O Espírito e a visão distorcida das Testemunhas de Jeová

O Espírito e a visão distorcida das Testemunhas de Jeová

Sabe-se desde muito tempo que as Testemunhas de Jeová (doravante TJs neste artigo) são um grupo heterodoxo em suas doutrinas, tendo costumes que são estranhos às comunidades cristãs, tais como: não celebrar aniversário, não servir às forças armadas, proibição de doação de sangue e outras. 

As doutrinas diversas deste grupo expandem-se para áreas sensíveis da dogmática cristã. Para esta  comunidade, Jesus não é Deus, não existe o conceito de Trindade e para subsidiar suas crenças possuem elas sua própria tradução das Escrituras: a Tradução do Novo Mundo. E quanto ao Espírito Santo? O que dizem sobre este ser divino? Para responder a tal pergunta, analisaremos a seguir o que essa comunidade diz sobre o Espírito Santo a partir de suas publicações oficiais. E, como contraponto à visão jeovista, enfatizaremos o que a doutrina bíblica e ortodoxa afirma sobre Deus Espírito Santo.

As Testemunhas de Jeová e o Espírito Santo

As Testemunhas de Jeová apresentam sua compreensão a respeito do Espírito Santo através de diversas publicações oficiais, tais como as revistas “A Sentinela” e “Despertai”. Em um de seus artigos publicados na revista “A Sentinela”, vemos a visão deste grupo sobre o Espírito Santo. O título do artigo, por si só, já aponta a ideia que o autor pretende expor no texto: “É o espírito santo mesmo uma pessoa?” (A SENTINELA, 2020). A grafia deste título expõe de imediato a crença professada pelas TJs sobre a pessoalidade do Espírito Santo. Perceba que o nome Espírito Santo é escrito propositalmente com letras minúsculas, dando claro entendimento de que, para as TJs, o Espírito Santo não é um ser divino e pessoal, nem mesmo se trata de um nome próprio. Para as TJs, o Espírito Santo é somente uma qualidade de Deus. Tal crença é reforçada quando, por exemplo, analisamos as palavras de David A. Reed, que nos informa que, para este grupo, “o Espírito Santo não é nem Deus nem uma pessoa” (REED, 1990,  p.13), é apenas uma força ativa de Deus.

Contudo, a incoerência das TJs é exposta quando analisamos um estudo contido na revista “Despertai”, disponibilizado no endereço jw.org., no qual as Testemunhas de Jeová consideram aspectos subjetivos do  Deus Pai, sem tirar a sua pessoalidade, como fazem como Espírito Santo. Em tal estudo, as TJs fazem uma  pertinente observação sobre a natureza de Deus: “‘DEUS é espírito, e os que o adoram têm de adorá-lo com espírito e verdade’, diz a Bíblia. Essa declaração revela uma verdade básica sobre a forma, ou a natureza, de Deus: ele é um espírito (João 4.19-24)” (DESPERTAI, 2020) . Tal assertiva mostra que as TJs compreendem que Deus Pai não possui, na Sua natureza infinita, formas corpóreas humanas.

No referido artigo, ainda é admitido que a Bíblia fala de “mãos, pés e costas de Deus” apenas numa linguagem antropomórfica, visando à compreensão humana (DESPERTAI, 2020). Assim, à semelhança da cristandade ortodoxa, as Testemunhas de Jeová creem que Deus Pai não possui uma forma corpórea, contudo não negam que Ele seja uma pessoa. Porém, em relação ao Espírito Santo, a coisa é diferente. As TJs afirmam que a  Bíblia trata este ente divino como “espírito”, o que implica que o mesmo não pode ser uma pessoa, já que  “espírito” não possui uma forma corpórea. Vemos neste argumento uma contradição no pensamento teológico desta comunidade.

Assim, considerando os aspectos da pessoalidade do Deus Pai, igualmente devemos entender o Espírito Santo como uma pessoa. Não devemos nos limitar a uma mera manifestação corpórea, antes, porém, devemos  verificar alguns atributos que podem fazer com que alguém seja classificado como pessoa e não apenas uma mera “força ativa”, como afirmam as TJs.

A pessoalidade do Espírito Santo à luz da ortodoxia cristã

Para trazer luz a esta questão, faço coro com as  palavras do pastor e teólogo Antonio Gilberto, que nos apresenta um conceito interessante sobre  pessoalidade. Segundo Antonio Gilberto (2008, p.177), pessoalidade “é o conjunto de atributos de várias categorias que caracterizam uma pessoa. No seu aspecto psíquico, a personalidade consiste de intelecto, sensibilidade e vontade. Os três são também chamados de inteligência, afetividade e autodeterminação”.

A Bíblia deixa clara esta triplicidade de atributos existentes no Espírito Santo. Vemos o intelecto quando, por exemplo, a Palavra afirma que “assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus”  (1 Coríntios 2.11b). Quanto à sensibilidade, vemos que o Espírito se entristece, pois somos orientados: “E não  entristeçais o Espírito Santo de Deus” (Efésios 4.30). Por fim, vemos a autonomia da vontade expressa no Espírito:  “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Coríntios 12.11). Percebam que o texto é claro quando afirma que “ele reparte como quer”, ou seja, em conformidade com Sua vontade.

Além dessas características que definem uma pessoa, podemos destacar que o Espírito realiza atividades  pessoais, tais como revelar (2 Pedro 1.21); ensinar (João 14.26); clamar (Gálatas 4.6); interceder (Romanos 8.26); falar (Apocalipse  2.7); ordenar (Atos 16.6,7); testificar (João 15.26); e se entristecer (Efésios 4.30); e contra Ele há a possibilidade de  mentir (Atos 5.3) e blasfemar (Mateus 12.31,32) (GRUDEM, 2014).

Ainda com o intuito de esclarecer nosso entendimento sobre a pessoalidade do Espírito Santo, entendemos ser pertinente atentar às palavras do pastor e teólogo Elienai Cabral (2011, p.14), que nos diz: “No evangelho de João 16.8, 13,14, o texto contem pronomes pessoais como ‘ele’, ‘aquele’, que no grego bíblico aparece como ‘ekeinos’ e indicam tratamento pessoal. Em João 14.16, temos a expressão ‘outro consolador’ e o pronome ‘outro’ indica alguém, não uma coisa”.

O renomado teólogo Wayne Grudem (2014, p.170) corrobora com tal proposição ao afirmar que “o nome consolador ou conforta dor (gr. parakletos) é comumente usado para falar de uma pessoa que ajuda ou dá consolo ou conselho a outras pessoas”, contudo em João este termo é usado igualmente para falar sobre o Espírito Santo e sobre Jesus (1 João 2.1), deixando claro o entendimento de que, para João, ambos são pessoas divinas, conforme nos aponta o especialista em grego bíblico Marvin R. Vicent (2013): “Sobre a questão envolvendo o termo grego ‘allon’ (outro) contido em João 14.16, já nos pronunciamos anteriormente e reafirmamos que a promessa de Cristo nos afirma que viria ‘outro Consolador’ e nesta expressão foi usada a construção gramatical grega ‘allon parakleton’, com um objetivo bem definido: expressar que o Consolador seria da mesma natureza divina que Jesus, mesmo sendo outra pessoa. Assim, além de ser da mesma essência e espécie de Jesus, o Espírito também é uma Pessoa distinta dEle. Por isso a expressão grega ‘allon paraketon’, exposta em João 14.26, aponta que ‘o Advogado [Consolador] que está pra ser enviado não é diferente de Cristo, mas outro semelhante a Ele mesmo’” (VI CENT, 2013, p.201, v2).

Concluímos este tópico apontando para as palavras de alguns homens de Deus na História da Igreja Cristã. O primeiro deles é o grande polemista, considerado um dos pais apostólicos, Tertuliano de Cartago, que afirmou: “Eu testifico que o Pai, o Filho e o Espírito são inseparáveis uns dos outros. [...] A minha afirmação é que o Pai é um, o Filho é um e o Espírito é um – e que Eles são todos distintos uns dos outros” (apud GEISLER, 2010, p.785). Ainda ratificando a ideia de pessoalidade individual do Espírito temos a palavra do reformador Matinho Lutero (apud GEISLER, 2010, p.787), que diz: “Cristo mostra vigorosamente que o Espírito Santo é [...] uma Pessoa separada e distinta por si mesma, um que não é o Pai ou o Filho. Pois todas estas expressões obviamente se referem a uma Pessoa separada: o Consolador que virá; repetindo: ‘]...] tudo o que tiver ouvido [...] vos anunciará’ (João 16.13). Se Ele tem de vir ou (como Ele disse acima) ser enviado ou proceder; repetindo, se Ele tem de ouvir e falar, Ele certamente tem de ser Alguém”.

Temos a certeza de que, para as TJs, a única verdade está no entendimento de seus fundadores e, portanto, nenhum homem de Deus, como Lutero, traz verdades bíblicas. Não obstante, cremos ser de fundamental importância o testemunho destes homens para que compreendamos corretamente as Escrituras.

REFERÊNCIAS

A SENTINELA: anunciando o Reino de Jeová. É o Espírito Santo mesmo uma pessoa? Disponível em: <https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1974521#h=1>. Acesso em 11 de jun. 2020.
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja Cristã. 3ªEd. Traduzida por Israel Belo de Azevedo. São Paulo: Vida Nova, 2009.
DESPERTAI. Qual a natureza de Deus? Disponível em: <https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1974521>. Acesso em 17 de jul. 2020
GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. v1. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
GEISLER, Norman; MEISTER, Chad V.(ed.(. Razões para crer: apresentando argumentos em favor da fé cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.
GILBERTO, Antonio (org). Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 2ª Edição. São Paulo: Editora Vida, 2014.
JW.ORG: TESTEMUNHAS DE JEOVÁ. Início. Disponível em: <https://www.jw.org/pt/>. Acesso em 11 de jun. 2020.
JW.ORG: TESTEMUNHAS DE JEOVÁ. Quais são as crenças principais das Testemunhas de Jeová? Disponível em: <https://www.jw.org/pt/testemunhas-de-jeova/perguntas-frequentes/crencas--testemunhas-de-jeova/>. Acesso em 17 de jul. 2020.
OLIVEIRA, Raimundo de. Seitas e Heresias. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
REED, David A. As Testemunhas de Jeová: refutadas versículo por versículo. 2ª Ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1990.
SOARES, Esequias. Testemunhas de Jeová: a inserção de suas crenças e práticas no texto da tradução do novo mundo. Reimpressão. São Paulo: Hagnos, 2009.
VICENT, Marvin Richardson. Estudo no vocabulário grego do Novo Testamento. v.2. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

Por, Jefferson J. R, Rodrigue.

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