Atos 19 narra a passagem de Paulo em Éfeso por ocasião de sua terceira viagem missionária, e também trata de um caso novo na história da Igreja: o rebatismo de um grupo de discípulos que conhecia apenas o batismo de João. Para que possamos tratar desse assunto, é preciso delimitar o significado do batismo praticado por João, sua diferença em relação ao batismo em nome de Jesus e a intenção do apóstolo Paulo ao batizar aqueles crentes.
O batismo de João era ministrado para demonstração de arrependimento
por parte daqueles que ouviam suas palavras, de que o Reino de Deus estava próximo
e que ninguém que não tivesse um coração arrependido de seus pecados entraria nele
(Mateus 3.1-12). Essa advertência foi dada até para a liderança religiosa
instituída em Israel, composta de fariseus e saduceus, que deveriam mudar suas atitudes.
Arrependimento, no grego “me tanoia”, indica uma decisão de caminhar na direção contrária, voltar-se para outro caminho, uma forma consciente de abandonar as práticas costumeiras e voltar-se a um novo estilo de vida. As pessoas que ouviam João não eram cobradas apenas a se arrependerem, mas também a crer que Deus estava enviando o Seu Escolhido, muito maior que João Batista,
para trazer mudanças sérias não apenas em Israel, mas em todo o mundo.
Alguns doutrinadores bíblicos indicam a ideia de que quando um
prosélito era admitido na fé judaica, fazia a circuncisão e era batizado, como uma
referência aos banhos rituais do Antigo Testamento que eram administrados para
a purificação. A diferença é que quem era batizado por João deveria esperar não
apenas Jesus, chamado por João de Cordeiro de Deus e sobre o qual dizia “é maior
do que eu”, mas esperar da parte de Jesus o Batismo com o Espírito Santo.
Para o cristão, o batismo não representa arrependimento para
entrar no Reino que está por vir, nem a espera para que Jesus se manifeste e
cumpra Seu ministério de Salvação e nos batize com o Espírito Santo. Essa esperança
já aconteceu, pois o Senhor já veio, morreu na cruz e batiza seus servos com
Seu Santo Espírito. Neste instante, aguardamos Jesus manifestar-se para arrebatar
Seus fiéis. Para o cristão, o batismo é o ato pelo qual somos identificados com
Cristo em sua morte, sepultamento e ressurreição. Para se identificar com os pecadores
e cumprir toda a justiça, Jesus foi batizado por João, e após a Sua manifestação
e ministério, que foi completado com Seu sacrifício na cruz, o batismo de João
deixou de ter validade, sendo substituído pelo batismo em nome de Jesus (cuja fórmula
batismal é, como o próprio Jesus ensinou, “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo”). Esse batismo foi adotado pelos cristãos, pelo fato de que Jesus já
havia se manifestado.
Mais precisamente, o caso dos discípulos efésios deve nos chamar
a atenção também pelo fato de que a terceira viagem missionária de Paulo
aconteceu 25 anos depois do Dia de Pentecostes em Jerusalém, ocasião em que os
discípulos no cenáculo foram cheios do Espírito Santo. Com base no exposto, o batismo
de João era um sinal indicativo para aqueles que ouviam sua mensagem de que o
Messias estava chegando, e o batismo que Paulo administrou nos discípulos
efésios, segundo o ensino de Jesus, mostrava que Jesus já tinha vindo e
completado Sua obra. Esse foi o motivo pelo qual Paulo batizou aquelas pessoas
“em nome de Jesus”. O batismo de João mostra o que haveria de vir, e o batismo
em nome de Jesus apresenta o que já aconteceu, e o indicativo da aprovação divina foi a recepção do batismo com o Espírito Santo a seguir. A intenção paulina,
intrínseca no ato, foi de demonstrar essa realidade aos efésios.
por Alexandre Coelho
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