Experiência: remédio para aridez espiritual

Uma das grandes patologias que se apresentam entre os estudantes de teologia iniciantes – que pode ser cristalizada na vida do teólogo e com ele envelhecer – é a experiência conceitual.

Ao ter contato com os tesouros do conhecimento teológico, o fascínio pelo saber pode dominá-lo, de sorte que ele não mais consiga – ou não se preocupe em transpor esse saber para a dimensão prática, isto é, experiencial.

Esses irmãos são aqueles responsáveis por alimentar todo o preconceito, receio e medo que os cristãos comuns (que compõe a maioria dos membros do Corpo de Cristo) possuem sobre a fé reflexiva. Encouraçados em termos técnicos e abstrações, teólogos que sofrem desta patologia ostentam um ar de superioridade perante os demais irmãos como se estes fossem o proletariado da cristandade, os quais só lhes servem de sparring nos quais desferem com violência seus golpes de erudição, fazendo sentirem-se incapazes aqueles que deveriam ser por ele conduzidos amorosamente a um nível de conhecimento superior que lhes promovesse algum ganho espiritual.

A verdade é que o conhecimento que ostentam com seus assombrosos cérebros e palavras rebuscadas não se transformou em vida, que é o elemento indispensável para a manutenção de uma espiritualidade saudável.

Onde foi então que a teologia falhou com esses irmãos? Creio que o cerne da questão é o distanciamento que certas abordagens promovem entre o teólogo, Deus, a Bíblia e a Igreja. Ao reduzir o estudo de Deus a uma dimensão cognitiva, racional, a metodologia empregada coloca Deus como um objeto a ser escrutinado e revolvido pela intelecto – considerado uma ferramenta capaz de esgotar a Sua Pessoa e desmistificar todos os mistérios de Sua natureza.

A Bíblia também se torna alvo da simples investigação, e passa a ser vista como o único canal pelo qual Deus fala com o homem, sendo acessível para qualquer deles, desde que possam utilizar aquelas ferramentas científicas para a realização de uma boa exegese.

Finalmente, essa abordagem promove um distanciamento da vida da Igreja por parte do teólogo, que perde a capacidade de escutar Deus através da simplicidade, piedade e amor dos irmãos, vez que estes não fazem parte do seu “hall de iniciados” e suas preocupações fundamentais para a fé cristã, tais como a separação do Cristo da fé do Cristo da história.

A verdade é que esses teólogos não perceberam aquilo que está patente aos olhos dos irmãozinhos aos quais tanto despreza: existe um hiato entre a experiência real com Deus, Sua Palavra e o Seu povo e o conhecimento da realidade dessas experiências.

É o que o teólogo cubano Justo González classificou como o “perigo da substituição”, que é quando o relacionamento com Deus, a quem devemos amar de todo o nosso coração, mente e vontade, dá lugar a um apreço por coisas sobre Deus, ou seja, a mera reflexão a respeito dEle. Não se extrai vida da elaboração intelectual da experiência dos outros. O Cristianismo, assim como toda a religião, depende da experiência.

Nós buscamos compreender com o intelecto, mediante as Escrituras, a Tradição e o Espírito aquilo que experimentamos nesta nova realidade que chamamos de conversão – que se dá no encontro com uma Pessoa, não com proposições a respeito dela.

A experiência adquirida mediante o relacionamento com Deus, da busca incessante por Ele, a realidade suprema – qual não pode ser esgotada por nossa mente caída – é o único remédio que pode trazer vigor a corpos sem vida de conceitos mortos.

A história do cristianismo nos dá gritante testemunho do quão danoso pode ser para o povo de Deus uma fé reduzida ao saber intelectual, ortodoxamente vistoso, mas apagado na prática.

Que o Senhor nos ajude nessas e noutras questões.

Por, Leandro Lima.

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