Bíblia: o livro mais lido pelos brasileiros

Bíblia: o livro mais lido pelos brasileiros

"E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse” (Atos 8.30, 31).

Não basta apenas saber ler a sequência das letras e a organização das palavras. É preciso entender o que se lê, porque uma leitura sem compreensão não é leitura. A epígrafe acima traz um episódio ilustrativo dessa questão, quando um eunuco, alto oficial da rainha da Etiópia, estava lendo os escritos do profeta Isaías, sem nada compreender.

Em se tratando da Bíblia, “... para não fazer o texto significar aquilo que Deus não pretendeu, é necessário um minucioso exame das Escrituras”, recomenda o escritor Douglas Baptista1. O leitor da Bíblia é um intérprete, antes de tudo. É importante também destacar que as igrejas evangélicas desenvolvem planos de leitura e estudo do texto sagrado e de outras literaturas cristãs, especialmente nas Escolas Bíblicas Dominicais, contribuindo assim com as diversas iniciativas de promoção à leitura. Há, inclusive, um plano de leitura anual, orientado pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), incentivando os cristãos a lerem a Bíblia, pelo menos uma vez por ano.

No Brasil, os jesuítas foram os primeiros estudiosos a dar relevância à leitura, mormente do texto religioso, contrapondo a cultura indígena à escolarização da Coroa, o que lhes valeu a expulsão durante o governo do Marquês de Pombal. Alguns órgãos governamentais e outras entidades da sociedade civil, especializados em livro e leitura, têm empreendido grandes esforços para estimular e melhorar o potencial dos leitores brasileiros, merecendo destaque a criação do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL – Portaria Interministerial Nº 1.442, de 10 de agosto de 2006).

Outra contribuição importante vem das pesquisas sobre a leitura e o perfil dos leitores. Desde 2007, de quatro em quatro anos, o Instituto Pró-Livro faz uma pesquisa completa para estudar o comportamento do leitor brasileiro e contribuir para o estabelecimento de políticas públicas que favoreçam o estímulo à leitura. A 5ª edição da Retratos da Leitura no Brasil2, de 11 de setembro de 2020, realizada em parceria com o Itaú Cultural, teve um total de 8.076 entrevistas, em 208 municípios, sendo 5.874 nas capitais de 26 estados e Distrito Federal. Reflitamos sobre a referida pesquisa, direcionando nosso olhar para a leitura da Bíblia.

Chamou à atenção, inicialmente, um dado bem interessante nesta 5ª edição. Em todas as edições da Pesquisa, a Bíblia é o livro mais citado. Considerando, então, a coletânea dos 66 livros, todos divinamente inspirados e coerentes entre si no conteúdo, e cada livro, per si, o texto bíblico predomina, na escolha das leituras, levando a Retratos da Leitura no Brasil, pela primeira vez, a isolar a Bíblia dos outros livros, em sua análise. O fato é que o Livro Sagrado responde por quase metade dos índices de todos os outros livros indicados por vontade própria do leitor.

A população leitora de todos os livros escolhidos gira em torno de 100 milhões, só que a Bíblia, sozinha, tem perto de 46 milhões de leitores. Ou seja, nesses três meses de levantamento, entre outubro de 2019 e janeiro de 2020, a Bíblia concentra 0,24% de todos os leitores, enquanto todos os livros religiosos, sem contar a Bíblia, somaram 0,39%, e todos os livros de literatura, fora os religiosos e consequentemente a Bíblia, somaram 0,81%.

Considerando ainda os frequentes leitores de livros de literatura, que somam 0,42% do público, os leitores da Bíblia ainda superam essa população, com o índice de 0,46%. A Bíblia é, disparadamente, a leitura mais frequente entre os leitores brasileiros.

Se levarmos em conta a motivação para a leitura, entre os quase 100 milhões de leitores no Brasil, 9% aproximadamente escolhem a leitura por motivos religiosos, o que comprova que a Bíblia também é escolhida por outras razões. Porém, há um dado preocupante: a baixa aderência da leitura por motivos religiosos entre os leitores abaixo de 30 anos, com vertiginosa queda na infância e na adolescência. Uma campanha de envolvimento das famílias cristãs no processo de leitura de seus filhos poderia reverter essa situação.

Outra queda assustadora do índice da motivação religiosa ocorre entre os leitores de mais escolaridade. É preciso, então, desenvolver estratégias de alcance ao público mais escolarizado, em especial os universitários, para se fazer frente aos nefastos secularismo e ateísmo.

Pela pesquisa, se constata que Bíblia continua sendo o gênero mais lido, ainda que tenha havido um decréscimo no índice, de 42% (2015) para 35% (2019). O segundo gênero mais lido (contos), empatado com outros gêneros religiosos, aparece com 22%. Considerando que os livros religiosos têm a Bíblia como sua fonte, se pode somar aos 35% mais 22%, o que faria da religiosidade o gênero mais procurado (57%).

A pesquisa traz outro dado preocupante: os estudantes não estão dedicando muito tempo de leitura ao texto sagrado, cerca de 21%, talvez por falta de estímulo em casa ou na igreja, ao passo que as pessoas que estão fora da escola, cerca de 45%, têm a leitura bíblica como alimento espiritual. A pesquisa evidencia que as pessoas de menor escolaridade e mais idade são as leitoras mais fiéis da Bíblia. Os acima de 30 anos constituem o grupo majoritário de leitores da Bíblia e os leitores da Bíblia não estudantes superam os leitores estudantes.

O ponto positivo dessas pesquisas são as “deixas” que os respondentes criam, o que muito ajuda na formulação de políticas e estratégias de leitura. A falta de tempo sempre é o bode expiatório das desculpas, todavia o bom leitor da Bíblia tem no apóstolo Paulo seu melhor exemplo: “... vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Efésios 5.15, 16). Os dias maus estão “roubando” tanto o nosso tempo, quanto mudando nossas prioridades, por isso, devemos reconstituir nossa trajetória leitora com sabedoria, extraindo melhor proveito do tempo. Remir o tempo significa viver uma realidade que transcende nosso tempo cronológico, pois sabemos que nossos dias são “como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois soprando nela o vento, desaparece” (Salmos 103.15).

Para ajudar os que não gostam de ler, ou não têm paciência de ler, ou têm dificuldade de ler e se sentem cansados quando leem, entre outras razões, a estratégia é desenvolver a leitura respeitando o ritmo individual de cada leitor, mas estabelecendo propósitos crescentes nessas leituras. É importante lembrar que “só se melhora a leitura, lendo”. Deixar a leitura como atividade secundária ou não prioritária é fator entristecedor e contributivo para o atraso de qualquer cultura.

Chama à atenção, tristemente, o fato de o livro estar perdendo seu status de presente desejado ou indicação prazerosa. Precisamos recuperar os bons hábitos. Mais triste ainda é saber que pessoas influentes e formadoras de opinião – pastor, padre ou outro líder religioso – não colaboram para a melhoria da leitura, amargando o mísero 1% entre os influenciadores. Se um líder religioso assumir o seu protagonismo de influência, para reverter a denúncia apresentada [razões por que não leem], talvez a realidade do leitor medíocre brasileiro seja ponto de mutação. Os suportes do livro já se ampliaram ao gosto variado dos leitores (impressos e digitais); as instituições estão se empenhando na atualização e aperfeiçoamento dos seus conteúdos; a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), por exemplo, lançou um novo Currículo de Escola Dominical iniciando com o tema A Supremacia das Escrituras. Podemos ainda desenvolver ações mais exemplares. Promovamos, então, mais campanhas de estímulo à leitura. O tempo urge!

A conclusão é óbvia: se o perfil do leitor brasileiro tem melhorado, se deve esse fato à influência inegável da Bíblia, considerando que mais de 2/3 dos leitores leem o texto bíblico ou outra literatura relacionada ao texto sagrado. Para nós, cristãos, vale a expressão do salmista: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra; e luz para os meus caminhos” (Salmos 119.105).

Essas informações talvez sejam do conhecimento de muitos de nós. A diferença é que esses dados agora estão consolidados em uma pesquisa de reconhecido valor científico. Portanto, “guardem essas palavras no coração. Gravem todas elas no fundo do seu ser. Elas devem ser amarradas na mão e na testa, como um lembrete, e ensinadas aos filhos. Que elas sejam o assunto de sua conversa, onde quer que vocês estiverem – sentados em casa ou andando pela rua. Que elas sejam repetidas desde a hora em que vocês se levantam, de manhã, até a hora de cair na cama, à noite...” (Deuteronômio 11.18-20).

NOTAS

1 BAPTISTA, Douglas. A supremacia das Escrituras. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, p. 58.

2 INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Retratos da Leitura no Brasil. 5ª ed. São Paulo, 2020. (www.ibopeinteligencia.com)

Por, Josué Mendes.

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