Geopolítica de Deus: filhos retornam ao lar

Geopolítica de Deus: filhos retornam ao lar

"Não temas porque eu sou contigo; trarei a tua semente desde o Oriente e te ajuntarei desde o Ocidente. Direi ao Norte: Dá; e ao Sul: Não retenhas; trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra, a todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória, eu os formei, sim, eu os fiz” (Isaías 43.5-7).

Os últimos acontecimentos na Europa Oriental certamente aumentaram, em muito, os afazeres de Pnina Tamano-Shata, ministra da Absorção de Imigrantes em Israel ou ministra da Aliah e Integração. A advogada e jornalista etíope, nascida em 1981 e nomeada para o Knesset em março de 2010, se tornando a primeira mulher imigrante a ocupar tal cargo, tem feito ouvir sua voz e lutado por fazer cumprir a Lei do Retorno nesses tempos de guerra, para conceder aos judeus de todo o mundo a cidadania israelense, muito especialmente, no presente momento, a judeus ucranianos e russos.

A Lei do Retorno, estabelecida no dia 5 de julho de 1950 pelo Parlamento de Israel, data coincidente com o aniversário da morte do sionista Theodore Herzl, declara que todos os judeus possuem o direito de retornarem à sua pátria na condição de um ‘oleh’ e de se tornarem cidadãos israelenses. São palavras de Herzl: “Todo judeu tem o direito de vir a este país como um oleh”. David Ben-Gurion, quando primeiro-ministro, esclareceu que a Lei do Retorno não conferia um direito, apenas o reafirmava: Esta lei não prevê que o Estado conceda o direito de se estabelecer ao judeu que vive no exterior; afirma que esse direito lhe é inerente pelo próprio fato de ser judeu; o Estado não concede o direito de retorno aos judeus da diáspora. Este direito precede o Estado; este direito constrói o Estado; a sua fonte encontra-se na ligação histórica e nunca rompida entre o povo judeu e a pátria”. Aqueles que chegam a Israel pela Lei do Retorno recebem, de imediato, cidadania israelense.

O termo hebraico ‘aliyah’ significa ascensão, sendo o oposto de ‘yerida’, descida. Segundo esse importante conceito, aqueles que imigram para a Terra de Israel sãos os ‘olim’, os que ascenderam, e aqueles que emigram são chamados ‘yordim’, os que desceram. Israel tem vivido não apenas momentos de grande imigração, mas verdadeiras ondas, sendo relatadas como primeira aliah (1882), segunda aliah (1914), e assim sucessivamente. A sexta ‘aliah’ ficou conhecida por trazer a Israel os sobreviventes do Holocausto, nos anos de 1945 e 1948. Mas os ‘olim’ continuam a chegar, vindos da Etiópia, da antiga União Soviética e de outros lugares para onde os judeus foram espalhados. No decorrer do presente conflito envolvendo a Ucrânia, houve necessidade de intérpretes voluntários que falassem russo, ucraniano e hebraico – eles foram encontrados em Israel. Trata-se de imigrantes ou filhos de imigrantes, que se tornaram ferramentas importantes no presente momento, para ajudar no processo de socorro e de integração dos refugiados da guerra. A ‘aliah’ é, portanto, um movimento contínuo, percebendo momentos de maior e de menor fluxo. Israel vive, hoje, uma nova onda de imigração.

Reunir um povo disperso até os confins da terra (Isaías 11.12) envolve questões logísticas importantes, que vão desde a manutenção da integridade de suas vidas enquanto ainda estão na região de conflito (no caso dos ucranianos e dos etíopes), efetuar o trânsito de famílias buscando amenizar os traumas com sensibilidade diante de suas perdas, providenciar lugares de pouso e de espera que sejam dignos, erguer hospitais de campanha, oferecer aos idosos, crianças e pessoas com necessidades especiais o máximo de conforto possível diante das circunstâncias, lidar com a burocracia diplomática para obter toda a documentação possível, lidar com dificuldades políticas, financeiras e com o preconceito. São desafios que Israel, como nação, precisa enfrentar.

As divergências internas tentam prejudicar o processo. O ministro do Interior, Ayeler Shaked declarou recentemente que Israel deverá colocar um limite para a entrada de judeus ucranianos, afirmação que foi duramente repelida pelo primeiro-ministro Naftali Bennet, para quem Israel deve reunir esforços em prol dos refugiados: “O Estado de Israel foi fundado como um estado que é o lugar mais seguro do mundo para os judeus, [...], este é o coração de seu propósito, [...], é um refúgio para judeus em perigo”. Na reunião com o Comitê Ministerial sobre Aliah e Integração, Bennet citou as antigas ondas de imigração da União Soviética, Etiópia e Iêmen. “Este é o nosso propósito”, declarou, “o Estado de Israel fez isso mais de uma vez em sua história e desta vez também cumpriremos essa tarefa sagrada”.

Ainda que Naftali Bennet tenha convocado os israelenses a abrirem as portas e os corações aos novos imigrantes, estes se depararam com algumas situações desconfortáveis, como longas permanências no aeroporto, falta de infraestrutura na recepção, demora na liberação de documentos. É compreensível que ocorra algum embaraço, se considerarmos que mais de 3100 imigrantes vieram da Ucrânia para Israel em 2021 e, agora, somente numa manhã de domingo, chegaram mais de 2000 pessoas, enquanto outros milhares entraram em contato com a Agência Judaica solicitando ‘aliah’. Alguns chegam da Polônia, outros da Moldávia, alguns de outros lugares da Europa, para onde conseguiram se deslocar. Segundo Tamano-Shata, “estamos tomando conhecimento das dificuldades que os imigrantes estão vivendo e estamos ao lado deles e com eles em todas as questões”. O ministério está providenciando acomodações para os recém-chegados, além de resoluções habitacionais de longo prazo, e de planos para a educação, saúde, bem-estar e demais questões. O governo considera a possibilidade da construção de apartamentos para abrigar a população.

Unanimidade, porém, não é a tônica da política israelense. O ministro da Agricultura considera os esforços exagerados, alegando que “chega de autoflagelação; estamos indo além do que qualquer país que não faz fronteira com a Ucrânia” e obtendo a concordância do ministro do Interior Ayelet Shaked, que declarou: “o governador e os ministros devem se gabar e elogiar a operação de absorção”. Outros membros do governo de Israel chegaram a fazer declarações racistas e sexistas, com a terrível anuência do ministro das Finanças, que alegou que o motivo pelo qual alguns prefeitos estavam prontos a receber ucranianos era o seu particular interesse por mulheres fragilizadas pela situação de guerra: “Alguns deles só querem mulheres ucranianas”, brincou Liberman. Posteriormente, o ministro pediu que suas declarações fossem apagadas da ata. No entanto, as reações às suas palavras não foram apagadas. O ministro dos transportes Merav Michaeli criticou: “Algumas coisas não são piada. O ministro das finanças pediu para excluir da ata da reunião sua declaração ultrajante sobre as mulheres ucranianas; espero que essas coisas não sejam mais ditas, para que não sejam sempre as mulheres a pagar o preço da guerra”. Como se pode perceber, a “tarefa sagrada” não foi compreendida ou aceita por todos em Israel, mas a foto de Sasha Zlobjn, vinda de Kharkiv, na Ucrânia, portando o cartão que declara ser ela a 10000a pessoa a imigrar para Israel desde a invasão russa comprova que o trabalho, mesmo não sendo aceito por todos, continua.

Enquanto isso, líderes da comunidade etíope apelaram ao Supremo Tribunal, solicitando agilidade no transporte dos cerca de 7000 judeus que aguardam sua absorção, fugindo da guerra civil que destrói a Etiópia. Estima-se que cheguem a 12000 os etíopes na mesma situação, muitos vivendo na região de Tigray, considerada o ponto central do conflito. A eles cabe a resposta da ministra Pnina: “Todos os israelenses são irmãos. Como prometido, serei ministra para todos. Lutarei para trazer [os judeus] da Ucrânia, da Etiópia e de qualquer lugar da diáspora para Israel”.

A ministra não está só. Conduzir o povo de volta à sua terra, ainda que não seja uma tarefa suave é, no entanto, verdadeiramente sagrada, sobretudo quando o próprio Senhor do povo está diretamente envolvido e no comando das operações. Ele esteve com Moisés, com Josué, com Neemias e Esdras no retorno após o exílio babilônico. Ele fortaleceu aqueles a quem estabeleceu com palavras de encorajamento: “Não se apavore e nem desanima, pois o Senhor, seu Deus, está com você onde quer que você vá” (Josué 1.9). O Eterno deu ordem para que Seus filhos sejam entregues – Sua ordem será obedecida. Cabe a Israel se unir como um só corpo, compreendendo que a Mão do Senhor está fazendo isso, e abrir as portas do coração para receber aqueles que retornam da dispersão como cumprimento profético das palavras dAquele que nunca falhou. Ucrânia, entrega; Bielorrússia, dá; Etiópia, não resista; Rússia, não retenha. Os ‘olim’ que chegaram até a data festiva de Pessach (Páscoa) celebraram sua libertação já em terras bíblicas. Com alegria cruzaram os portais das nações e retornaram ao seu lugar ancestral.

Por, Sara Alice Cavalcanti.

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