Apenas uma ausência é notada: o prestativo e eficiente servo do comandante da guarnição romana não se apresentara para cumprir com as suas obrigações. Teria ele fugido? Se cansara das exigências de seu senhor? Sucumbira à tentação de se juntar aos zelotes numa inútil luta armada contra o domínio romano? Questionamentos à parte, ao centurião só importava o cumprimento das ordens de Roma omni ope, agindo com lealdade à convocação recebida. Não admitia desobediência, revolta, desordens ou traição. Já vira muitas legiões sofrer incontáveis baixas por causa dessas infrações. Logo, tinha que saber o que acontecera com o seu eficiente servo.
Moribundo em seu leito de dor, atormentado por uma infame moléstia que o paralisara, o leal servo não havia fugido abandonando seus afazeres, tampouco traído a confiança de seu senhor, mas, debilitado, sucumbira à exaustão e à fadiga causadas pela terrível enfermidade que o abatera. “Meu servo sarará!”, bradou com fé o condescendente centurião, ordenando ao seu imediato que buscasse um médico com urgência. “Meu servo sarará!”, assegurou uma vez mais, disposto a gastar vultosas somas de seu soldo para restabelecer a saúde daquele singular serviçal.
Desde o passado, o serviço médico, além de caro, era acessível apenas aos mais abastados, por isso tinha esperança de que a melhor assistência o salvaria. Informado pelo profissional de saúde de que não havia muito a se fazer, o piedoso centurião, desejoso em ver seu criado restabelecido, não aceitou o diagnóstico de infortúnio, mas, em tom amável, disse a todos: “Meu servo sarará, pois farei o que estiver ao meu alcance para vê-lo curado”. Ciente de que o dinheiro, médico, remédios e os melhores tratamentos eram ineficazes diante da irremediável situação e pretensa morte de seu servo, foi-se a buscar o jovem galileu que todos chamavam de Jesus de Nazaré, detentor de todo o poder nos céus e na terra.
Despido de sua autoridade militar, o eminente centurião, acostumado a comandar, agora com humildade e autêntica súplica de um coração contrito roga ao mestre Jesus: “Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico, e violentamente atormentado [...] Não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra e o meu servo sarará” (Mateus 8.5-8).
Conhecedor dos meandros da alma e da sinceridade dos corações, admirado com a fé do centurião, através do poder da sua eterna e imutável Palavra, Jesus lhe assegurou: “Vai e como creste te seja feito”. Na consternada atitude do centurião, vemos a expressão de sua empatia por alguém subordinado à sua autoridade, socialmente inferior, indigno, mas que ganhou seu apreço e cuidados devido à sua fidelidade, respeito e bons serviços, que o levaram a se humilhar, reconhecendo a supremacia e poder de Jesus sobre tudo e todos.
Por, Cezar Frugoni.
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