Quando os filhos deixam a casa dos pais

Quando os filhos deixam a casa dos pais

As Escrituras ensinam que "os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão" (Salmos 127.3). Essa assertiva indica que os herdeiros são as bênçãos com as quais Deus recompensa uma família e motivo de alegria para os pais. Apesar disso, ao alcançarem maturidade suficiente os filhos precisam sair de casa para construir suas próprias famílias. Esse processo de transição geralmente está associado à conquista da independência financeira e/ou ao casamento dos filhos.

Todavia, nas últimas décadas, essa prática sofreu alterações. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2019 revela que cerca de 25% dos jovens na faixa de 25 a 34 anos prolongam a estadia na casa dos pais mesmo depois de alcançarem estabilidade econômica. A este fenômeno dá-se o nome de “geração canguru”. A demora em contrair núpcias também contribui para adiar a permanência dos filhos no teto da família. De acordo com as estatísticas atuais, os jovens estão casando-se cada vez mais tarde – a média desde a década de 70 subiu de 25 para 30 anos.

Corrobora ainda esses fatos a postura de alguns pais que dificultam e postergam a saída de seus filhos, receosos de perder o convívio e a autoridade sobre eles. Diante dessas constatações, pergunta-se: Qual o momento ideal dos filhos saírem de casa, e como se adaptar a essa realidade? Este artigo pretende, de forma sucinta, apresentar respostas plausíveis a tal experiência presente em todas as famílias.

O fenômeno da “geração canguru”

O termo “geração canguru” surgiu nos anos de 1990 na França para identificar os filhos adultos que esticam a estadia na casa dos pais. Ressalta-se que, nesses casos, a decisão de morar com os pais não é provocada exclusivamente por problemas financeiros. A maioria desses filhos possui condições econômicas de se manter, contudo eles preferem residir com os genitores. As possíveis respostas para esse fenômeno vão desde usufruir da segurança familiar à possibilidade de economizar, à busca de aprimoramento acadêmico e profissional, à fuga de relacionamentos e até como um meio de manter um alto padrão de vida de consumo e entretenimento que não seria possível de outro modo.

Porém, esse comportamento traz implicações que dificultam a emancipação e a individualidade desses filhos. A dependência dos pais prejudica a autoestima e a autoconfiança. Essa atitude impede o jovem de enfrentar a vida sem o entorno protetor da casa dos pais. Por isso, os pais não devem fomentar essa relação de dependência por tempo indeterminado. Para corrigir essas distorções, os filhos devem receber incentivo dos pais na busca da independência. O auxílio financeiro e a moradia para os filhos adultos deve ser temporário com a definição de prazos e metas a serem alcançadas, como, por exemplo, arranjar um emprego melhor, concluir um curso profissionalizante e casar-se, dentre outros.

O casamento dos filhos

Conforme as Escrituras, a criação de uma nova família requer a saída da casa dos pais: “Deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher” (Gênesis 2.24). Isso não implica em esquecer a casa dos pais, mas afastar-se geograficamente para construir seu próprio lar, adquirir seu próprio patrimônio e tomar as próprias decisões. Desse modo, os filhos devem deixar a casa dos pais logo após o casamento. Os filhos casados devem investir na união conjugal e na educação de seus próprios descendentes. Contudo, os filhos casados devem manter os laços afetivos com seus pais e a convivência harmoniosa, bem como o respeito e a honra devida aos seus genitores (Êxodo 20.12).

Não obstante, não existe uma idade ideal para o casamento. Isso depende da maturidade e das condições econômicas de cada indivíduo. Na legislação brasileira, menores de 16 anos não podem se casar. E, apesar de 36% das mulheres se casarem antes dos 18 anos, a maioria das uniões conjugais ocorre após os 25 anos de idade. Essa demora em se casar acaba atrasando a saída dos filhos da casa paterna. Em muitos casos, a situação financeira obriga os recém-casados a continuarem a morar com os pais. Porém, essa solução precisa ser temporária, sob pena de atrapalhar a privacidade do casal, haver interferência no relacionamento e se perder autonomia na tomada de decisões.

A síndrome do ninho vazio

Embora seja saudável para os filhos a saída da casa dos pais, nem sempre os genitores estão prontos para dar espaço e liberdade para seus rebentos. A “síndrome do ninho vazio” é caracterizada pelo sofrimento dos pais associado à perda do papel parental com o afastamento dos filhos do convívio familiar. É natural que os pais sintam saudades da companhia diária de seus filhos, especialmente quando dedicaram todo o amor na educação de sua prole. Porém, em casos extremos, os pais desenvolvem uma tristeza profunda acompanhada de muitas lágrimas, que se não for tratada pode desencadear doenças como a depressão.

Para equacionar esses sentimentos, é importante lembrar que os nossos filhos foram criados na “doutrina e admoestação do Senhor” (Efésios 6.3) e igualmente na promessa de “prosperidade e longevidade” aos filhos ensinados a honrar os pais (Efésios 6.2-3). No entanto, os pais devem manter a intercessão contínua pelos seus filhos (1 Tessalonicenses 7.17). Outra forma de superar a ausência dos filhos é renovar o romantismo, a intimidade e a cumplicidade conjugal. Valer-se do tempo livre, por exemplo, para viajar, desfrutar da privacidade e dedicar-se nas atividades da Igreja. No caso de um dos cônjuges se encontrar sozinho, traçar novos desafios é de grande ajuda.

As transformações sociais de nosso tempo apontam a complexidade desse processo e não estabelecem o momento certo dos filhos saírem de casa. Em vista disso, os cristãos precisam atentar para os preceitos bíblicos e instruir seus filhos no caminho em que devem andar (Provérbios 22.6). Uma família biblicamente estruturada 

não sofrerá com a saída dos filhos de casa e, tanto na infância como na fase adulta, eles serão motivo de alegria para seus pais: “O que gerar um filho sábio se alegrará nele” (Provérbios 23.24).

Por, Douglas Roberto de Almeida Baptista.

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