Como entender que toda a Escritura foi inspirada por Deus (2 Timóteo 3.16), se nela há passagens que dizem ter sido a própria ideia do autor expressada (1 Coríntios 7.6;12)?
A resposta a esta questão deve começar com a afirmativa de que a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus (2 Timóteo 3.16; 2 Pedro 1.20,21) e, em razão disso, nela não há erros e nem contradições (Salmos 19.7; 119.140). Partindo desse princípio, é preciso ressaltar que a Bíblia pressupõe a autoridade divina, e que, por sua vez, reflete o caráter e a natureza de Deus; quer dizer, é isenta de variação ou de erros. Essa relação da autoridade – entenda-se “autoria” – divina com o texto bíblico é ainda mais bem identificada com expressões como “Deus disse” e o “Espírito Santo predisse” em textos do Antigo Testamento que são replicados no Novo (Atos 1.16; 3.24,25; 2 Coríntios 6.16). Aliás, o que está escrito na Escritura, e evidentemente incluindo os escritos apostólicos, é tratado como Palavra de Deus (Gálatas 3.8; Romanos 9.16; 2 Pedro 3.15; Apocalipse 1.3).Ao considerar as informações supracitadas como verdade, é preciso reconhecer que dúvidas em torno deste assunto são comuns, para as quais não podemos fechar os olhos. Por exemplo, não são poucas as pessoas que perguntam acerca da relação entre a ação divina no texto bíblico e a atuação humana em sua elaboração, principalmente quando consideram as declarações do apóstolo Paulo a este respeito, respectivamente: “Toda a Escritura é divinamente inspirada...” (2 Timóteo 3.16) e “... digo eu, não o Senhor...” (1 Coríntios 7.12).
Diante desses textos paulinos, como explicar o fato de a Bíblia ser fruto da inspiração divina e o apóstolo afirmar, em determinado momento, ser ele dizendo e não o Senhor? Seriam esses textos contraditórios? Paulo estaria errado ao afirmar a fonte divina das Escrituras? Seria o texto enviado aos irmãos em Corinto uma exceção, portanto não inspirado?
Inicialmente, reafirma-se que a Bíblia não se contradiz; afinal, ela toda é a Palavra de Deus e, mesmo tendo sido escrita por homens sob a ação do Espírito Santo, nela não há erro de nenhuma natureza. Quanto ao entendimento do texto em questão, o primeiro passo é compreendê-lo à luz de seu contexto, isto é, sob a perspectiva do tema abordado pelo apóstolo. Paulo está ensinando – amplamente – sobre a relação entre marido e mulher, e uma de suas ênfases são os complexos e polêmicos temas da intimidade do casal e do divórcio.
Depois de identificado o tema central do que o apóstolo está discorrendo no capítulo em questão, ressalta-se o versículo 10: “Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido”. Note que Paulo faz alusão ao ensino de Jesus (Mateus 5.32), fundamentando assim o seu argumento e cobrindo-o com a autoridade divina. Os versículos subsequentes demonstram a explicação do apóstolo e nela consta a expressão “digo eu, não o Senhor”. Aqui é preciso destacar duas verdades fundamentais: 1) a fonte de autoridade das palavras do apóstolo é o Senhor Jesus, ou seja, ela é divina e não humana; 2) Paulo não está criando uma doutrina nova, mas, pelo contrário, está propondo meios pelos quais o entendimento sobre o assunto possa ser ampliado, mesmo porque ele reafirma o desejo de Deus – exposto por Jesus – de que o matrimônio seja indissolúvel.
Portanto, o que se conclui é que não há contradição entre os textos e nem se deve questionar a sua autoridade divina; muito pelo contrário, o apóstolo segue na mesma direção do que Jesus ensinou, o que também confirma o que ele mesmo escreveu em 2 Timóteo 3.16: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. A Deus seja a glória pela verdade inabalável de Sua Palavra.
Por, Elias Torralbo.
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