A história e a importância do Natal

A história e a importância do Natal

Aos 84 anos, o teólogo e historiador metodista cubano-americano Justo L. González é considerado um dos maiores especialistas em História da igreja e Teologia Histórica. Ele nasceu em Cuba em 9 de agosto de 1937, tendo concluído simultaneamente os bacharelados em Ciências e Letras pelo Instituto de Marianao, em Cuba, em1954; concluído em 1957 seu bacharelado em Teologia pelo Seminário Evangélico de Teologia, em Matanzas, Cuba, e no mesmo ano o seu doutorado em Filosofia pela Universidade de Havana. Nos anos de 1958 e 1959, estudou na Universidade de Estrasburgo, na França, tendo concluído seu mestrado e seu doutorado em Teologia Histórica respectivamente em 1960 e 1961, ambos na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Aos 24 anos, ele foi a pessoa mais jovem a receber o doutorado em Teologia Histórica naquela universidade.

González lecionou Teologia Histórica no Seminário Evangélico de Porto Rico de 1961 a 1969; foi pesquisador-adjunto da Universidade de Yale em 1968; lecionou Cristianismo no Mundo na Universidade Emory, na Geórgia (EUA), de 1969 a 1977; foi professor visitante de Teologia no Centro Teológico Interdenominacional de 1977 a 1988; e professor de Teologia do Seminário Teológico Columbia, na Geórgia, de 1988 a 1991 (ano em que se aposentou), além de ter dado vários cursos como professor-visitante em vários seminários espalhados pelo mundo.

Ele é autor de dezenas de livros, dentre eles os seguintes títulos lançados pela CPAD: História da Literatura Cristã Antiga, Mapas para a História Futura da Igreja, Uma Breve História do Domingo e Semana Santa: Origens e Significado. Nesta entrevista, concedida com exclusividade ao jornal Mensageiro da Paz, ele fala sobre as origens da celebração do Natal e sua importância para o Cristianismo.

Quando o Natal começou a ser comemorado pelos cristãos? Qual é o contexto histórico da origem dessa celebração?

Os cristãos sempre insistiram na importância do nascimento de Jesus. Mas a atribuição de uma data não existia até o quarto século. O motivo pelo qual o Natal passou a ser enfatizado foi por que havia aqueles que negavam que Jesus tivesse nascido. Essas pessoas, que aparentemente se mostravam particularmente espirituais, pensavam que tudo o que era material era ruim e que apenas o espiritual poderia ser relacionado a Deus. Portanto, eles insistiram que Jesus era um ser puramente espiritual que parecia ter um corpo humano. Foi como uma forma de contrariar essas ideias que o nascimento de Jesus começou a ser celebrado em uma data específica, embora o próprio nascimento sempre tenha sido uma parte essencial da fé cristã. Aparentemente, as igrejas orientais – isto é, as de língua grega – celebraram o nascimento de Jesus em 6 de janeiro, enquanto as ocidentais – as de língua latina – o celebraram em 25 de dezembro. Aos poucos, sem grande polêmica, as duas celebrações foram se combinando, de modo que agora celebramos o Natal em 25 de dezembro, mas a festa continua até 6 de janeiro, quando a revelação de Jesus às nações é celebrada na forma dos sábios homens do Oriente, aqueles que, sem razão, alguns chamam de “magos”. Parte do que aconteceu recentemente, com a comercialização do Na tal, é que uma vez que essa data chega, os negócios começam a se concentrar em outros assuntos, e pensa-se que o Natal acabou. Mas, tradicionalmente, o Natal não começava até 25 de dezembro e continuava até 6 de janeiro. Em muitos países, o Natal começa na noite de 24 de dezembro, o que eles chamam de “Véspera de Natal”. Isso porque, na antiga tradição judaica dos tempos bíblicos, o dia não começava à meia-noite, mas ao pôr do sol. Então, quando o sol se põe no dia 24, já é 25, o dia do nascimento do Senhor.

Há cristãos que não celebram o  Natal porque consideram que essa comemoração tem uma origem pagã. A maioria dos cristãos, entretanto, celebra a data. Qual é a sua posição sobre este assunto?

Quanto à origem pagã da festa, a verdade é que ninguém sabe o motivo da sua escolha no dia 25 de dezembro. Não há dúvida de que, naquela data, ou nos dias que a cercavam, se celebravam dias especiais em várias tradições pagãs. Isso não deve nos surpreender, pois é no final de dezembro que em todo o Hemisfério Norte os dias são mais curtos e as noites mais longas. A partir dessa data, os dias começam a se alongar, anunciando a primavera. Pelo menos um elemento no processo que levou os cristãos a escolherem o dia 25 de dezembro para celebrar o nascimento do Senhor foi remover as pessoas das celebrações pagãs tradicionais. Outra razão é que a grande festa dos cristãos, desde o início, era o Domingo de Páscoa, precedido de uma Semana Santa. Visto que essa celebração ocorreu na primavera, era conveniente celebrar o nascimento de Jesus pelo menos vários meses após sua crucificação e ressurreição.

Qual seria a data mais provável do nascimento de Cristo? 

Alguns cristãos antigos, procurando explicar por que essa data de 25 de dezembro, ofereceram especulações interessantes. Por exemplo, alguns disseram, com base nos Evangelhos e nos calendários judaicos, que Jesus foi crucificado em 25 de março. Eles então argumentaram que, visto que tudo está em harmonia em Deus, Jesus deve ter sido concebido na mesma data. Nove meses após 25 de março seria 25 de dezembro. Mas tudo isso são especulações posteriores comas quais se esperava justificar a celebração nessa data. Se  deixarmos de lado todas as especulações e tradições que fixaram a data do nascimento de Jesus, a verdade é que não há como determinar a data atual desse nascimento. Mas é importante afirmar e reafirmar a realidade do nascimento, de Jesus como a encarnação de Deus, que é o fundamento de toda a fé cristã.

Quão importante é para um cristão celebrar o Natal?

Quanto a celebrar o Natal, tudo depende da forma como ele é celebrado. Torná-lo uma ocasião para meramente aumentar as vendas é representá-lo erroneamente muito mais do que qualquer origem pagã da data escolhida para celebração. O perigo mais sério não é que haja algum vestígio de alguma prática pagã antiga. O perigo mais sério é fazer do nascimento de Jesus uma mera desculpa para ganhar mais dinheiro. Celebramos o nascimento Daquele que se fez pobre por nós e o fazemos como mais um meio de enriquecimento de alguns! Então, se vamos celebrar o Natal, vamos fazer de uma forma que homenageie Aquele que nem mesmo teve onde reclinar a cabeça.

Por, Justo L. González.

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