O pai e seus dois filhos perdidos

Embora seja mais conhecida como a “Parábola do Filho Pródigo”, grande parte dos estudiosos admite que esse tema não seja apropriado ao relato registrado em Lucas 15.11-32. Mesmo se utilizássemos títulos como “A Parábola do Pai que Espera” ou “A Parábola do Amor Paterno”, estes dariam o direcionamento apenas ao filho mais moço, deixando de lado as atitudes e comportamentos do primogênito. Se analisarmos apenas o contexto do filho mais jovem, ficaria incompleta a mensagem que Jesus queria nos transmitir através do comportamento de ambos.

Podemos ver que o filho mais moço decidiu não mais ser governado por seu pai. Com uma atitude de extrema desonra, pediu a herança antecipadamente e foi-se para uma terra longínqua. Para ele, quanto mais longe do pai, melhor. Para onde ele foi, a “liberdade” era total. O pai não poderia mais interferir em sua vida. Agora o jovem se sentia seu próprio senhor. Depois de um tempo em que viu que era incapaz de governar sua própria vida, vivendo de forma desregrada, consumindo todos os seus bens, ele começou a padecer necessidades.

Apesar do fracasso, ainda não havia se arrependido. Por isso, não considerava a hipótese de renunciar a sua “liberdade” e voltar para o pai. O texto diz que foi trabalhar cuidando de porcos. Um judeu, segundo seus costumes, era totalmente proibido de comer carne de porco. Os judeus não podiam sequer tocá-los, então imagine um judeu ter de criar porcos (Levítico 11.7; Deuteronômio 14.8). Impensável a um judeu. A situação se agravou de tal forma que chegou ao ponto de o rapaz desejar a comida dos porcos que cuidava.

Vemos uma mudança no comportamento do moço, um amadurecimento, quando Jesus disse que ele caiu em si (Lucas 15.17). Após suas experiências e desilusões, decidiu voltar para o pai pelo menos como servo. Mas, gostaria de dar agora uma ênfase maior ao seu irmão primogênito. Ele não aceitava que seu irmão mais novo, após seu ato de rebeldia, fosse recebido com festas e homenagens.

Apesar do pai se alegrar ao receber seu filho arrependido de volta, o filho mais velho ficou com ciúmes e demonstrou arrogância. Ele se vangloriou da sua obediência, dizendo jamais ter transgredido uma ordem do pai (Lucas 15.29). Tal situação é explícita quando ele diz: “...e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos”.

Apesar do pai se alegrar ao receber seu filho arrependido de volta, o filho mais velho ficou com ciúmes e demonstrou arrogância. Ele se vangloriou da sua obediência, dizendo jamais ter transgredido uma ordem do pai (Lucas 15.29). Tal situação é explícita quando ele diz: “...e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos”.

Observe que ele se nega a participar do banquete que o pai está oferecendo por ocasião da volta do seu irmão mais novo (Lucas 15.28). Mesmo com o pai indo à sua direção e lhe expondo o acontecido, destacando que não estava havendo uma supervalorização de um e uma inferiorização do outro, o fechamento dessa segunda metade do relato é omitido, fazendo com que o leitor venha a refletir se o primogênito foi ou não ao banquete.

Outro ponto que deve ser observado se encontra em Lucas 15.30, quando ele diz: “Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado”. Se ele estava no campo, ao chegar próximo à casa, precisava que alguém lhe informasse o que estava acontecendo, e quando o pai vem tentar convencer-lhe a entrar em casa, ele acusa o seu irmão de ter gastado todos os bens com meretrizes. Como ele sabia disso? Será que ele estava informado, por viajantes, das proezas e dificuldades do irmão e não as informou ao pai?

O filho mais velho pode nunca ter saído de casa, mas sua atitude era pecaminosa. Ele não conseguiu se regozijar com a volta do seu irmão.

É bastante fácil enxergar a falha do filho pródigo. Afinal, ele saiu de casa! O filho pródigo é aquele que exterioriza o que se passa no seu coração, já o primogênito é aquele que oculta os seus sentimentos e, no momento em que os revela, constatamos que é muito mais cruel que seu irmão. O filho pródigo é o sonhador, iludido com as “miragens da vida”; o primogênito é frio e desprovido de qualquer sentimento afetivo. Veja a resposta do pai: “Tudo o que é meu é teu” (Lucas 15.31). No contexto descrito, o filho mais velho tinha uma responsabilidade a mais, de cuidar dos pais na velhice e prover o sustento da família e, em compensação, recebia porção dobrada da herança. Ele assumiria a liderança da família.

O irmão do pródigo é pior que o irmão que pediu sua parte da herança e gastou tudo com as meretrizes. Ele se mostra frio, insensível, desprovido de amor e qualquer outro tipo de afeto. Prende-se ao cumprimento de obrigações, tem uma conduta irrepreensível aos olhos humanos, mora na casa de seu pai, mas não tem nenhuma intimidade com aqueles que lá habitam. Sobre seu pai, ele o considera um patrão. Não mostra que o ama nem permite ser amado por ele. É um poço de amarguras e não consegue aceitar seu pai agir de forma diferente da que ele agiria.

A parábola tem também um caráter missionário. Ela aponta para, além de aceitar os pecadores, sermos motivados a ir a sua busca. Por ter um fim incompleto, ela funciona como um convite para que os ouvintes tomem a mesma atitude que o pai teve com os seus filhos, e esse é o nosso objetivo ao escrever este artigo. Que Deus em Cristo lhe dê a sensibilidade e o amor do Pai compassivo para com os seus dois filhos.

Por, Célio Cesar de Aguiar Lima.

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