De volta ao Jardim do Éden

De volta ao Jardim do Éden

Diz a Bíblia: “E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, na direção do oriente e colocou nele o homem que havia formado” (Gênesis 2.8). Ao pararmos para pensar no Jardim plantado por Deus no Éden, nossa sensibilidade nos transporta para as suas intenções, que transparecem no texto ao tomar a atitude de colocar o homem lá dentro. Porém, antes de analisar isso, é preciso voltarmos um pouco para entender o porquê do Jardim.

No capítulo inicial de Gênesis, Moisés descreve os atos de Deus na criação baseado não apenas naquilo que ouvira pela transmissão oral de seus pais e parentes, mas também e sobretudo na inspiração e no ensino do Espírito Santo, visto nos detalhes da narrativa. Depois desse relato, Moisés detalha a formação do homem e da mulher. No primeiro capítulo, ele apresenta a ideia gerada de Deus, quando diz: “Então disse Deus: façamos o homem, à nossa imagem, conforme a nossa semelhança e domine ele sobre os peixes do mar, as aves do céu, sobre toda a terra e sobre todos os animais que rastejam sobre o chão” (Gênesis 1.26). Perceba que a expressão de Deus nesse versículo não se refere exclusivamente ao homem, mas, sim, à humanidade. A palavra usada para designar homem do hebraico (“adam”) significa humanidade, logo o Senhor estava dizendo que faria a humanidade e seria feita à sua imagem e semelhança. Porém, no capítulo 2, Moisés detalha como foi essa formação, como o Senhor executou sua ideia usando do pó da terra para construir a coroa de Sua criação. Após isso, deu grande autoridade a Adão, o governo terreno lhe fora dado e seu domínio estendia-se sobre toda a terra e tudo que vive nela. Adão imediatamente começou a gerenciar a terra e nominar todos os seres vivos conforme o desejo de seu coração.

Foi nesse tempo, enquanto Adão estava só, sem Eva, que o Senhor desejou plantar um jardim no Éden. Perceba que a Bíblia diz que o jardim era no Éden, e a palavra “Éden” significa paraíso. Logo, se entende que a terra toda nesse tempo era um paraíso, nesse paraíso, resolveu Deus plantar, na direção do oriente, um jardim especial, com o seu toque, com sua identidade ao centro. Toda a terra possuía árvores frutíferas saborosas, Ele mesmo as criou no terceiro dia (Gênesis 1.11). Porém, quis o Senhor criar um lugar separado, específico, único e secreto para finalidades e momentos especiais. É como se dissesse a Adão: “Toda a terra é sua, administre-a, mas venha sempre ao Meu jardim, pois nele há milhares de frutas especialmente saborosas, tudo para você; coloquei também minha identidade ao centro, a Árvore da Vida, cujos frutos lhe garantem uma vida eterna, coisa que só eu posso dar, pois eternidade é minha especialidade. Mas, o advirto: entre milhares de árvores, apenas uma não se deve comer, pois o seu fruto tirará você do jardim e morrerás. Não coma dessa árvore! Aproveite todas as coisas que plantei para você, menos essa. Trouxe você aqui para dentro desse jardim, não somente para que você se alimente, mas plantei essa beleza toda, com detalhes especiais, porque todos os dias virei passear aqui e espero conversar com você todos os dias. Teremos encontros vespertinos entre Pai e filho, entre Criador e criatura, momentos especiais onde poderemos desfrutar de profunda comunhão. É para isso que plantei este lugar secreto e especial, somente para termos comunhão um com o outro”.

Assim, o jardim no Éden era mais importante para Deus do que para Adão. À ideia específica de Deus era estabelecer um lugar separado, secreto e seguro onde Adão o pudesse encontrar e desfrutar de Sua maravilhosa presença, e isso aconteceu por muito tempo. Adão, e logo depois ele e Eva, poderiam ter vivido milhares de anos desfrutando diariamente da comunhão com Deus naquele jardim. Ele ia e lavrava a terra, cuidava da criação, mas sempre voltava ao lugar de comunhão. Essa era a vontade de Deus: que seu filho estivesse regularmente com ele no lugar de comunhão.

Não há nada melhor na vida do que estar no lugar que Deus quer você esteja. Esse, por certo, será um lugar de comunhão.

A única coisa que nos tira do lugar de comunhão com Deus é a desobediência. Deus disse a Adão que, no dia em que comesse do fruto proibido, e ele perderia o acesso ao lugar de comunhão. Infelizmente, Adão não levou a sério a advertência de Deus e comeu do fruto proibido, oferecido por sua mulher. Após isso, a Bíblia diz: “O Senhor Deus, por isso, o lançou fora do Jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado” (Gênesis 3.23). Esse texto é a descrição de uma das maiores tragédias da Bíblia, quando o homem é expulso da Presença de Deus. Banidos do jardim, tudo que lhes resta agora são lembranças de momentos maravilhosos na presença do Criador. A dor insuportável, o cansaço, a tristeza, a fadiga, a frustração, a saudade, sentimentos e sensações que nunca antes tiveram agora são seus companheiros inseparáveis. A queda do homem e sua expulsão do Éden resultaram em toda humanidade distanciar-se daquilo que mais importa: a comunhão com o Pai.

Comunhão: essa é a palavra que define toda vida para com Deus. O termo “koinonia”, em grego, é usado na Bíblia para definir intimidade, dependência e ligação ininterrupta com o Criador. Outro termo é “hithabrut”, que pode ser traduzido como união, junção, associação, unificação, ligação, comunhão. À maioria dos tradutores bíblicos optou por traduzi-lo como comunhão.

Quando Adão e Eva foram expulsos do Jardim, não somente perderam a oportunidade de viver para sempre, pois o caminho para a árvore da vida fora protegido por querubins (“kerub”, no hebraico, que significa  “guardião”), mas também o privilégio de estar no lugar secreto de Deus, o lugar inacessível, o lugar de comunhão.

Mas, como o Jardim era mais importante para Deus do que para Adão, um grande projeto de reaproximação começou a ser executado. Isso é visto em toda a Bíblia, desde o Pentateuco, os Livros Históricos, os Proféticos, os Poéticos até o Novo Testamento, onde finalmente esse plano é concluído. Por isso, Ele precisou fechar a entrada do Lugar de Comunhão, visando um Jardim mais excelente, onde a comunhão depende exclusivamente de quem a deseja.

Curiosamente, a Bíblia diz que Deus colocou os querubins ao oriente, e oriente (“qadim”) significa “nascente de luz”. Ora, Jesus é chamado de “Oriente do Alto” (Levíticos 1.77). Jesus é chamado de Oriente porque Ele é a nascente de luz (Gênesis 1.3; João 1.1-3) e a luz do mundo (João 8.12; 9.5). O querubim protegia o Jardim, o lugar de comunhão, o santo dos santos, é por isso que Deus disse que a simbologia dos querubins deveria ser usada sobre o propiciatório (Êxodo 25.19-22). É uma referência à cena do Éden. Deus envia querubins da Sua guarda pessoal à terra, seres que estavam aptos e acostumados com o lugar de comunhão com o Criador, tal era a importância do jardim, que esses enviados especiais tinham a função específica de impedir o acesso de qualquer coisa ao lugar de comunhão. Eram como o véu colocado no Lugar Santo, como que impedindo a entrada de qualquer coisa no lugar de comunhão.

Mas, Lucas 1.77 diz ainda que Jesus dirigiria “os nossos pés pelo caminho da paz”. Jesus é o caminho (João 14.6). Em Gênesis, provavelmente era a árvore que dava a vida, mas quando o homem foi expulso, ficou sujeito à separação de Deus e à morte eterna. Porém, a provisão de Deus em Cristo nos levou a receber uma nova oportunidade. Se o caminho da Árvore da Vida dava eternidade, Jesus é o caminho para eternidade, pois Ele disse: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.54). Jesus é também “a videira verdadeira”. Ele é a porta aberta para Deus (João 10.7). Portanto, se quisermos Deus, só Jesus é o caminho. Se quisermos vida eterna, Jesus é a vida.

O primeiro Adão levou à expulsão, o segundo Adão conduziu o homem de volta à comunhão. Ninguém consegue ter acesso à comunhão com o Pai, se Jesus não for a ligação. Ele disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida e ninguém vem ao pai senão por mim” (João 14.6).

Nos dias de Adão, sua desobediência o fez ser expulso do jardim, porém, hoje, nossa desobediência expulsa o Senhor do nosso jardim. Por mais que nos ame e deseje ter comunhão com Seus filhos, o Senhor se recusa a viver em um ambiente dividido, sujo ou contaminado com a mentira, corrupção, inveja ou qualquer outra coisa semelhante. Sua presença não suporta o pecado, mesmo que nos ame a ponto de morrer por nós. Ele jamais poderá ter comunhão conosco se nosso jardim não estiver preparado para Sua presença. Por isso Paulo diz: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus que é o vosso culto racional” (Romanos 12.1). Precisamos estar de volta ao Jardim. O desejo de Deus em prover um lugar de comunhão para o homem se estende por toda a Sua Palavra e finalmente é realizado por Jesus. Ele é o caminho da comunhão.

Por, Émerson Feitosa.

Se este artigo foi útil para você compartilhe com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem