Meu servo sarará!

Meu servo sarará!

Encravada a margem Norte do Mar da Galiléia, entre Betsaida e Corazim, à beira da Via Maris, se destaca Cafarnaum, uma modesta aldeia cercada de palmeiras que dançam ao vento da maresia com seu inconfundível aroma de algas marinhas e fitoplânctons. A cada amanhecer, seus cidadãos levantam-se para cumprir o labor diário. Mulheres amassam farinha para fazer pão; pescadores habilidosos lavam e consertam suas redes para mais uma jornada marítima; agricultores atrelam jugos aos pescoços de suas juntas de bois para lavrar a Terra que Mana Leite e Mel; aldeões apressados seguem seu caminho em busca de mais um denário para sustento de suas famílias; ruidosas crianças correm e saltam como cabritos monteses lançando ao ar partículas de poeira, ao mesmo tempo em que dedicados religiosos se dirigem à sinagoga para mais uma jornada espiritual, enquanto soldados aquartelados mantém a ordem social, vigiando as fronteiras da região, protegendo com rigor o lucrativo posto alfandegário.

Apenas uma ausência é notada: o prestativo e eficiente servo do comandante da guarnição romana não se apresentara para cumprir com as suas obrigações. Teria ele fugido? Se cansara das exigências de seu senhor? Sucumbira à tentação de se juntar aos zelotes numa inútil luta armada contra o domínio romano? Questionamentos à parte, ao centurião só importava o cumprimento das ordens de Roma omni ope, agindo com lealdade à convocação recebida. Não admitia desobediência, revolta, desordens ou traição. Já vira muitas legiões sofrer incontáveis baixas por causa dessas infrações. Logo, tinha que saber o que acontecera com o seu eficiente servo.

Moribundo em seu leito de dor, atormentado por uma infame moléstia que o paralisara, o leal servo não havia fugido abandonando seus afazeres, tampouco traído a confiança de seu senhor, mas, debilitado, sucumbira à exaustão e à fadiga causadas pela terrível enfermidade que o abatera. “Meu servo sarará!”, bradou com fé o condescendente centurião, ordenando ao seu imediato que buscasse um médico com urgência. “Meu servo sarará!”, assegurou uma vez mais, disposto a gastar vultosas somas de seu soldo para restabelecer a saúde daquele singular serviçal.

Desde o passado, o serviço médico, além de caro, era acessível apenas aos mais abastados, por isso tinha esperança de que a melhor assistência o salvaria. Informado pelo profissional de saúde de que não havia muito a se fazer, o piedoso centurião, desejoso em ver seu criado restabelecido, não aceitou o diagnóstico de infortúnio, mas, em tom amável, disse a todos: “Meu servo sarará, pois farei o que estiver ao meu alcance para vê-lo curado”. Ciente de que o dinheiro, médico, remédios e os melhores tratamentos eram ineficazes diante da irremediável situação e pretensa morte de seu servo, foi-se a buscar o jovem galileu que todos chamavam de Jesus de Nazaré, detentor de todo o poder nos céus e na terra.

Despido de sua autoridade militar, o eminente centurião, acostumado a comandar, agora com humildade e autêntica súplica de um coração contrito roga ao mestre Jesus: “Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico, e violentamente atormentado [...] Não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra e o meu servo sarará” (Mateus 8.5-8).

Conhecedor dos meandros da alma e da sinceridade dos corações, admirado com a fé do centurião, através do poder da sua eterna e imutável Palavra, Jesus lhe assegurou: “Vai e como creste te seja feito”. Na consternada atitude do centurião, vemos a expressão de sua empatia por alguém subordinado à sua autoridade, socialmente inferior, indigno, mas que ganhou seu apreço e cuidados devido à sua fidelidade, respeito e bons serviços, que o levaram a se humilhar, reconhecendo a supremacia e poder de Jesus sobre tudo e todos.

Por, Cezar Frugoni.

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