A educação cristã e a confessionalidade

A educação cristã e a confessionalidade

A educação é um processo contínuo de desenvolvimento e aperfeiçoamento do ser humano. No sentido formal, designa o ensino como um sistema que compreende tanto a teoria quanto a prática. Mercê de sua importância, o artigo em questão apresenta o conceito e a simplicações da “educação cristã” e da “confessionalidade”, aborda o papel da Declaração de Fé de nossa confissão doutrinária, bem como a importância da implantação de um sistema de ensino confessional no âmbito da educação secular.

O conceito de Educação Cristã

A palavra “educação” tem origem nos termos latinos educare e educere, cujo significado básico é “nutrir” e “conduzir para fora”. Nas Escrituras, destaca-se o emprego do vocábulo grego paideia com o sentido de “ensinar” e “educar”. O Dicionário Wycliffe (CPAD, 2006, p. 597) informa que quando aplicada às crianças ela tem o sentido de treinamento e correção (Hebreus 12.5-11); e, no caso de adultos, se refere àquilo que desenvolve a alma, corrigindo erros e controlando as paixões (2 Timóteo 3.16).

O binômio “educação cristã” refere-se ao fazer educativo cristão, que se preocupa em formar no indivíduo um caráter que o torne semelhante a Cristo, o paradigma maior do discipulado cristão (COZZER, 2020, p. 96). No âmbito eclesiástico, aplica-se ao ensino da ortodoxia bíblica professada pela denominação religiosa. Na esfera da sociedade civil, dedica-se à educação formal, acadêmica e intelectual com o embasamento e a práxis dos princípios e valores cristãos (Mateus 5.13-14; Romanos 12.1-2).

O conceito de confessionalidade

Confessionalidade pode ser definida como a demonstração prática e pública daquilo em que se crê e que se professa. A confessionalidade pentecostal, por exemplo, pode ser observada na Declaração de Fé das Assembleias de Deus, que é um documento eclesiástico que organiza, de forma escrita e sistemática, as crenças e práticas das Assembleias de Deus no Brasil. Por conseguinte, a “declaração/confissão de fé” constitui-se na interpretação autorizada das Escrituras da denominação.

A confissão tem como fonte a Bíblia – única autoridade inerrante e infalível regra de fé para o cristão. Assim, a confissão se confunde com a própria fé. Cristo disse: “Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10.32). Esta confissão não é meramente verbal e teórica, mas sobretudo a ação do Espírito Santo que produz a fé no coração que leva o cristão a confessar o que crê e a agir de acordo com aquilo que confessa (Romanos 10.9,10).

A confessionalidade eclesiástica

No contexto da Igreja, a confessionalidade exprime o conjunto de ensinos ou doutrinas (didakeou didaskalia) revelados nas Escrituras. Nesta compreensão, o apóstolo Paulo exorta os obreiros a admoestarem com a sã doutrina (Tito 1.9) e a terem cuidado de si mesmos e da doutrina (1 Timóteo 4.16). Neste sentido, “as confissões, devidamente subordinadas à Bíblia, são de grande valor e uso. São sumários das doutrinas da Bíblia, auxílio para a sua sã compreensão” (SCHAFF, 1990, p. 8).

Sob este prisma, o ensino da sã doutrina conduz o crente a uma vida justa e ao comportamento de acordo com a crença doutrinária (RIBAS, 2009, p. 557). Desse modo, no propósito de orientar o fiel na práxis da caminhada cristã, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil enfatiza que o documento doutrinário, “mesmo em forma sintética, abrange todas as principais doutrinas bíblicas, facilitando o conhecimento e conservando nossa mente contra as muitas heresias” (SOARES, 2017, p. 13).

Os desafios da confessionalidade

Manter a ortodoxia e a crença nos valores da fé cristã tornou-se um desafio em tempos pós-modernos. Acredita-se que nunca uma geração foi tão exposta a correntes ideológicas como a da sociedade atual. Esta geração convive com a “Modernidade Líquida”. Segundo o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, esse período teve início após a Segunda Guerra Mundial e continua se intensificando. Para Baumann, a sociedade deixou de ser “sólida” e passou a ser “líquida”.

Dentre outros aspectos, dissemina-se a ideologia do “relativismo cultural”, em que nenhum valor é absoluto, tudo é relativo e toda a verdade depende da cultura a que se está inserido. Divulga-se que a ética cristã não pode ser parâmetro para o modo de vida e visão de mundo das pessoas. Isso acontece porque o Cristianismo prega verdades absolutas e não renuncia os valores morais e éticos da fé cristã. E a disseminação deste conceito ocorre, principalmente, por meio da educação secular com viés marxista e neomarxista.

Em vista dessas ideologias, somos confrontados a defender a ética e a moral cristã divinamente reveladas na Bíblia Sagrada (2 Timóteo 3.16,17). Os ensinos de Cristo são universais e imutáveis de geração a geração (Salmos 100.5; Mateus 24.35). Os princípios bíblicos do certo e do errado não podem ser relativizados. E embora a posição cristã seja de respeito à diversidade cultural, ao mesmo tempo professamos a existência de valores absolutos e discordamos que a revelação bíblica deva ser avaliada pela medida humana.

Diante dessa realidade, enfatiza-se que a Igreja deve envidar esforços no enfrentamento dessas mazelas como segmento de educação norteadora da formação cristã. Para isso se faz necessário ratificar a “confessionalidade” por meio da exposição das “sólidas” doutrinas bíblicas em nossos cultos e na liturgia denominacional. Além disso, tornou-se imprescindível oferecer à sociedade um sistema de ensino de cosmovisão cristã como antídoto às nefastas ideologias presentes na educação secular.

A confessionalidade nas escolas

A educação escolar básica abrange a educação infantil, o ensino fundamental e o médio (LDBEN, 1996, Art. 21). Os currículos e as propostas pedagógicas das escolas são definidos pela “Base Nacional Comum Curricular” (BNCC). Nela estão previstos o ensino do darwinismo e a sua teoria da evolução como ciência irrefutável; a religião como sendo construção cultural da humanidade; e nas ciências sociais, os alunos são estimulados a desnaturalizar condutas e a relativizar valores e costumes, dentre outros.

Com isso, ratifica-se que a Igreja deve se contrapor, ofertando uma educação com princípios cristãos. A legislação autoriza a criação de escolas de cunho confessional. Trata-se de instituição privada caracterizada por seguir uma “confissão de fé” (LDBEN, 1996, Art. 19) que não pode prescindir da legislação educacional. Por exemplo, terá que ensinar o evolucionismo de Darwin, mas poderá ensinar o criacionismo bíblico; o ensino religioso obedecerá ao credo doutrinário denominacional; e os temas sociais seguirão os pressupostos do Cristianismo.

Assim, com o objetivo de propiciar a educação confessional nas Assembleias de Deus, em 2019, a Convenção Geral instituiu a Rede Assembleiana de Ensino (R.A.E). A finalidade principal é a promoção do aprimoramento cultural e intelectual dos membros da CGADB e interessados. A Rede oferece um projeto educacional de alto padrão de qualidade. Sua implantação requer ampla visão do Reino de Deus e investimento econômico. O resultado será a formação sólida, ética e confessional, acadêmica e cultural da cosmovisão cristã das novas gerações pentecostais.

A educação cristã confessional promove o amadurecimento espiritual e o desenvolvimento acadêmico. A educação cristã terá cumprido o seu papel quando forem perceptíveis mudanças nas pessoas e na sociedade que atestem a transformação de vidas (1 Coríntios 6.10-12). Quando nos distanciamos da missão educadora da Igreja, a fé cristã é desvirtuada. Portanto, a ordem de Cristo deve ser obedecida: Ide, ensinai e fazei discípulos (Mateus 28.19-20).

Referências Bibliográficas

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDBEN, Lei nº 9.394/1996.
COZZER, Roney. Hermenêutica e Educação. Joinville: Santorini, 2020.
PFEIFFER, F. Charles. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
RIBAS, Degmar. Comentário do Novo Testamento: Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, vol. 2.
SCHAFF, Philip. The CreedsofChristendom. Grand Rapids: Baker, 1990, vol. 1.
SOARES, Esequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

Por, Douglas Roberto de Almeida Baptista.

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