Sobre benefícios e desafios de eventual Brasil majoritariamente evangélico

Sobre benefícios e desafios de eventual Brasil majoritariamente evangélico


Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os evangélicos no Brasil em 2000 eram 26,2 milhões; em 2010, 42,3 milhões. A expectativa é que o número do Censo 2022, que será divulgado ainda neste ano de 2025, seja ainda maior. Esse crescimento chama a atenção e se torna assunto de debate na mídia e entre os estudiosos. A igreja deveria também avaliar a situação à luz da Bíblia para entendê-la e aprender como proceder diante desse novo contexto social.

A ordem de Jesus aos Seus discípulos foi de que eles fossem às nações e ali fizessem discípulos, batizando as pessoas em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-as a obedecer a tudo o que Ele tinha mandado (Mateus 28.19,20). Essa tarefa alcança a Igreja do século 21. Portanto, a primeira conclusão a que se chega diante do aumento de evangélicos no Brasil é que o Evangelho está sendo pregado e as pessoas estão entregando suas vidas a Cristo.

Além da pregação, Jesus fala de fazer discípulos, ou seja, da necessidade de ensinar a pessoa que recebeu a salvação no desenvolvimento do seu caráter com base nos fundamentos da fé cristã. É um processo de transformação guiada pelo Espírito Santo para se parecer mais com Cristo (Romanos 12.1,2). Isso significa aprender com a leitura e o estudo da Bíblia, ter experiência com o Espírito e amadurecer na igreja com os irmãos e as irmãs. Seguindo essa orientação bíblica, se espera que, onde haja um discípulo de Cristo, suas ações façam a diferença na sociedade.

Se o Brasil está vivendo esse crescimento numérico, o que dizer da qualidade desse ensino, o discipulado? É essencial que as pessoas que acabaram de ter um encontro com Cristo entendam a mensagem do Evangelho e o sentido da salvação. Como novas criaturas e moradas do Espírito Santo, todas as dimensões da vida precisam ser reavaliadas. Essa compreensão é o que explica a necessidade de se viver em santificação. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12.14). E assim é a nova realidade de todos os filhos e filhas de Deus, uma jornada de contínuo aprendizado de dependência do Senhor. São discípulos que buscam conhecer melhor a seu Mestre. A obediência aos ensinos de Jesus direciona as preocupações humanas para o amor a Deus, em primeiro lugar, e também aos outros e a si mesmo (Lucas 10.25-37).

Se o Brasil ou qualquer país ter a maioria da população se comprometendo com Deus e obedecendo à Sua Palavra, o resultado será de uma sociedade abençoada. A dedicação às coisas dos Céus produz efeito na Terra. Os vizinhos notam o brilho de Cristo no comportamento do crente, pois é o crente que ajuda a resolver os conflitos, fala sempre a verdade e paga as contas em dia. O crente luta por uma vida melhor e nesse processo acaba por construir uma nação solidária, honesta e respeitosa, que não aceita o pecado, a injustiça e a violência. O crente é o aluno e o funcionário mais dedicado. Estuda para entender melhor o mundo, assim consegue um bom trabalho e avalia com cuidado as tendências culturais. Ou seja, o crente se torna o cidadão exemplar, ganha o respeito da sociedade e, nessa rotina, constrói um país em que as condições de vida sejam boas.

Jesus ensinou que devemos ser o sal da humanidade (Mateus 5.13) e a luz do mundo (Mateus 5.14; João 8.12), produzir bons frutos (João 15.4) e fazer o bem (Mateus 7.23). Os problemas que surgem por conta da natureza humana são resolvidos na direção de Deus (Romanos 15.5) e não em interesses pessoais (Provérbios 3.5,6). “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gálatas 5.25) é a conclusão de Paulo. Ou seja, onde quer que esteja a pessoa que serve a Deus, ela influencia o mundo ao seu redor, pois reflete a glória divina e exala o perfume de Cristo, transmitindo paz e bênção.

Por outro lado, há o risco de o crescimento dos evangélicos ser somente numérico e sem efeito na transformação do caráter das pessoas. Isso pode produzir um resultado cosmético, ou seja, um crescimento simplesmente de aparência religiosa. Isso é consequência de pessoas com o alicerce da fé cristã mal construído (Lucas 6.47-49) e que não produzem as virtudes do fruto do Espírito Santo (Gálatas 5.22,23). Daí a importância de a igreja se preocupar em desenvolver um bom discipulado. Jesus exorta contra a aparência dos fariseus: “Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mateus 23.28).

Deus tenha misericórdia do Seu povo! Jesus deu um alerta sobre o religioso de aparência: “Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas?” (Mateus 7.22). E a reação de Jesus a essas pessoas é: “E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7.23). Existe a possibilidade de alguém estar vivendo na ilusão de que está agradando a Deus, quando, na verdade, está satisfazendo a si próprio.

Olhar a história nos ajuda a perceber os benefícios e os riscos produzidos em um país majoritariamente cristão. Países europeus então majoritariamente protestantes enviaram missionários no início do século 20, e o Evangelho foi pregado em todos os continentes. Foi um ponto positivo. Infelizmente, vemos casos de violência em nome de Jesus, e isso tem sido uma crítica contra o Cristianismo. Por exemplo, o número de mortos para defender a Terra Santa durante o período das Cruzadas. Nos anos da Reforma Protestante, a disputa por diferentes interpretações teológicas causaram guerra entre grupos cristãos e muitos morreram. Podemos aprender com a história e frequentemente realizarmos uma autoanálise para avaliar se estamos obedecendo à vontade de Deus ou um projeto político.

Onde o Espírito Santo opera há florescimento de bênçãos e transformação de vidas. Disse Jesus: “O ladrão não vem senão a roubar, a matar e a destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância” (João 10.10). Como lemos em Atos sobre a experiência dos primeiros seguidores de Jesus, problemas e desafios fazem parte do coti diano, e a maneira de lidar com isso é a oração e a prática do discernimento (Atos 4.16-22; 5.9-11; 6.1-6; 15.1-29). E isso nos leva de volta à ordem de Jesus em Mateus 28.19 e 20. Devemos fazer discípulos e ensinar o que Ele ensinou, ou seja, a Palavra de Deus. Os fundamentos da fé em Jesus devem ser feitos com base na Bíblia.

Vemos que a ordem de Jesus de pregar o Evangelho e fazer discípulos tem implicações não somente para salvação da alma, mas também para maneira como se vive o dia a dia e se constrói a sociedade. A salvação é de graça, basta a pessoa aceitar; a santificação é um processo que acompanha toda as ações durante a caminhada cristã. Consequentemente, isso impacta o funcionamento de uma nação. A ação de Deus é reconhecida quando Seu povo demonstra amor (João 13.35). Esse amor contagia e influencia. Assim, que “resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5.16).

por Daniele Soares

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