Inscrição hebraica mais antiga do mundo

O Altar de Josué, descrito em Josué 8.30-32 e encontrado em 1983, é o primeiro centro de culto israelita completo - incluindo um altar para holocaustos - disponível para estudos

Texto achado no Altar de Josué remete à passagem de Deuteronômio 27 e traz o nome de Deus escrito em três letras em vez de quatro

No dia 24 de março, a Associação para Pesquisa Bíblica (ABR, na sigla em inglês) anunciou a descoberta de uma pequena tábua de aproximadamente 2 cm que está relacionada à maldição do Monte Ebal e ao altar que Josué construiu nesse monte, e que é agora o texto hebraico mais antigo do mundo já encontrado. O anúncio foi feito durante uma coletiva de imprensa na Biblioteca de Teologia Lanier, na cidade de Houston, no Estado do Texas, nos Estados Unidos.

Também chamada pelos arqueólogos como “O tablet de maldição”, o objeto foi encontrado em dezembro de 2019, quando Scott Stripling, diretor de escavações da ABR e diretor do Instituto de Estudos Arqueológicos do Seminário Bíblico em Katy, Texas, liderou uma equipe para fazer buscas no material descartado de escavações realizadas no Monte Ebal no período de 1982 a 1989 pelo arqueólogo Adam Zertal, ex-diretor e professor do Departamento de Arqueologia da Universidade de Haifa, em Israel, que faleceu em 2015. Ele foi o responsável por encontrar o Altar de Josué no Monte Ebal, conforme Josué 8.30-32, e que foi o cumprimento de uma ordem dada por Deus através de Moisés e que fora detalhada em todo o capítulo 27 do Livro de Deuteronômio.

Tablet de chumbo encontrado no monte Ebal visto de fora; internamente, via escaneamento em 3D, a inscrição interna pôde ser finalmente lida pelos especialistas, que constataram o nome de Deus inscrito com três letras

A história da descoberta do Altar de Josué

O Altar de Josué, descoberto por Zertal em 21 de outubro de 1983 e confirmado há mais de dez anos como genuíno, é o primeiro centro de culto israelita completo, incluindo um altar para holocaustos, disponível para estudo. Graças às ações dos reis Josias e Ezequias para acabar com os altares nos “lugares altos”, apenas dois pequenos altares para holocausto foram descobertos em Israel, um em Arad e outro (descoberto, mas não intacto) em Berseba, e ambos datam de um período relativamente tardio. Já o Altar do Monte Ebal não era apenas o mais antigo e completo, como também era o protótipo do altar israelita para oferta queimada nos períodos do Primeiro e do Segundo Templo. Ele foi erguido simplesmente por Josué. A influência mesopotâmica arquitetônica (Abraão veio da Mesopotâmia) sobre a estrutura do altar também é muito interessante, tanto na sua construção e reforço como na orientação de seus cantos para o norte, o sul, o leste e o oeste.

O Altar de Josué é uma estrutura de pedra de 9,15 metros por 7 metros, contendo a presença de ossos de ovelhas, cinzas e uma substância escura, identificada como sangue coagulado. Anos atrás, a Universidade de Haifa confirmou a autenticidade da descoberta. Vários objetos encontrados no local, como é o caso de uma cerâmica, têm sido datados, pelo método do carbono-14, como pertencentes a 1.200 anos antes de Cristo.

Adam Zertal, ex-diretor e professor do Departamento de Arqueologia da Universidade de Haifa, em Israel, que faleceu em 2015, foi o responsável por encontrar o Altar de Josué no Monte Ebal em 1983, onde o tablete de chumbo foi encontrado em dezembro de 2019

Inscrição só pôde ser lida através de escaneamento em 3D

Inicialmente, Zvi Koenigsberg, que ajudou Zertal na escavação do Altar de Josué, contou que o tablete foi encontrado nas “muitas pilhas de terra deixadas após a escavação”. Ele explicou que foi identificada “uma marca que lembra uma flor de lótus e a antiga letra hebraica Aleph”. Composto de chumbo, o material dobrado indicava que havia mais escritos na parte interior, mas, para que o material não se deteriorasse, os arqueólogos não puderam abri-lo. A pequena tábua foi então enviada para Praga, na República Tcheca, onde foi escaneada e criada, a partir das imagens geradas, uma cópia em modelo 3D que possibilitou a leitura na parte interna da tábua.

O jornal Jerusalém Post afirma que Stripling estabeleceu uma colaboração com quatro cientistas da Academia de Ciências da República Tcheca, liderados por Daniel Vavrik, e dois epígrafos – especialistas em decifrar textos antigos –, os quais são Gershon Galil, da Universidade de Haifa, e Pieter Gert van der Veen, da Johannes-Gutenberg-Universitat Mainz. O texto revelado na antiga inscrição consiste em 40 letras hebraicas e 23 palavras, onde a palavra “amaldiçoado” aparece 10 vezes e a palavra “Deus” aparece duas vezes também na forma hebraica.

A tradução da inscrição e o nome de Deus em três letras

Especialistas divulgaram a seguinte tradução da tábua em hebraico: “Amaldiçoado, amaldiçoado, amaldiçoado – amaldiçoado pelo Deus YHW, você morrerá amaldiçoado; amaldiçoado você certamente morrerá, amaldiçoado por YHW, amaldiçoado, amaldiçoado, amaldiçoado”. Antes desta recente descoberta, a inscrição mais antiga conhecida contendo o nome de Deus era a Pedra Moabita ou Estela de Mesha, datada de cerca de 840 a.C., onde aparece o tetragrama YHWH. Uma curiosidade é que, no achado do Monte Ebal, o nome de Deus aparece escrito com apenas 3 letras: YHW. É a primeira vez que o nome de Deus aparece com apenas três letras. Não se sabe ainda a razão disso, mas esse fato pode indicar que, nos dias de Moisés e Josué, ele era escrito dessa forma. E não há chance de ser um erro de quem escreveu, porque o nome de Deus é repetido duas vezes na inscrição e sempre da mesma forma.

Datado em cerca de 3.200 anos a.C., a descoberta arqueológica também confronta o raso argumento de críticos da Bíblia de que o povo de Israel não sabia ler e escrever na época do êxodo do Egito, e que não poderiam ter escrito a Bíblia na época. O achado é uma prova irrefutável de que o povo de Israel sabia ler e escrever em hebraico, escrevendo no que hoje é considerado o proto-hebraico ou hebraico bíblico.

O texto encontrado na tábua se encaixa na narrativa bíblica dos livros de Deuteronômio e Josué. Quando os levitas são instruídos por Moisés, a liderar todo o povo de Israel do topo do Monte Ebal, em uma sequência de 11 maldições contra quem fizer imagem de escultura ou de fundição ao Senhor, desonrar sua mãe ou pai, remover os limites de seu vizinho, fizer que o cego erre de caminho etc. (Deuteronômio 27.15-26).

Em Josué 8.30, Josué cumpre a ordem e constrói um altar no Monte Ebal após sua batalha com Ai, e faz ali um holocausto a Deus, repetindo as maldições de Moisés.

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