Existe alguma discrepância nas palavras de Jesus na narrativa em Mateus 18.20 e 28.20? Ele estará apenas se estiverem duas ou mais pessoas, ou mesmo na solidão em muitas situações da vida?
Uma reflexão que tem como objetivo resolver aparentes contradições em textos bíblicos deve começar com as seguintes considerações: 1) a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus (2 Timóteo 3.16; 2 Pedro 1.20,21); 2) a Palavra de Deus não erra (Salmos 19.7; 119.140); 3) não existe contradição nas Escrituras. Portanto, entendemos que não há contradição e nem tampouco discrepância nos textos de Mateus 18.20 e 28.20, embora haja necessidade de uma explicação a fim de satisfazer as dúvidas e evitar possíveis confusões.
Ressalta-se que o Evangelho de Mateus é o que mais aborda as responsabilidades e a conduta nos variados aspectos da Missão da Igreja. Por exemplo, observamos em Mateus 18.15-20 a ênfase sobre o processo de disciplina de um membro cujo erro afetou de alguma forma o Corpo de Cristo, e a promessa que Jesus faz, ao dizer “...onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (v. 20). Esta serve como garantia de Sua presença como fonte de encorajamento para que a Igreja – ainda que em número reduzido – exerça sua autoridade e responsabilidade em cumprir a necessária e correta disciplina. A respeito disso, o comentarista Matthew Henry afirma: “Eles são aqui instruídos a se reunir em nome de Cristo. No exercício da disciplina da igreja, eles devem se reunir em nome do Senhor Jesus Cristo (1 Coríntios 5.4). Este nome fornece ao que eles fazem uma autoridade na terra, e uma aceitabilidade no céu. (...) Eles são aqui encorajados com uma garantia da presença de Cristo. (...) Embora apenas dois ou três estejam reunidos, Cristo está no meio deles” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry Novo Testamento – Mateus a João. CPAD, 2018, p. 235).
Nota-se que, embora possa ser aplicado de outras formas como a de reafirmar a certeza da presença do Senhor Jesus com Sua Igreja, todavia, em seu uso original, esse texto tão conhecido tem relação com a responsabilidade da Igreja em exercer sua função disciplinar e como isso deve ser realizado.
Mas, quanto à promessa registrada em Mateus 28.20, na qual o Mestre afirma “...e eis que eu estou convosco todos os dias...”, ela é dirigida aos discípulos no mesmo momento em que estes receberam a incumbência de ensinarem e fazerem discípulos de todas as nações (v.19). O Senhor quis dizer aos Seus seguidores que, à medida que eles repassassem a mensagem da salvação, a Sua presença estaria com eles. Diante disso, tudo indica que a promessa da presença de Jesus é condicional à obediência dos crentes em atuar no sentido de fazer discípulos e ensiná-los a verdade do Evangelho.
Com base na reflexão exposta acima, conclui-se que definitivamente não há contradição entre os textos analisados. Na verdade, esses registros garantem a presença de Jesus com a Sua igreja no exercício de sua missão na Terra. Embora a promessa feita tenha sido dirigida à Igreja em sua coletividade, um cristão que vive de maneira a honrar seu Senhor como igreja e cumpre a missão de fazer discípulos pode ter a certeza de que a presença de Jesus está permanentemente ao seu lado, fortalecendo-o e ajudando-o.
Por, Elias Rangel Torralbo.
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