Igreja: uma comunidade terapêutica

Igreja: uma comunidade terapêutica

"Não necessitam de médico os que estão sãos, mas sim os que estão enfermos" (Lucas 5.31).

Precisamos constantemente exercer a função de comunidade terapêutica, pois estamos constantemente rodeados de pessoas que estão em busca da cura emocional para as feridas do seu coração. E isso se aplica corretamente ao versículo que colocamos como base, evidenciando a missão de Jesus, que é chamar os doentes espirituais à cura por meio do arrependimento.

Cada pecador é uma vítima ferida e maltratada pelo pecado, portanto só é possível encarar um pecador de duas maneiras: como alguém que fere ou como alguém que é ferido. Em quase todos os momentos são as duas coisas, porque fere os princípios bíblicos ao mesmo tempo em que é ferido pelo pecado.

Do ponto de vista bíblico, me emociono ao afirmar que o Senhor Jesus Cristo olhava e olha para nós, seres humanos, como “biopsicossocioespiritual” – ciência que visa ao encontro do homem integral. É um equívoco tratar somente das questões de cunho espiritual, a prova disso é que a falta de saúde emocional é um dos maiores empecilhos para o crescimento físico e espiritual. Jesus vai evidenciar para nós o quão primordial é que a Sua igreja seja uma clínica de reabilitação espiritual.

No decorrer dos evangelhos, é notória a maneira como Jesus olha para as pessoas. Os  pecadores, publicanos e marginalizados eram vistos por Jesus como vítimas feridas e machucadas pelo pecado. Aqui está uma verdadeira definição de empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar de meu semelhante, de poder compreender a sua dor. Jesus era totalmente empático, sentia a dor das pessoas. A prova disso é que reiteradas vezes nos textos bíblicos escritos pelos evangelistas, há a expressão falando acerca de Jesus dizendo: “E moveu-se de íntima compaixão”. A tarefa de um pastor, líder ou conselheiro deve ser movida de íntima compaixão. Deus não nos chamou para sermos profissionais da fé, ministério não é profissão, mas é para ser vivido de íntima com paixão, com os olhos marejados de lágrimas.

Em Lucas, capítulo 5, do versículo 27 ao versículo 32, Jesus vai à busca de um homem com muitos anseios de ajudá-lo. A referida passagem bíblica diz: “E, depois disso, saiu, e viu um publicano, chamado Levi, assentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu. E fez-lhe Levi um grande banquete em sua casa; e havia ali uma multidão de publicanos e outros que estavam com eles à mesa. E os escribas deles e os fariseus murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas sim os que estão enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento”.

Levi, mais popularmente conhecido como Mateus, fazia parte de um grupo na sociedade que era olhado com indiferença, com nojo, com inferioridade, seu grupo era o dos publicanos, também conhecido como cobradores de impostos.

Os judeus consideravam os publicanos traidores, já que estes haviam se aliado ao império Romano para explorar seus com patriotas. Minha mente viaja no objetivo de que Jesus sabia que se Ele alcançasse um publicano, teria acesso ao restante também, afinal, somos seres gregários e estamos nos relacionando a todos os momentos.

Partindo deste pressuposto, Jesus se dirige à coletoria ou à alfândega, onde era o local que os publicanos atendiam, e chegando ao local onde Mateus trabalhava, faz aquilo que todo conselheiro, pastor e líder deve fazer: não perde tempo com sermões, não perde tempo com especulações. Jesus não aponta o dedo na cara de Mateus e o chama de traidor, muito pelo contrário, Ele só passou por lá e disse: “Segue-me” (Lucas 5.27). Era o convite à mudança que Mateus precisava ouvir, e o texto diz: “E ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu” (v.28).

Pense comigo: todos estão te esperando em um grande jantar, sedentos no espírito, na alma e no corpo, com um grande desejo de ouvir uma palavra de ânimo, de direcionamento, de acolhimento, e você não vai por causa da má fama, que virou um protocolo imposto pela sociedade aos presentes no jantar. Mas entre quebrar um protocolo e ferir os corações com a decepção do abandono, Jesus prefere quebrar o protocolo, pois, para Ele, nós, seres humanos, somos mais importantes do que os protocolos que são impostos por uma sociedade muitas vezes, perversa.

Em Marcos, capítulo 5, Jesus resolve atravessar para a outra margem do mar da Galileia, ou mar de Tiberíades, por causa de um único homem. Vejamos o que diz do versículo primeiro até o 14: “E chegaram à outra margem do mar, à província dos gadarenos. E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo, o qual tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender. Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões, em migalhas, e ninguém o podia amansar. E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes e pelos sepulcros e ferindo-se com pedras. E, quando viu Jesus ao longe, correu e adorou-o. E, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes. (Porque lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.) E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos. E rogava--lhe muito que os não enviasse para fora daquela província. E andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos. E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles. E Jesus logo lhe permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos, e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil) e afogou-se no mar. E os que pascentavam os porcos fugiram e o anunciaram na cidade e nos campos; e saíram muitos a ver o que era aquilo que tinha acontecido”.

Aquele homem não era o governador da província, não era um homem de uma alta representatividade social. Era um homem que morava entre os sepulcros; era um homem que precisava ser amarrado com correntes, mas ele as fazia em pedaços; ele gritava pelas noites e pelas madrugadas. O texto também diz que ninguém o conseguia amansar. Preste atenção na expressão “amansar”.  O endemoninhado vivia como um animal, pois é animal que se amansa ou se tenta amansar; ele vivia como uma besta fera.

Do versículo 15 ao versículo 20, vemos o homem que era a vergonha da família, o assombro da sociedade, agora assentado, vestido e em perfeito juízo. “E foram ter com Jesus, e viram o endemoninhado, o que tivera a legião, assentado, vestido e em perfeito juízo, e temeram. E os que aquilo tinham visto contaram-lhes o que acontecera ao endemoninhado e acerca dos porcos. E começaram a rogar-lhe que saísse do seu território. E, entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado  que o deixasse estar com ele. Jesus, porém, não lhe permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti. E ele foi e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos se maravilhavam”.

Quando Jesus entra na vida de alguém, quando o Evangelho entra na vida de alguém, quando a graça entra na vida de alguém, gera essas mudanças: traz o homem para os pés de Jesus, dá a ele sã consciência e o moraliza.

Antes aquilo que era vergonha, tornou-se o maior testemunho daquela família, o maior exemplo daquela cidade e um projeto vivo para evangelizar toda Decápolis. Jesus acolhe-nos, aceita quem nós somos e nos convida à mudança. Glórias sejam dadas ao nome do Senhor Jesus!

Por, Lucas dos Santos Simon.

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