A utilidade dos dons espirituais

A utilidade dos dons espirituais

As Escrituras não afirmam que a experiência pentecostal e os dons espirituais cessaram após a era apostólica. Muito pelo contrário, o que a Bíblia Sagrada ensina é que “a promessa é para vocês e para os seus filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2.39), e também que “procurem, com zelo, os melhores dons” (1 Coríntios 12.31); sem esquecer de procurarem “com zelo os dons espirituais, principalmente o de profetizar” (1 Coríntios 14.1), e procurar “com zelo o dom de profetizar e não proíbam que se fale em línguas” (1 Coríntios 14.39).

A maior parte da oposição aos dons espirituais vem de segmentos cessacionistas e de pessoas ressentidas, porque foram enganadas por alguém que supostamente exerceu um dom e prometeu ou revelou algo que não se concretizou ou mesmo eram inverdades, mas essas questões não são parâmetros aceitáveis para rejeitar os dons, pois são exceções à regra.

Os dons foram outorgados à Igreja para a sua edificação e para o exercício da diaconia cristã de uns para com os outros no Corpo de Cristo. Os dons são “capacitações especiais e sobrenaturais concedidas pelo Espírito de Deus ao crente para serviço especial na execução dos propósitos divinos por meio da Igreja” (SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 171).

Os dons espirituais diferem dos dons naturais porque estes são inatos à natureza humana, enquanto os dons espirituais atuam de forma milagrosa, sobrenatural e em dimensões sobre-humanas. Como o nome já o declara, os dons espirituais são presentes graciosos que o Espírito Santo concede à Igreja para edificação mútua em amor dos membros do Corpo de Cristo. Paulo apresenta várias listas não exaustivas de dons, tanto naturais quanto espirituais (Romanos 12.6-8; 1Co 12.8-10; 1 Coríntios 12.28; 1 Coríntios 12.29, 30; Efésios 4.11). Ele os chama de diversidades de dons, de ministérios e de operações.

A lista de dons espirituais que é o alvo deste texto é a que consta em 1 Coríntios, capítulo 12. As demais listas de Paulo não fazem esta divisão. Enquanto o Apóstolo dos Gentios apresenta listas de dons, o evangelista Lucas apresenta-os de forma prática nos relatos da vida diária, quando os vários dons são manifestos, tanto na vida de personagens presentes no Evangelho de Lucas quanto nos Atos dos Apóstolos.

Os dons espirituais não servem para demonstrar a suposta espiritualidade de alguém, nem para mostrar ostentação de superioridade, nem outorgam poderes especiais para quem os tem. Seu propósito principal é servir às pessoas com as habilidades sobrenaturais que os dons proporcionam. O conceito bíblico de servir provém de “diaconia”, que significa trabalhar para alguém como um escravo, do mesmo modo que Jesus serviu seus discípulos, inclusive lhes lavando os pés. Esta atitude de Jesus é o paradigma que norteia o uso dos dons espirituais. Este é o motivo pelo qual Paulo se refere à necessidade do amor: “Se não tiver amor [no exercício dos dons] nada serei” (1 Coríntios 13.2). E ainda: “Esforcem-se para ter amor. Procurem também ter dons espirituais, especialmente o de profetizar” (1 Coríntios 14.1). Se a atitude de servir os irmãos com os dons fosse levada a sério por todos, com certeza teríamos menos imaturidade, menos falsificação e menos abuso dos dons. Porém, a utilidade dos dons espirituais supera incomparavelmente os abusos e os maus usos que possam ser feitos deles.

Os dons são úteis porque concedem à Igreja as virtudes do Espírito Santo para realizar a grande tarefa didática e querigmática de promover o Reino de Deus na Terra, para além dos limitados recursos humanos.

De forma prática, as principais utilidades dos dons espirituais são as seguintes: proporcionam uma profunda alegria demonstrada na expressão verbal, especialmente nos dons de elocução; promovem entusiasmo para missões; dão ousadia na proclamação do Evangelho; proporcionam uma comunidade fraterna onde todos compartilham os seus dons; promovem um espaço onde todos podem ser úteis na Igreja, mesmo não tendo cargos hierárquicos; não fazem discriminação de raça, classe social, nem idade; proporcionam crescimento exponencial qualitativo e orgânico da Igreja; revelam a unidade da Igreja na diversidade; além de auxiliarem a liderança a resolver situações humanamente impossíveis.

Todos os dons são para o serviço ao próximo, como afirmamos. O único que é voltado para si é o dom de variedade de línguas, que, como Paulo ensina, serve para edificar-se a si mesmo (1 Coríntios 14.4); se tiver também o dom de interpretar as línguas, ele edifica a quem ouve.

Portanto, a particularidade do dom de variedade de línguas é que ele serve para edificação pessoal (“O que fala língua estranha edifica-se a si mesmo, mas  o  que  profetiza  edifica  a  igreja”, 1 Coríntios 14.4); glorificação a Deus e comunicação espiritual com Ele (“Porque o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios”, 1 Coríntios 14.2); sinal para os descrentes (“De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis”, 1 Coríntios 14.22); e se equipara à profecia, quando houver intérprete, edificando assim a comunidade de irmãos presentes como também o portador do dom (“E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas; mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala línguas estranhas, a não ser que também interprete, para que a igreja receba edificação”, 1 Coríntios 14.5).

A edificação pessoal e coletiva se dá através de cânticos espirituais (1 Coríntios 14.15; Efésios 5.19) em momentos de alegria, adoração e louvor; e gemidos inexprimíveis ou inefáveis (Romanos 8.26) na oração, ao derramar sentimentos e desejos profundos diante de Deus. O Espírito Santo ajuda o crente pentecostal a adorar com excelência Àquele que é o mistério tremendo, o fascinante majestático. Em outras palavras, o Espírito Santo se expressa no crente em linguagem ininteligível tanto quanto Ele o ajuda a orar aquilo que ele não consegue expressar em seu idioma.

Por, Claiton Ivan Pommerening.

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