Deus está sujeito ao tempo por Ele criado?

Deus está sujeito ao tempo por Ele criado?

O espaço e o tempo foram criados pelo Altíssimo, mas, apesar de todo o Seu poder, o próprio Deus realiza seus feitos de acordo com a marcação de dias e horas?

A resposta é, definitivamente, não. A razão óbvia é que o Supremo Criador não se sujeita a nada por Ele criado, e isso inclui o próprio tempo. Pensar na sujeição de Deus ao tempo denota a ideia de limitação, o que é algo totalmente humano. À onisciência divina supera qualquer aspecto limitante do tempo, assim como sua onipotência supera o aspecto limitante do espaço.

A palavra portuguesa “tempo” vem do latim tempus, derivado do termo grego temmo, que significa “decepar, cortar fora”. A ideia é que o tempo é algo dividido em partes, como porção de alguma duração maior de tempo. No hebraico, temos: (1) yom, referindo-se ao dia natural de 24 horas ou algum tempo específico, com acontecimentos especiais, como o “dia do Senhor”; (2) zeman, tempo determinado; (3) mahar, tempo vindouro ou amanhã; (4) eth, tempo geral, tempo da tarde, tempo cumprido; (5) paam, um tempo ou, mais literalmente, um golpe; e (6) olam, tempo oculto, tempo obscuro quanto à duração, cujo começo e fim estão na dúvida, ocultos do conhecimento humano. Na língua grega, temos: (1) eméra, dia; (2) kairós, período fixo; (3) chrónos, tempo, aparece por 33 vezes no Novo Testamento.

A Bíblia não contém nenhuma filosofia formal do tempo, todavia há conceitos relativos ao tema que se revestem de importância filosófica os quais abordaremos a seguir. O tempo não existe para Deus, no entanto Ele trabalha e Se revela no tempo. Agostinho e outros teólogos trabalharam esse conceito. Significa simplesmente que o tempo é inexistente para Deus apenas com respeito a Sua essência, pois Ele se dá a conhecer aos homens no tempo.

Somente Deus sempre existiu, sendo Ele a força por detrás de toda outra existência, e a isso chamamos de eternidade, cujo conceito básico é sem-fim, isto é, um ser sem princípio e sem fim (Salmos 90.2). O tempo é a ordem que se caracteriza por mudança e desintegração. Por outro lado, a eternidade é uma ordem de coisas em que pode haver mudanças, mas com qualidade não-temporal, com permanência de existência, tudo tem combinação.

A Bíblia contém uma filosofia da história mundial da qual aquele que vive fora do tempo (Deus) entra no tempo, não se sujeita a ele, mas entra nele, para que Seus decretos e desígnios sejam cumpridos e estabelecidos. Eu diria que o tempo está a serviço de Deus. O tempo é uma ferramenta à disposição do Eterno para o cumprimento de Seus propósitos temporais e eternos. O homem tem um propósito a cumprir dentro do tempo, mas, a longo prazo, também tem um destino, já na eternidade.

Existe ainda a abordagem da temporalidade de Deus, que traduz a ideia de que o tempo é uma experiência inerente, intrínseca e irredutível de Deus. Gostamos de afirmar que Deus vive fora do tempo, noção que temos de Sua transcendência. Porém, um Deus imanente precisa se envolver no tempo e nas mudanças. Assim, voltamos ao ponto discutido no parágrafo anterior: aquEle que vive fora do tempo entra no tempo; Ele não está sujeito ao tempo, mas o usa para o cumprimento de Seus propósitos.

A visão humana daquilo que Deus está realizando no tocante ao tempo e à eternidade sempre será limitada e fragmentada. Deus não vive no tempo e nem no espaço. O Seu lugar de habitação, isto é, a Sua dimensão, é totalmente diferente da nossa, não podendo ser comparado a lugar algum. Nosso conhecimento humano nos força a associar Deus tanto em questão de tempo quanto em questão de espaço dentro de nossos conceitos, mas a Sua natureza e o Seu modo de agir e existir permanecem para nós grandes mistérios. Deus também é imanente. NEle vivemos, nEle nos movemos e temos o nosso ser (Atos 17.28), o que também é um grande mistério.

Por, Sérgio Pereira.

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