A perigosa comunhão da luz com as trevas

A perigosa comunhão da luz com as trevas

Soa-nos paradoxal pensar em uma incrível e, ao mesmo tempo, impossível união entre luz e trevas. Não obstante, uma das marcas da pós-modernidade tem sido exatamente o desconstrucionismo, que prega, a todo custo, uma brusca e radical mudança tanto nos valores éticos e morais quanto nos espirituais. A supervalorização do errado em detrimento ao certo nunca tinha auferido tanta força como atualmente, o aumento desenfreado dos que defendem o conceito de viver a vida como lhe convém tem crescido exponencialmente. Para esses praticantes, o que define a palavra liberdade é viver a vida ao seu próprio modo.

Outrossim, não é difícil depara-nos, aqui ou ali, com algumas pessoas que acreditam pertencer ao Cristianismo e mesmo assim insistem em levar uma vida nos moldes de suas próprias concupiscências. Bebem insaciavelmente das turvas águas do hedonismo e do egocentrismo e, como se não bastasse, apoiam toda sorte de pecados e práticas imundas, como o aborto, ideologia de gênero, casamento homossexual, poligamia etc. Estes atos são severamente defendidos por aqueles que dizem acreditar em um “Deus de amor” que ama a todos independente do que se pratica por meio do seu corpo. Esse Deus, segundo eles, não se importa com nada do que eles fazem, Ele ama-os exatamente como são e não se importa com qualquer eventual pecado cometido.

Esse perigoso pensamento, infelizmente, tem rondado alguns arraiais, levando alguns de nossos irmãos, leigos e instruídos, a tomarem uma postura politicamente correta por influência destes falsos ensinos. Até mesmo aqueles que se dizem doutores têm caído nessa cilada deletéria, pregando um desconstrucionismo nas doutrinas e crenças que, por meio de nossos pais na fé, recebemos de Deus. Pensam que os seus doutorados dão-lhes o direito de dizer que nossas doutrinas são apenas interpretação teológica e que a experiência sobrepõe-se à Palavra de Deus. Apoiam um tal de “cristianismo inclusivo”, no qual deve-se abrir as portas para o feminismo, homossexualismo e até mesmo o aborto.

Tais condutas se dão pelo simples fato de temerem que sejam tachados de quadrados, retrógrados, preconceituosos, divergentes, anormais etc. Preocupam-se cegamente em agradar os que vivem uma vida de pecado agindo de forma que não venha incomodar as opiniões dos que divergem dos mandamentos sagrados. Querem a todo custo pregar um evangelho mais brando, sem renúncias, sem inimizade com o pecado e com evolução constante nos meios de pregação para agradar a maioria.

Seus objetivos claramente demonstram que há um grande interesse por parte desses indivíduos em apregoar um ecumenismo entre o certo e errado, entre santidade e o pecado, e entre a luz e as trevas. Suas ações os tornam cada vez mais omissos à verdade, e cada vez mais unidos com a mentira.

Mas seria possível haver tal união entre ambos? Obviamente que não (2 Coríntios 6.14-18; 1 João 1.5-7). Mesmo assim, alguns fantasiam essa possibilidade hipotética no pensamento de construir uma ponte entre o pecado e as leis divinas.  É notável em toda a Bíblia que Deus sempre reservou o Seu povo para ser exclusivo, Seu. Isso é visto desde o pacto feito com Abraão através da circuncisão (Gênesis 17.1-14). Da mesma forma, os demais patriarcas eram advertidos a andar nos caminhos exclusivamente de Deus (Gênesis 6.18, 26.2-5, 28.11-21). Assim também aconteceu com a já instituída nação de Israel, quando o Senhor os convida a ser um povo exclusivo dEle, estabelecendo leis para que os filhos de Jacó se destacassem dos demais. Os três primeiros mandamentos do decálogo expressam muito bem o desejo que Iavé tinha para o Seu povo (Êxodo 20.1-3). O Senhor desejava que eles seguissem as Suas leis para que as demais nações os enxergassem como um povo distinto e com identidade própria. Deus não queria uma nação semelhante às demais. O que Ele realmente esperava de Israel era uma separação em todos os sentidos: ética, cultural e religiosa. Deus não estava procurando um povo idêntico aos demais; se não, não precisaria procurar.

Isso é tão verdadeiro que os grandes gigantes da fé podem ser perfeitamente definidos como pessoas que buscavam por essa riqueza inigualável. Um exemplo enigmático foi o próprio Daniel e seus três amigos, que mesmo sofrendo ameaças e tentativa de morte, não se misturaram com os ritos de seus opressores (Daniel 1.6-7). Daniel não deixou se influenciar  pelo que parecia moda em seus dias, não usou  a modernidade dos seus dias como desculpa para praticar o que não era lícito diante dos olhos de Deus. Ele foi um grande exemplo de uma pessoa que influencia  e  que não se deixa influenciar.

Esse pernicioso mal tem desencadeado outros graves problemas que também são notavelmente danosos. Um exemplo claro é o surgimento de novas denominações para todos os gostos e também o aumento desenfreado dos desigrejados. Esses e outros prejuízos são efeitos colaterais dessa tentativa de união que algumas pessoas desejam obter entre a luz e as trevas. Tais intentos têm influenciado e continuarão influenciando muitos a abandonar as confissões de fé e a ver o conceito de igreja cada vez mais insignificante ou até mesmo desnecessário. Isso já vem acontecendo atualmente, e a juventude, na busca de identidade e respostas para suas perguntas, acabam sendo atraídas por esse prato venenoso. Logo que entram na internet, se deparam com os famosos gurus que com ferocidade atacam as igrejas e sua ortodoxia, desmerecendo os seus líderes e todos os demais. Pregam um evangelho mais ameno, que não necessita de regra ou liderança sacerdotal. O negócio é ser quem quiser e como quiser sem ninguém orientando.

Logram para desacreditar as doutrinas, mencionando que elas estão ultrapassadas e que nem o apóstolo Paulo passaria no crivo de tais mandamentos. Alegam que o evangelho tem que se modernizar de acordo com cada geração e que são elas que dirão se tal doutrina faz ou não sentido a elas, pois essas não passam de interpretação teológica, dando a entender que o empirismo é mais interessante do que os próprios mandamentos cristãos e apostólicos. Chegam até a propor questões que põem em dúvida a inspiração da Bíblia Sagrada, alegando que nada pode ser dito com precisão. Gostam de apregoar suas ideias nos principais canais das redes sociais, espalhando seu veneno e levando muitos a caírem em suas vãs filosofias, criticando quem prega o autêntico evangelho. Quem age com verdade é tachado de exagerado e fanático.

Isso tudo é reflexo do grande mal que essa tentativa forçada de comunhão entre as obras da luz com as das trevas tem causado. E não precisa ser bem instruído para saber que ambas não podem subsistir no mesmo espaço; onde há uma, a outra não pode estar. Onde existe trevas não há luz, e onde há luz não há trevas. Se alguém julga ser luz, a consequência dessa escolha será deixar de ser trevas; da mesma maneira, se alguém desejar unir-se às trevas, consequentemente deixará de ser luz. Não há meio termo quanto a essa verdade: ou você brilha ou está apagado; ou é diferente ou então é igual.

Aquele que toma a decisão de militar pelo evangelho não pode ser neutro em relação às obras das trevas. Quem se mantém calado é porque está consentindo. Cristo não nos prometeu amor e aplausos do mundo; ao contrário, Ele nos alertou que seríamos odiados e massacrados por amor ao Seu nome (João 15.15-20, 16.33; Mateus 10.22). Engana-se quem pensa que nosso dever é apenas se abster do mal; é nossa obrigação também denunciar as obras más e vergonhosas que o mundo pratica, mostrar que Deus não se agrada de tais ações e que um dia prestaremos contas a Ele por todas obras que aqui fizemos (Eclesiastes 12.14; Romanos 14.12; 2 Coríntios 5.10). A luz tem esse papel de expor, mostrar os defeitos, as imperfeições, e de ser transparente e visível a todos.

Isso é tão verdadeiro que aquele que é ímpio odeia a luz, por medo de suas obras pecadoras serem descobertas (João 3.19-21). Mas, se pararmos para pensar, esse é o principal dever da luz: se ela não ilumina mais, então para que servirá? Não terá mais utilidade alguma para ninguém, na verdade; nem de luz pode mais ser chamada. A incumbência da luz é incomodar as trevas com sua presença, é mostrar tudo que está oculto e escondido, é em tudo ser autêntica e verdadeira. O próprio Senhor Jesus diz que “quem me segue nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8.12), ou seja, o verdadeiro servo de Cristo não tem meio lado: ele é luz e anda na luz (1 João 1.5-7). Paulo nos chama de filhos da luz (1 Tessalonicenses 5.5), porque os que servem a Cristo não devem mais andar em trevas. Isso nos faz recordar o que disse o salmista: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho.” (Salmos 119.105). O autêntico servo do Senhor anda continuamente na luz e é por ela guiado. É por isso que, enquanto estivermos sob a luz, jamais tropeçamos.

Estar em Cristo e servir a Ele significa ser luz assim como Ele é.  É exatamente isso que o doutor dos gentios queria que os seus leitores entendessem. Ele diz que “Noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz.” (Efésios 5.8). Depois de iluminados por Cristo, devemos também iluminar e expor o pecado (Atos 13.47).

Por, Osiel de Sá.

Se este artigo foi útil para você compartilhe com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem