Os “autos selados” de Jeremias

O Salmo 24.1 diz que “do Senhor é a terra e a sua plenitude”. Porém, quando se trata da Terra de Israel em relação ao Senhor, as tangentes se tornam ainda mais intensas. A Terra de Israel, antes pertencente e profanada pelos habitantes de Canaã, agora é chamada de Terra Santa pelo próprio Senhor. O povo de Israel, como mordomo da Terra, tinha a obrigação de desenvolver uma vida santa naquele lugar, dado a eles como herança prometida a Abraão.

O hagiógrafo muitas vezes narra Deus tratando a Terra como se ela estivesse relacionada profundamente ao seu “caráter”, mais precisamente a sua santidade, tornando assim, uma verdade absoluta, no comportamento do povo santo, em relação à Terra Santa. Para tornar possível o relacionamento de um Deus santo com um povo santo, habitando em uma Terra Santa, Deus concede Sua Lei, perene e auto-educativa para conduzir Seu povo de acordo com a Sua vontade.

A Terra de Israel precisava ser purificada de toda maldade que nela foi praticada pela desobediência do povo, em relação aos mandamentos e estatutos dados pelo Senhor, bem como por vários reis, entre eles Manassés, que foi a “última gota” da medida chamada profanação, além dos sacerdotes que corromperam o sacerdócio e os rituais (Salmos 106.33-39).

Nesse contexto, Deus promove seus juízos contra a nação israelita no reino do sul. Ele levanta o profeta Jeremias para anunciar os oráculos divinos e nos oráculos estavam contidas mais uma sentença ao reino do sul: os setenta anos de cativeiro babilônico (Jeremias 25.11-12). Muitos críticos da Bíblia conseguem apenas ver um Deus tirano, aplicando sua severidade em forma de juízos. Ao contrario, onde deveriam observar um Deus cheio de amor e misericórdia que estava poupando a nação de uma autodestruição se continuassem habitando na terra.

A revelação profética sempre foi progressiva aos profetas, até porque nenhum profeta tinha a capacidade de suportar o peso do Senhor em um momento único. Nessa revelação progressiva do Senhor a Jeremias, no capítulo 25 do livro que leva o seu nome, observamos o profeta escrevendo uma carta, no principio do reinado de Zedequias, para os cativos que já estavam na Babilônia, visto que Nabucodonosor já havia feito duas levas de cativos para o seu reino. Na carta, o profeta incentiva-os a se acostumarem com a nova terra, e que eles deveriam edificar casas, plantar jardins, comer do fruto daquela terra, gerar filhos e procurar pela paz da cidade, visto que o cativeiro não seria de dois anos, como o falso profeta Ananias havia profetizado, mas sim de setenta anos, e a prova disso foi a morte do falso profeta.

A revelação profética a Jeremias continua, e no capítulo 32, “hoje” algo surpreendente é revelado ao profeta sobre a terra de Israel. Era o ano décimo do reinado de Zedequias (Jeremias 32.1) e o ano décimo oitavo do reinado de Nabucodonosor. Fazia dezoito anos que o rei da Babilônia vinha oprimindo a nação de Israel, desde o ano terceiro do reinado de Jeoaquim (Daniel 1.1-2), dezoito anos se passaram, o juízo divino estava prestes a acontecer. A situação socioeconômica se torna em um caos, gerando pobreza, fome e conflitos sociais irreparáveis. Já fazia quase doze meses, que Nabucodonosor havia cercado Jerusalém, ninguém entrava nem saia da cidade. Em meio a esse cenário, o profeta Jeremias estava encerrado no pátio da guarda, quando uma nova mensagem vem da parte do Senhor, lhe dizendo para comprar um pedaço de terra do seu primo Hananel.

O resgate de terras era normal dentro da sociedade israelita e até mesmo outorgada pela lei de Moisés, mediante o empobrecimento de alguém (Levítico 25.25-28). Com todas as circunstâncias negativas que estavam tomando conta da nação, a pobreza, a miséria e a fome também tomaram conta da pequena Ananote, onde habitava a família de Hananel. Muitos já estavam perecendo com a fome, e a saída daquela família seria vender o seu pequeno pedaço de terra para continuar sobrevivendo. Como Jeremias fazia parte da família, coube a ele o resgate da herança das terras. Mas algumas perguntas dentro desse contexto socioeconômico de crise total seriam evidentes. Hananel realmente era ousado e confiante ou isso vinha do Senhor? Por que Jeremias compraria uma herdade naquele momento? Não tinha sentido. Seria um absurdo alguém querer comprar terras na situação de uma destruição iminente. Todos os corretores imobiliários da época haviam fechado as portas. Todo investimento apontava para qualquer outro lugar, menos para dentro das terras de Israel, visto que dentro de pouco tempo todas as terras passariam a pertencer ao reino de Nabucodonosor, e todo investimento aplicado seria vão.

Quando Hananel chegou a Jeremias, o profeta não relutou, mas imediatamente obedeceu a ordem divina (Jeremias 32.6-7) e comprou as terras, pesando-lhe o dinheiro e subscrevendo o auto da compra na presença das testemunhas. Mesmo com o coração cheio de inquietação, o profeta obedeceu a voz do seu Senhor (Jeremias 32.25). Mediante a fidelidade e obediência do profeta, um ato simbólico profético surge e uma nova mensagem de esperança para o povo de Israel havia sido decretada. Mesmo que a terra fosse invadida e destruída, o povo, juntamente com seus maiorais, seria levado cativo e em um futuro (setenta anos) voltaria à Terra Prometida, sob a liderança de Zorababel, e compraria casas, campos e vinhas. O direito de posse das terras de Hananel, agora pertencente a Jeremias, seria os “autos selados”, mas a garantia que a nação de Israel voltaria do cativeiro, e habitaria tranquilamente em suas casas, foi o selo da mensagem profética de Jeremias dado pelo Senhor em relação a Israel (Jeremias 32.42.44). Da mesma forma que se conservaria os autos, dentro do vaso, o Senhor conservaria a Sua palavra até o dia que traria a nação de Israel de volta da Babilônia (Jeremias 14.15).

Os “autos selados” de Jeremias vão muito além de uma escatologia veterotestamentária, pois isso aconteceria parcialmente dentro de setenta anos, mas a sua abrangência aconteceria em uma restauração completa da nação em uma escatologia futura, mediante o poder restaurador do Messias que acontecerá no final da Grande Tribulação. Mesmo sem o profeta Jeremias compreender todas as coisas, o Senhor anima o coração dele (Jeremias 32.27b). O Senhor continua soberano e está no controle de todas as coisas da nação de Israel.

Por, Gesiel Pereira.

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