A COVID-19, o pelicano no deserto e o profeta Elias

A COVID-19, o pelicano no deserto e o profeta Elias

A pandemia que aflige a humanidade teve início, como sabemos, na cidade chinesa Wuhan, sendo denominada COVID-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A enfermidade vem assolando o mundo sem distinguir ricos e pobres, atingindo milhões de pessoas em todos os continentes do planeta. Todos os ramos da vida foram impactados com a disseminação do vírus Sars-CoV-2, causador da COVID-19. Assim, com a adoção dos procedimentos de contenção do vírus, notadamente o isolamento, as pessoas se depararam consigo mesmas diariamente. O comércio, shopping, lojas, escolas, universidades, parques e demais estabelecimentos fecharam ou tiveram funcionamento reduzido. Como fruto deste novo contexto global, tem-se o aumento dos casos de transtornos depressivos e de taxas de suicídio em todo o mundo, segundo estudo desenvolvido pelo Parlamento Europeu (2020). Além disso, os templos de adoração a Deus também fecharam as portas.

Como solução alternativa, o uso da Internet se intensificou, impulsionado pela necessidade de se manter as atividades humanas, tais como compra, venda, estudo, socialização, dentre outras. Portanto, os servos de Deus enfrentam um novo grande desafio: como manter a comunhão e dar continuidade ao “Ide” de Cristo? (Marcos 16.15).

Nas Sagradas Escrituras, há paralelo para todas as circunstâncias que vivenciamos na vida, e nesse cenário de pandemia percebemos uma similaridade com o que está registrado em 1 Reis 19, quando Elias se refugiou no deserto, isolando-se, e desejou a morte.

Em 1 Reis 19, percebemos que, ao ser perseguido, Elias se isolou. O homem que foi usado poderosamente por Deus no Monte Carmelo agora está fragilizado e deprimido. Deus já havia operado os seguintes sinais e milagres por intermédio do ministério de Elias: fogo caiu do céu, seca por três anos e seis meses, chuva abundante após a grande seca, multiplicação do azeite e da farinha da viúva, e ressureição do filho da viúva de Sarepta. Mesmo assim, o profeta caiu em profunda confusão mental e sentiu medo ao ser confrontado pela rainha Jezabel (1 Reis 19.2).

Constata-se que o ser humano necessita de algum fator que o leve para cair no ostracismo: a pandemia é o aspecto atual. No entanto, nesses momentos, teremos sempre o auxílio de Deus que nunca nos abandonará.

Sim, algumas circunstâncias da vida nos impulsionam ao isolamento, no qual efetivamente deixaremos até aqueles mais próximos (1 Reis 19.3). Nessas ocasiões, percebemos toda nossa fragilidade e somos impelidos ao deserto da vida (1 Reis 19.4). Nesse cenário, diversos sentimentos podem nos abalar: tristeza, desânimo, ansiedade, cansaço, medo, dentre outros.

No transcorrer da pandemia, a taxa de desemprego aumentou, muitas pessoas morreram e o caos se concretizou. Foi imposto pelas autoridades a necessidade de isolamento social, criando um ambiente hostil e sem precedentes. Semelhantemente, imaginemos o profeta Elias sendo compelido ao deserto com tristeza na alma e isolado completamente. Sob essa perspectiva, o salmista retrata situação similar à de Elias, fazendo uma analogia com um animal que não foi feito para o deserto. Diz ele: “Sou semelhante ao pelicano no deserto” (Salmos 102.6). Ou seja, o isolamento é perigoso, pois, assim como o pelicano foi criado para viver em grupo e próximo às águas, o ser humano é essencialmente social. Porém, Elias estava, de fato, sozinho? Não, pois, ao adormecer embaixo de uma árvore, o anjo do Senhor lhe acorda e oferece duas vezes a ele pão cozido e água fresca (1 Reis 19.5-7).

Mas, o que ocorreria se o nosso Senhor não socorresse o profeta? Ele morreria, por certo, como um pelicano no deserto. Mas, ainda que meu pai e minha mãe me desamparem, o Senhor me recolherá (Salmos 27.10)!

Por isso, em tempos de pandemia, o servo do Altíssimo deve confiar na providência divina (Salmos 46.1). Para o homem secular, o isolamento traz a possibilidade de destruição e angústia (Salmos 127.1). Para o servo de Deus, o ostracismo poderá trazer ricas bênçãos e o aprimoramento necessário para o cumprimento da missão do “Ide”, havendo a elevação da maturidade que nos conduzirá da paciência à esperança (Romanos 5.3-5).

Ao oferecer alimento e água ao profeta, o anjo do Senhor diz: “Levanta-te e come, porque te será muito longo o caminho” (1 Reis 19.7). Assim, Elias percorreu cerca de 400 km do deserto de Berseba ao Monte Horebe em 40 dias. Nessa caminhada, o servo de Deus suportou extremos de temperaturas, sendo o percurso naturalmente muito quente durante o dia e muito frio à noite.

A   pandemia que assola a humanidade atualmente apresenta aos servos de Deus momentos difíceis, pois a vida, em sua normalidade, foi-se. Sim, os cultos cheios e avivados, os louvores em grupo, as ofertas, a adoração conjunta e presencial, o estudo da Palavra de Deus na Escola Dominical, as pregações e a integração com os irmãos foram restringidos ou proibidos, conforme a fase adotada (vermelha, laranja ou amarela). De certo, a tecnologia proporciona um meio-termo que possibilita o contato virtual. No entanto, “como o pelicano no deserto” (Salmos 102.6), ainda carecemos de sociabilidade presencial. Algo similar à situação do profeta vivenciamos nos dias atuais. A boa nova é que o Senhor Deus que cuidou de Elias no século IX a.C., ainda é o mesmo hoje (Malaquias 3.6)!

Com a força do alimento fornecido por Deus, o profeta caminhou 40 dias até o santo Horebe, o monte de Deus, onde entrou em uma caverna. Em dias de pandemia, quantas vezes entramos na caverna? Em quantas ocasiões fomos capturados pelo obscurantismo propiciado pelas incertezas atuais? Elias estava distante de todos e de tudo, em uma caverna escura e sem perspectiva. Ahhh..., mas o nosso Soberano Deus é fiel e onisciente! O Todo-Poderoso indagou ao Seu servo: “Que fazes aqui Elias?” (1 Reis 19.9). Pergunta profunda e resgatadora. Contudo, a resposta do profeta demonstra tristeza, decepção e medo da morte. Percebemos a total confusão na mente do profeta, pois anteriormente havia pedido a morte e agora se mostra receoso em morrer. Alguns estudiosos sustentam a hipótese de que Elias estava com depressão. Talvez sim, mas com certeza estava muito triste e sem esperanças.

Após a resposta do profeta, o Senhor ordena que ele saia da caverna. Os fenômenos que Elias presencia são indescritíveis, pois anunciam a presença do Criador: um grande e forte vento, terremoto, fogo e uma voz mansa e delicada que faz com que Elias cubra seu rosto com sua capa e se posicione na entrada da caverna. Então, novamente o Senhor indaga: “Que fazes aqui Elias?” (1 Reis 19.13). O profeta continua enfático em suas explicações, porém o Senhor lhe atribui três novas missões, que consistiriam em ungir Hazael como rei da Síria, Jeú como rei de Israel e Eliseu como profeta em seu lugar.

A Palavra de Deus é resgatadora e retira de nossas almas quaisquer sentimentos de tristeza e dor. Quando Deus indaga a Elias com a pergunta arrebatadora “Que fazes aqui Elias?”, a alma do profeta aquieta e recupera a paz! Em seguida, já curado, o mensageiro de Deus agora está em condições para a execução das missões supracitadas, que foram de extrema importância no contexto histórico e religioso daqueles dias. 

A COVID-19 desestruturou o mundo e todas as suas relações, causando um enorme trauma na economia, na vida social, no transporte de massa, no trabalho, nas cadeias de abastecimento, no lazer, no esporte, nas relações internacionais, nos programas acadêmicos; enfim, deixou um rastro avassalador literalmente em tudo. As igrejas e as comunidades religiosas também não foram poupadas, conforme retrata a pesquisa desenvolvida por Pillay (2020). Contudo, como podemos meditar neste texto, apesar das limitações humanas do profeta Elias (Tiago 5.17), o Senhor Deus o fortaleceu e lhe deu novo ímpeto para o cumprimento de sua missão, resgatando-o do isolamento, da depressão e do desânimo.

Portanto, quaisquer que sejam as circunstâncias, o nosso Deus não permitirá que os nossos pés vacilem, pois o Senhor não cochila e nem dorme, sendo nossa sombra diariamente.  O Todo-Poderoso não permitirá que o sol nos moleste de dia e nem a lua à noite. Sim, o Senhor guardará a nossa alma. Nosso Deus guardará a nossa entrada e a nossa saída para sempre (Salmos 121)! Continuemos nosso louvor e gratidão a Deus, independentemente da pandemia, pois até aqui nos ajudou o Senhor (1 Samuel 7.12)!

REFERÊNCIAS

BÍBLIA ONLINE ACF. Bíblia Online - ACF - Almeida Corrigida Fiel. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf>. Acesso em: 27/12/2020.

PARLAMENTO EUROPEU.   Impact of the COVID-19 pandemic on the increase in suicides. Disponível em: <https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/E-9-2020-006072_EN.html>. Acesso em: 24/1/2021.

PILLAY, J. COVID-19 Shows the Need to Make Church More Flexible. Transformation, v. 37, n. 4, p. 266–275, 2020.

PORTAL A DISTÂNCIA ENTRE. Distância entre Berseba e Monte Sinai. Disponível em: <https://www.adistanciaentre.com/distancia-entre-berseba-e-monte--sinai-qesm-sharm-ash-sheikh/DistanciaHistoria/1945432.aspx>. Acesso em: 23/1/2021.

Por, João Batista Martins.

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