O fariseu, o publicano e o jovem rico

O fariseu, o publicano e o jovem rico

Para discorrer sobre este tema, vamos analisar duas passagens bíblicas em Lucas 18.9-14; 18-23. Recomenda-se uma leitura reflexiva previamente dos textos. Trata-se da parábola da oração do fariseu e do publicano, subtendendo-se, aqui, o segundo como cobrador de impostos, e do encontro do jovem rico com Jesus.

O fariseu

Na oração do fariseu, o mesmo pensava ser justo aos seus próprios olhos, desconsiderando sua natureza pecaminosa. Desde o pecado no Éden o homem procura se auto justificar, apontando sempre as falhas alheias. Pensamos mais elevado do que deveríamos pensar a respeito de nós e dos outros. Muitas vezes, assumimos o narcisismo, do mito grego, ao nos autocontemplar, esquecendo-nos e desprezando o semelhante.

Na referida oração o fariseu não se pôs como teocêntrico, mas antropocêntrico. Nela não consta confissão, súplica, adoração, reconhecimento de culpa e pedido de misericórdia.

Afinal, o que e como orava o fariseu? Sem uma observação atenta ao texto, costumamos dizer apenas o que ele orava, quais palavras dizia: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos, e adúlteros” (18.11). No entanto, muitos deixam de lado ou mesmo não percebem o fariseu orando “de si para si mesmo” (v.11). O sentido original desta expressão significa “interiormente”; “dentro de”. Tinham muito mais coisas no íntimo daquele homem além das palavras que ele expressou. Deus não se impressionou com suas palavras, pois Ele não vê como o homem. Ele vai além: vê o coração de cada um (Atos 1.24). A justiça própria, com palavras de auto justificação, jamais conseguirá ser reconhecida como entrada para o Reino de Deus.

O publicano

Na parábola, temos uma das mais belas histórias da graça salvadora de Deus em Cristo. Ela é convincente teologicamente, pois tanto ricos como pobres, incultos ou sábios, crianças ou adolescentes, adultos ou anciões podem beber desta fonte inesgotável da graça e misericórdia divina. Uma das mais belas páginas libertadoras e consoladoras onde revela que o maior dos pecadores pode ser alcançado pela dádiva de Deus.

Podemos extrair grandes lições que Jesus revela através deste pecador contrito, em direção ao templo, tais como: genuína petição e identificação pessoal de sua natureza pecaminosa. O publicano revela-se através do seu próprio eu e, figurativamente, abre seu coração com suas mazelas, ao ponto de “bater no peito”, certamente com dificuldades de explicar, plenamente, seus próprios sentimentos. Provavelmente este publicano conhecia o ditado da época: “Seis publicanos são meia dúzia de homens extorsivos”.

O mancebo de qualidade

Do versículo 18 até o versículo 23 do capítulo 18 de Lucas, temos um episódio vivido por Jesus no encontro com o chamado “mancebo de qualidade” – conforme título recebido por antigas Bíblias – uma distorção das Escrituras, em especial do Antigo Testamento. A postura deste jovem rico estava na premissa que a prosperidade era sinal da bênção divina por causa da bondade da pessoa (Provérbios 10.3,22). Observando a postura do moço, notam-se  “qualidades”: ele chama Jesus de “Bom Mestre”; quer orientação para a vida eterna; e era observante da Lei.

O que podemos aprender com os erros desse jovem rico para não repeti-los? 1) uma pessoa pode avançar em sua ignorância. Aquele jovem pensava que aprendera tudo, mas ignorava sobre a natureza espiritual; 2) O dano causado por um pecado que domina o coração. Estava correto na indagação: queria eternidade com Deus, porém amava a riqueza mais que a vida eterna.

Estas duas passagens, e dezenas de outras nos Evangelhos, são os fundamentos apostólicos na defesa que somente a fé em Cristo garante salvação eterna; em especial, nos escritos de Paulo. Ficam excluídos, as boas obras, a religiosidade, o ter que fazer algo e outros bens para a entrada ao Reino Deus.

Mas, então, surge a seguinte dúvida: “Então, eu não preciso fazer nada para com meu semelhante?”. A resposta é um contundente “não”! O reformador Martinho Lutero, sendo acusado por seus pares de anunciar a não necessidade das boas obras,  responde que o cristão vive não apenas “coram Deo” (diante de Deus), mas também “coram mundo” (diante do mundo).  Observamos neste contexto de Deus e mundo que a devida resposta é que “a fé opera o amor”!

Por, Vantuil Gonçalves dos Santos.

Se este artigo foi útil para você compartilhe com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem