para o exercÃcio da diaconia cristã de uns para com os outros no Corpo de Cristo. Os dons são “capacitações especiais e sobrenaturais concedidas pelo EspÃrito de Deus ao crente para serviço especial na execução dos propósitos divinos por meio da Igreja” (SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 171).
Os dons espirituais diferem dos dons naturais porque estes são inatos à natureza humana, enquanto os dons espirituais atuam de forma milagrosa, sobrenatural e em dimensões sobre-humanas. Como o nome já o declara, os dons espirituais são presentes graciosos que o EspÃrito Santo concede à Igreja para edificação mútua em amor dos membros do Corpo de Cristo. Paulo apresenta várias listas não exaustivas de dons, tanto naturais quanto espirituais (Romanos 12.6-8; 1Co 12.8-10; 1 CorÃntios 12.28; 1 CorÃntios 12.29, 30; Efésios 4.11). Ele os chama de diversidades de dons, de ministérios e de operações.
A lista de dons espirituais que é o alvo deste texto é a que consta em 1 CorÃntios, capÃtulo 12. As demais listas de Paulo não fazem esta divisão. Enquanto o Apóstolo dos Gentios apresenta listas de dons, o evangelista Lucas apresenta-os de forma prática nos relatos da vida diária, quando os vários dons são manifestos, tanto na vida de personagens presentes no Evangelho de Lucas quanto nos Atos dos Apóstolos.
Os dons espirituais não servem para demonstrar a suposta espiritualidade de alguém, nem para mostrar ostentação de superioridade, nem outorgam poderes especiais para quem os tem. Seu propósito principal é servir à s pessoas com as habilidades sobrenaturais que os dons proporcionam. O conceito bÃblico de servir provém de “diaconia”, que significa trabalhar para alguém como um escravo, do mesmo modo que Jesus serviu seus discÃpulos, inclusive lhes lavando os pés. Esta atitude de Jesus é o paradigma que norteia o uso dos dons espirituais. Este é o motivo pelo qual Paulo se refere à necessidade do amor: “Se não tiver amor [no exercÃcio dos dons] nada serei” (1 CorÃntios 13.2). E ainda: “Esforcem-se para ter amor. Procurem também ter dons espirituais, especialmente o de profetizar” (1 CorÃntios 14.1). Se a atitude de servir os irmãos com os dons fosse levada a sério por todos, com certeza terÃamos menos imaturidade, menos falsificação e menos abuso dos dons. Porém, a utilidade dos dons espirituais supera incomparavelmente os abusos e os maus usos que possam ser feitos deles.
Os dons são úteis porque concedem à Igreja as virtudes do EspÃrito Santo para realizar a grande tarefa didática e querigmática de promover o Reino de Deus na Terra, para além dos limitados recursos humanos.
De forma prática, as principais utilidades dos dons espirituais são as seguintes: proporcionam uma profunda alegria demonstrada na expressão verbal, especialmente nos dons de elocução; promovem entusiasmo para missões; dão ousadia na proclamação do Evangelho; proporcionam uma comunidade fraterna onde todos compartilham os seus dons; promovem um espaço onde todos podem ser úteis na Igreja, mesmo não tendo cargos hierárquicos; não fazem discriminação de raça, classe social, nem idade; proporcionam crescimento exponencial qualitativo e orgânico da Igreja; revelam a unidade da Igreja na diversidade; além de auxiliarem a liderança a resolver situações humanamente impossÃveis.
Todos os dons são para o serviço ao próximo, como afirmamos. O único que é voltado para si é o dom de variedade de lÃnguas, que, como Paulo ensina, serve para edificar-se a si mesmo (1 CorÃntios 14.4); se tiver também o dom de interpretar as lÃnguas, ele edifica a quem ouve.
Portanto, a particularidade do dom de variedade de lÃnguas é que ele serve para edificação pessoal (“O que fala lÃngua estranha edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja”, 1 CorÃntios 14.4); glorificação a Deus e comunicação espiritual com Ele (“Porque o que fala lÃngua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espÃrito fala de mistérios”, 1 CorÃntios 14.2); sinal para os descrentes (“De sorte que as lÃnguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis”, 1 CorÃntios 14.22); e se equipara à profecia, quando houver intérprete, edificando assim a comunidade de irmãos presentes como também o portador do dom (“E eu quero que todos vós faleis lÃnguas estranhas; mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala lÃnguas estranhas, a não ser que também interprete, para que a igreja receba edificação”, 1 CorÃntios 14.5).
A edificação pessoal e coletiva se dá através de cânticos espirituais (1 CorÃntios 14.15; Efésios 5.19) em momentos de alegria, adoração e louvor; e gemidos inexprimÃveis ou inefáveis (Romanos 8.26) na oração, ao derramar sentimentos e desejos profundos diante de Deus. O EspÃrito Santo ajuda o crente pentecostal a adorar com excelência Àquele que é o mistério tremendo, o fascinante majestático. Em outras palavras, o EspÃrito Santo se expressa no crente em linguagem ininteligÃvel tanto quanto Ele o ajuda a orar aquilo que ele não consegue expressar em seu idioma.
Por, Claiton Ivan Pommerening.
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