“E m Israel, só é realista quem acredita em milagres” (Ben-Gurion).
Com tais palavras o saudoso líder judeu resumiu a situação de seu recém-criado país em maio de 1948, quando enfrentaram sua primeira guerra. A Síria e o Líbano atacavam ao norte. A Transjordânia e o Iraque, ao leste. Ao sul, o Egito mostrou-se um poderoso oponente e as perspectivas de um futuro nacional eram sombrias. “Desde o momento em que Israel alcançou sua soberania, o Estado Judeu raramente passou um ano sem guerra ou [sem] a constante ameaça do terrorismo. Desde o início, os países árabes têm-se recusado a aceitar uma resolução aprovada, em 1947, pelas Nações Unidas: a criação de um Estado Judeu em sua terra ancestral” (Revista Morashá, 9 de maio de 2025). Ben-Gurion, de maneira ponderada, mesmo diante dos ânimos exaltados dos componentes do ‘ishuv’, insistiu em que “a situação devia ser encarada tal como se apresentava, sem derrotismo ou falsas expectativas, porque a resistência e a vitória final seriam difíceis, mas não impossíveis”.
Além dos ataques e cercos contra as cidades, as comunidades agrícolas
israelenses enfrentavam grande perigo. No dia 21 de maio, o Kibutz Negba,
situado ao sul, no deserto do Neguev, próximo a uma importante via de transporte,
foi atacado por uma unidade egípcia. Seguiram-se bombardeios, sendo que, num só
dia, o kibutz foi alvo de milhares de bombas. Reforços foram enviados, mas os
defensores de Negba apenas contavam com cerca de 70 soldados e 70 residentes
kibutzim, incluindo 10 mulheres. Tinham 80 fuzis, 200 granadas de mão, 500 coqueteis
molotov, 20 submetralhadoras, 8 metralhadoras e 53 morteiros. Os adversários
dispunham de uma companhia de tanques, uma de carros blindados, e três baterias
de artilharia.
O ataque egípcio ocorreu às 7 da manhã do dia 2 de junho. O
pastor Abraão de Almeida, em seu livro “Israel, Gogue e o Anticristo” (CPAD),
cita Meyer Levin, ao descrever a batalha, lembrando que o kibutz não passava de
uma fileira de cabanas à volta de uma torre de concreto para o armazenamento de
água. Depois de sucessivos ataques, todas as construções estavam arrasadas, as
crianças haviam sido enviadas para o interior do país e os resistentes colonos escondiam-se
em escavações subterrâneas. Apesar disso, o desproporcional ataque sobreveio: “Seis
mil bombas caíram sobre Negba em um único dia, antes do ataque, na madrugada de
2 de junho, quando apareceram 7 tanques egípcios, seguidos por sete carros
blindados e dois mil homens. Um par de ‘Spitfires’ tripulados por árabes
roncavam sobre suas cabeças; um deles foi abatido a tiros de fuzil. Esperando
que os tanques chegassem a uma distância de 200 jardas, os colonos acionaram sua única bazuca. O primeiro tiro pôs um tanque fora de
combate. Dois tiros se perderam. Os dois tiros restantes atingiram um tanque cada.
Um outro tanque, a cinco jardas dos defensores, atingido por granadas de mão
explodiu. Dois outros bateram em minas. O último fugiu. Chegou, então, a
infantaria. E a batalha durou cinco horas”.
Apesar das condições adversas, os colonos israelenses venceram.
Foram vitoriosos nessa e em outras batalhas. Seu exemplo tornou-se símbolo de
luta e resistência. Negba contou 8 mortos e 11 feridos, enquanto os atacantes
somaram 100 mortos e igual número de feridos. Um novo ataque foi engendrado,
com um plano de atacar o kibutz em três frentes. No entanto, algo aconteceu: os
ataques coordenados foram frustrados por desentendimentos internos, sendo que
os egípcios tentaram em vão se reorganizar. Enquanto isso, tornaram-se alvos
fáceis e foram derrotados, com perdas de cerca de 300 vidas. Tiveram de recuar.
Seu comandante foi demitido. A batalha em Negba marcou importante etapa para a conquista
do sul de Israel, sendo comparada às grandes batalhas ocorridas na História,
cantada por poetas e rememorada sempre que o impossível parece desafiar a
resistência dos combatentes.
Contam que, naquela primeira noite de vitória, os colonos, exaustos
e feridos, saíram para regar as mudas sobreviventes de suas plantações. Afinal,
Negba era uma colônia agrícola, e o objetivo de seu trabalho comum era semear e
colher em paz na terra prometida por Deus a eles e aos seus descendentes. Enquanto
regavam as plantações, recordavam aquele que se tornaria seu grito de guerra:
“ein brayra”, que em hebraico, quer dizer “não há escolha”.
Também para os que militam nas fileiras de Cristo, não há escolha
senão perseverar, firmes na luta, travada diária e constantemente contra as
forças do mal. Sabendo que não lutamos contra carne ou sangue, mas contra principados e
potestades, estamos certos de que não nos é dada a oportunidade de esmorecer. Há
uma preciosa semente a ser semeada e forças hostis fazem de tudo para impedir
nossa principal tarefa. Mas, o Senhor dos Exércitos está conosco. Quando nossas
forças faltarem, Ele mesmo é poderoso para desorganizar as forças inimigas e
inutilizar seus ataques.
Enganam-se, porém, os que pensam poderem permanecer neutros enquanto
a batalha prossegue. Jesus advertiu que “aquele que comigo não ajunta, espalha”.
Não há neutralidade no reino espiritual. Vistamos as armaduras de Efésios 6 e
pelejemos o bom combate de Cristo. “Revesti-vos de toda a armadura de Deus,
para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não
temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra
as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais
da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus,
para que possais resistir no dia mal e, havendo feito tudo, ficar firmes.
Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a
couraça da justiça, e calçados os pés na preparação do evangelho da paz;
tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos
inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do
Espírito, que é a palavra de Deus, orando em todo tempo com toda oração e
súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos
os santos” (Efésios 6.11-18).
Enquanto lutamos, perseverantemente, reguemos os tenros frutos
de nossa plantação. “Ein brayra”, não há mais escolha, pois, na verdade, já
fizemos a escolha de nossas vidas, que repercutirá na Eternidade.
Ao orar por Israel, clame ao Senhor para que conceda aos seus
combatentes a perseverança necessária para que não esmoreçam, mesmo diante dos desafios
tidos como impossíveis. “Ein brayra” – Israel não tem escolha, senão confiar em
seu Deus.
הרירב ןיא – ein brayra
por Sara Alice Cavalcanti
Compartilhe este artigo. Obrigado.
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante