A pregação de Noé à sua geração

A pregação de Noé à sua geração

Há dúvidas por parte de alguns se realmente Noé pregou a Palavra de Deus para o arrependimento das pessoas; e se ele pregou, quanto tempo o patriarca passou anunciando a mensagem de juízo e de salvação. Andrade afirma: “Não sabemos quanto tempo durou a pregação de Noé. Um século? Não importa. O fato é que toda aquela civilização teve muita oportunidade para arrepender-se, voltar-se para Deus. Infelizmente, não houve uma conversão sequer. Saturados do patriarca, fizeram-se moucos, surdos e ainda mais independentes” (ANDRADE, Claudionor. “O Começo de Todas as Coisas. Estudo Sobre o Livro de Gênesis”. Rio de Janeiro: CPAD, 2015).

Deve-se fazer uma análise exegética da passagem da Segunda Epístola de Pedro.  O texto diz: “E não poupou o mundo antigo, mas preservou a Noé, pregador da justiça, e mais sete pessoas, quando fez vir o dilúvio sobre o mundo dos ímpios” (2 Pedro 2.5).

Sem sombra de dúvida, Noé foi uma personagem histórica, o que é confirmado pelos registros históricos do Antigo e do Novo Testamentos. Nas Escrituras veterotestamentárias, além do Gênesis, Isaías e Ezequiel confirmam a seus leitores que a história de Noé não foi uma fábula, mas, sim, uma realidade (Isaías 54.9; Ezequiel 14.14). Do mesmo modo acontece nas Escrituras neotestamentárias, nas quais encontramos Cristo tendo Noé como uma figura histórica (Mateus 24.37) e semelhantemente o apóstolo Pedro (1 Pedro 3.20; 2 ¬Pedro 2¬.5) e o escritor anônimo da Carta aos Hebreus (Hebreus 11.7).

A passagem de Pedro na sua Segunda Carta descreve categoricamente que Noé pregou a Palavra de Deus. O termo grego para pregador é kéryka e este é um substantivo que se encontra no acusativo masculino singular, significando um “arauto”, “alguém que clama publicamente”, “um instrutor púbico da vontade divina”. Partindo desse pressuposto, Noé realmente, sem sombra de dúvida, pregou em público o juízo do Senhor.

Mas o que exatamente o apóstolo Pedro quis passar quando disse que Noé foi um pregoeiro da justiça (2 Pedro 2.5)? O contexto da Segunda Carta de Pedro nos mostra que o apóstolo está primeiro se reportando aos profetas, melhor dizendo, aos falsos pregadores (2 Pedro 2.1); segundo, ele fala do juízo que sobrevirá àqueles que seguem os prazeres e as injustiças deste mundo (2 Pedro 2.4,5). Essa condenação do apóstolo Pedro está sendo proferida especificamente para os falsos pregadores. Diz ele que assim como Deus não poupou os anjos, que se rebelaram contra Ele, do mesmo modo não pouparia os falsos mestres, os quais procuravam pelas práticas pecaminosas contaminar a verdade do Senhor (2 Pedro 2.3). Então, Pedro em seguida sai da eternidade, quando nasceu o pecado, no sentido de os anjos terem se rebelado contra Deus, e entra na esfera do tempo, lembrando que, em meio ao juízo de Deus, Este sempre procurou salvar aqueles que se encontravam sinceros na presença do Senhor.

Um dos exemplos citados pelo apóstolo está em Sodoma e Gomorra. Dentre aquela gente que procurava os prazeres da vida pecaminosa, coube a Deus poupar Ló. Ele aparece no texto bíblico contrastando com as injustiças praticadas pelos pecadores daquelas cidades. Mas, o primeiro exemplo citado por Pedro é o de Noé, pois Pedro prefere seguir a cronologia histórica, apresentando primeiro o patriarca (2 Pedro 2.5). Ele faz um perfeito contraste entre os falsos pregadores da sua contemporaneidade e o pregador justo Noé. Logo, ao colocar Noé como pregador em comparação com os injustos pregadores, Pedro demonstra conhecer a tradição histórica dos personagens bíblicos, tanto a partir dos livros inspirados quanto a partir da tradição oral, e confirma que Noé pregou a Palavra da justiça, não somente com sua vida justa diante de Deus e dos homens, mas certamente o patriarca procurou trazer uma mensagem, no sentido de proclamação para expor o iminente  juízo de Deus; e ao mesmo tempo ele mostrava a esperança para quem quisesse se arrepender dos seus maus comportamentos praticados contra o Criador, pois, somente assim, eles seriam salvos. Como afirma Andrade, Noé foi “um pregador sem púlpito, mas nem por isso deixou de pregar o juízo do Senhor [...] E, dramaticamente, anunciava o castigo divino sobre os seus contemporâneos. Estes, por seu turno, contando seus dias não em décadas, mas em séculos, supunham que julgamento algum lhes adviria. Por isso brincaram com o tempo, e acabaram por se perder numa eternidade sem Deus [...] Noé pregava com palavras. Sua proclamação mais forte, porém, dava-se no âmbito pessoal [...]” (2015, p. 78).

Como não houve quem se arrependesse, foram punidos com o dilúvio universal, que veio tomar a toda a terra. E assim como Deus livrou o pregador Noé do Seu juízo, puniu aqueles que não se arrependeram. Desse fato Pedro tira uma aplicação para os falsos pregadores, os quais cedo ou tarde sofreriam a mesma condenação, desta vez não com Dilúvio, não em relação ao julgamento de Deus de destruir os homens com água; essa é apenas uma forma do apóstolo descrever o juízo vindouro, que é classificado por Pedro como o “Dia do Juízo” (2 Pedro 2.9). Ele está se reportando também ao inferno (2 Pedro 2.4). A palavra inferno, no grego zophou, é um substantivo genitivo masculino singular, significando “tártaro”, “cadeias de trevas, “escuridão”. A palavra clássica nesse texto para inferno é o tártaro, que traz a ideia de castigo eterno, lugar para onde os anjos caídos estão sentenciados (Apocalipse 20.11-15).

Portanto, pelo contexto da Carta de Pedro entende-se que realmente Noé pregou a Palavra de Deus com o tema do juízo para que os homens viessem a se arrepender. Não somente por meio de palavras, mas com sua vida justa. E por Noé ter sido um pregador justo, isso para Pedro é a chave principal para fazer o contraste para falar dos falsos e injustos pregadores, os quais serão sentenciados ao tártaro, o castigo eterno.

Por, Natanael Diogo Santos

Compartilhe este artigo com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem