Uma perspectiva pentecostal de Números 11

Em que medida a experiência dos setenta anciãos em Números 11 tem a ver com o pentecostes no Novo Testamento em nossos dias?

O batismo no Espírito Santo - revestimento de poder do alto visando a capacitar o crente para o serviço (Lucas 24.49; Atos 1.8; 2.4) - é o grande distintivo doutrinário do Movimento Pentecostal. O Novo Testamento fundamenta esta experiência e a coloca como atual e disponível para todos os crentes (Atos 2.39).

Entretanto, uma análise mais acurada no Antigo Testamento demonstrará que o Espírito Santo estava em plena atividade intervindo nos momentos críticos da origem e formação de Israel, o Espírito estava enchendo (Êxodo 35.32), revestindo (Juízes 6.34) e se apoderando dos líderes da nação (1 Samuel 16.13); e especialmente no pentateuco, temos um evento que lança as bases para a doutrina mais característica do pentecostalismo.

A carga pesada do povo e suas murmurações deixaram Moisés numa situação tão difícil que ele clama ao Senhor e pede que este fardo seja retirado dele e que o mate (Números 11.11-15). A resposta de Deus foi providencial: Moisés deveria separar setenta anciãos do povo e levados para a Tenda da Congregação (11.16), onde lá o Senhor retiraria do Espírito que havia sobre ele e distribuiria sobre estes homens. Aqui nós verificamos textualmente aquilo que não havia sido dito até então: Moisés liderava o povo no poder do Espírito Santo.

Quando Moisés cumpriu a ordem do Senhor, diz a Escritura: "Então o Senhor desceu na nuvem, e lhe falou; e, tirando do espírito que estava sobre ele o pôs sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quanto o espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas depois nunca mais" (Números 11.25 - ACF).

O texto afirma que quando o Espírito repousou sobre os anciãos, "todos profetizaram". A profecia foi uma "evidência inicial" desta realidade experiencial que tiveram. O sinal nesta passagem é marco veterotestamentário para a doutrina pentecostal da evidência física inicial. A profecia, em Números 11 serve para evidenciar externamente que os setenta foram capacitados para o serviço de liderança do povo no deserto, da mesma forma que as línguas serviram como sinal de que os gentios da casa de Cornélio receberam a mesma experiência que os discípulos por ocasião do Pentecostes (Atos 11.15).

Neste episódio, encontramos diversas similaridades com o evento do Pentecostes: 1) a investidura de poder do Espírito sobre uma coletividade; 2) o propósito de capacitá-los para liderar e auxiliar Moisés; e 3) um sinal que evidenciou essa capacitação. Os paralelos continuam, mas estes, a meu ver, são os mais importantes.

Portanto, de acordo com o que analisamos, o Antigo Testamento fornece bases sólidas para que Números 11, dentro do Pentateuco, seja considerado o grande episódio programático e paradigmático para a experiência com o Espírito de Deus ao longo da Escritura. Podemos, com certeza, chamar este evento de protopentecostes. A igreja, depois do Pentecostes (Atos 2.1-4), foi capacitada pelo Espírito Santo para o serviço assim como aqueles líderes foram capacitados. Nossa ligação com os assuntos do Antigo Testamento é mais estreita do que se imagina. Na linha da revelação bíblica, a experiência dos anciãos com o Espírito em Números 11 fornece uma paradigma para os líderes e para todo o povo de Deus.

Por, Anderson Lopes

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