Bernard Reder foi o autor da escultura que marca o local do feito e a foto tirada pelo soldado Micha Perry permanece como um testemunho inestimável nos arquivos do governo israelense para as gerações seguintes, o testemunho de uma campanha silenciosa, em que a pequena tropa avançou sem dar um tiro, apenas prosseguindo, cientes da necessidade estratégica daquela conquista, até alcançar aquela que é, hoje, a região mais ao Sul de Israel, a delicada vizinhança com o Egito e a Jordânia, o acesso ao Golfo de Ácaba, ao Mar Vermelho, a proximidade com a Arábia Saudita, a possibilidade de trânsito entre o Médio e o Extremo Orientes, e a possibilidade de vida e de segurança para as regiões desérticas do Neguev. A operação chamou-se Uvda, em hebraico, que significa “fato”, pois, de fato, a conquista da terra somente materializou-se ali.
Rashrash tem hoje o nome de Eilat, cidade próspera, alegre, com seus cerca de 60 mil habitantes e uma temperatura amena de aproximadamente 21 graus nos meses de dezembro a março, tendo se tornado o refúgio ensolarado para os países europeus nos meses de inverno. Essa cidade símbolo do renascimento de um Estado abriga vestígios de seu passado ao mesmo tempo em que dá lugar às tecnologias e facilidades da vida moderna. Eilat é visitada por suas praias de águas claras, pelo Observatório Parque Marinho, pelo Parque da Vida Selvagem Hai-Bar, no Vale de Aravah desde 1961, lugar destinado a promover a restauração da fauna original daquela área específica e das terras bíblicas como um todo, além de ser um lugar de acesso ao Parque de Timna e às Minas do Rei Salomão. Também se destaca como uma das áreas de maior concentração de aves migratórias do mundo, razão pela qual lá foi estabelecido o Centro Internacional de Observação de Pássaros – todos os anos, cerca de um bilhão de aves atravessam a área, num verdadeiro espetáculo de vida e de exaltação ao Criador.
Eilat é a antiga Ezion-Geber, um dos acampamentos dos filhos de Israel em sua peregrinação pelo deserto (“...e acamparam em Ezion-Geber...”, Números 33.35) há cerca de 3.300 anos. Nos dias do rei Salomão, foi um importante centro comercial e porto estratégico (“...e o rei Salomão fez uma frota de navios em Ezion-Geber, que está ao lado de Elot, na costa do Mar Vermelho, na terra de Edom”, 1 Reis 9.26). A região também é citada nos dias do rei Jeosafah, quando o monarca preparou uma expedição cujo objetivo era alcançar as minas douradas de Ofir, intento frustrado, uma vez que os navios quebraram estando ainda no porto (1 Reis 22.48). Nelson Glueck, arqueólogo norte-americano, encontrou os restos dos navios e os vestígios dos galpões e das cargas referidas.
O porto foi objeto de disputas de muitos povos, exatamente por sua localização. Por ele lutaram os edomitas, os nabateus, os egípcios (que apelidaram o lugar de “Berenice”), os gregos e os romanos. Durante a dominação romana, foi chamado de Aila. Os cruzados dominaram o lugar e construíram ali uma fortaleza na Ilha dos Corais. Aos cruzados seguiram-se os turcos e a esses, os ingleses. Durante o Mandato Britânico, tornou-se um posto policial. Os israelenses em campanha encontraram ali a antiga delegacia, que deveria estar sendo guardada por soldados jordanianos, mas estava silenciosa e vazia.
Foi nessa peculiar circunstância que os rapazes de Abraham Adan chegaram a Eilat. Avançaram rápida e prontamente, sem encontrarem qualquer resistência. Depararam-se, então, com uma falha: ninguém portava uma bandeira israelense para marcar a posse do local. Deu-se o improviso: alguns soldados obtiveram uma folha em branco, nela pintaram à caneta duas faixas de tinta azul e fixaram, ao centro da folha, uma estrela de Davi que fora rasgada de um kit de primeiros socorros. Por isso, a tomada de posse das terras do Estado de Israel tem como símbolo a “Ink Flag”, a “Bandeira de Tinta”.
Talvez alguém questione a necessidade de se tomar posse de um sítio teoricamente já conquistado, mas tal linha de pensamento deixa de levar em consideração a existência de marcos que vão além de sua importância geográfica, mas que figuram como afirmação de um projeto, consolidação de um sonho e estabelecimento bem determinado de fronteiras. O mapa de Israel mostra, como uma seta apontando para o sul, o reconhecimento de que os limites nacionais se estendem naquela direção e navegam nas águas do mar que, um dia, os pais judeus atravessaram a pé.
O Museu de Eilat contém em seu acervo um misto de registros das dádivas do Senhor para aquela região, podendo ser vistas as conchas, as fotos de pássaros os mais variados, peixes e moluscos que povoam aquelas ricas águas. Possui também o tesouro do testemunho de homens que travaram a guerra até o seu fim, sem desprezar a importância de concluir aquilo que lhes havia sido confiado. Lá está a “Bandeira de Tinta”, testemunhando a perseverança daqueles que a confeccionaram e que a ergueram.
Fica o exemplo de que uma batalha não concluída jamais significará a posse, de fato, da vitória. Por vezes necessitamos avançar silenciosamente, guardando, porém, a perseverança de que a carreira será levada a termo. Alguns desdenharão do avanço, uma vez que já nos poderiam afagar alguns louros precoces. Mas, o verdadeiro soldado permanece empenhado em sua missão – até o fim.
Além do exemplo, a gratidão é a resposta daqueles que ainda iniciam suas jornadas àqueles que já concluíram as suas. Quanto ao pendão que empunhamos se, porventura, não estiver visível em nossas mãos, importa que esteja presente e gravado no coração de cada combatente pela Cruz. A Bandeira é o Reino em nós.
Por, Sara Alice Cavalcanti.
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