Inúmeras passagens das Escrituras enfatizam a necessidade de o ser humano fazer a sua parte para alcançar as bênçãos do Senhor (Tiago 4.8; Provérbios 16.1; 2 Crônicas 7.14; Isaías 1.19 etc.). Nesse caso, se Deus fizer a parte que lhe cabe, e o homem não, este não poderá ser abençoado pelo Senhor (Ezequiel 24.13 e Lucas 13.34).
No que se refere à salvação, não é diferente. Deus-Pai providenciou
o plano salvífico e deu o necessário para a sua realização (Gênesis 3.15 e Gálatas
4.4), o Filho consumou a obra que lhe foi dada pelo Pai (João 17.4-5 e 19.30), e
o Espírito Santo convence o pecador do pecado, da justiça e do juízo (João 16.8-11).
Entretanto, se o homem não fizer a sua parte, morrerá sem receber a Salvação
(João 3.16-18,36 e 1 João 5.12).
A ênfase recaiu no amor de Deus, expresso na manifestação de
Sua graça e de Sua misericórdia, pelas quais Jesus ofereceu-se a si mesmo como
preço de resgate para nos salvar (Romanos 5.8; 1Pe 1.18-19).
Há somente uma resposta apropriada para o amor de Deus:
arrependimento e fé (Marcos 1.15; Atos 3.19 e João 3.16). É claro que não podemos
produzir tais ações sem a capacitação divina (Atos 11.18; Efésios 2.8-9). Entretanto,
estas não são produzidas em nós sem o nosso consentimento. Deus fez a parte dEle,
e o homem precisa agir de forma a aceitar a obra salvífica. Essa aceitação,
mediante ações bem definidas, forma parte do estudo da Soteriologia Subjetiva.
Por conversão entende-se, literalmente, “dar meia-volta” (Provérbios
1.23; Isaías 31.6; Ezequiel 14.6; Joel 2.12 e Mateus 18.3). A conversão é, por conseguinte,
a resposta do pecador à convicção conferida pelo Espírito Santo. Esse voltar-se
a Deus é formado por dois elementos: arrependimento e fé. Pelo arrependimento,
o pecador remove os obstáculos à recepção da Salvação; pela fé, recebe a certeza
da vida eterna.
Há diferença entre arrependimento e fé. A fé é o instrumento
pelo qual recebemos a Salvação, enquanto o arrependimento se ocupa com o abandono
do pecado. Existe fé sem arrependimento? Não, pois só o penitente sente a necessidade
do Salvador e deseja a salvação de sua alma. Por meio do arrependimento, o
homem se desamarra dos laços do Diabo (2 Timóteo 2.25-26). Se, por um lado, não
há fé sem arrependimento, este sem a fé é inútil.
O primeiro elemento da conversão é o arrependimento, o qual
expressa uma transformação no interior do homem, gerando nele uma grande
tristeza pelo mal que praticou. O arrependimento resulta em desejo de pedir
perdão a Deus e implorar-lhe força para viver uma nova vida.
No Novo Testamento, o termo para arrependimento é μ (Metanoia),
cuja significação primária é: “Uma mudança de parecer ou pensamento; uma mudança
de um lado para o outro”. Quase todas as pregações neotestamentárias têm como base
o arrependimento (Mateus 3.2; 4.17; Marcos 1.15; Lucas 24.47; Atos 2.38; 3.19).
O arrependimento também aparece no Antigo Testamento, sendo
a principal mensagem dos profetas (Deuteronômio 30.10; Jeremias 8.6; Ezequiel
14.6; 18.30). Todavia, é nas páginas do Novo Testamento que ele é melhor
enfatizado, sendo o ponto alto da pregação de João Batista, de Cristo e dos
apóstolos (Mateus 3.2; 4.17; Lucas 13.3,5; Marcos 6.12; Atos 2.38; 3.19; 20.21;
26.20).
Nos dias atuais, o arrependimento continua sendo o meio pelo
qual o pecador se aproxima de Deus, a fim de obter dele a Salvação (Atos 17.30-31).
Ao arrepender-se, o pecador não deve somente “voltar-se de”, mas “voltar-se
para”. Ou seja, o arrependido volta-se do pecado para voltar-se para Deus. A
volta para Deus, no entanto, envolve a fé (Hebreus 11.6).
Conquanto o arrependimento por si só não possa nos salvar, ele
é um passo imprescindível para a obtenção da certeza de salvação. Por isso, a Bíblia
emprega a forma imperativa: “Arrependei-vos” (Mateus 3.2; Mateus 4.17 e Atos 2.38).
Em razão da pecaminosidade universal, todas as pessoas precisam se arrepender (Romanos 3.23).
O Espírito Santo opera o arrependimento mediante a pregação da
Palavra de Deus (João 16.8-11 e Mateus 12.41). Quando Deus se manifesta aos homens,
estes se sentem humilhados, quebrantados e prontos a se arrepender (Jó 42.5-6).
Como uma mudança de mentalidade, conforme sua definição etimológica,
o arrependimento possui três aspectos, relacionados com as três faculdades da
alma humana:
1) O elemento intelectual – Trata-se de uma mudança de ideia,
e esta em relação ao pecado, a Deus e ao próprio “eu”. O pecado passa a ser reconhecido
como culpa pessoal; Deus, como aquele que exige a retidão; o “eu”, como
maculado e desamparado. O entendimento, antes obscurecido (2 Coríntios 4.4), desperta
para o mal praticado.
2) O elemento emocional – Subentende uma mudança de sentimento.
O pecador fica tremendamente triste e indignado pelos seus pecados. É como se ele
se contristasse em extremo e sentisse nojo de si mesmo e de suas atitudes
pecaminosas (Salmos 51.1-2; 2 Coríntios 7.9-10).
3) O elemento volitivo (prático) – É uma mudança de vontade e
da posição em que o pecador se encontra. Este não somente reflete e sente, mas é
levado, pelo arrependimento, a agir em prol de sua salvação (Lucas 15.17-20).
Embora envolva emoções e intelecto, é a vontade que está mais
profundamente relacionada com o verdadeiro arrependimento. Ou seja, o arrependimento
emocional-intelectual (ou remorso tão-somente) não resulta em salvação, pois não
foi transformado em ação (Marcos 6.16,20; Atos 26.28). Eis outros exemplos de arrependimento
incompleto, isto é, que não tiveram o elemento prático: Caim se arrependeu, mas
não pediu perdão (Gênesis 4.13-14); faraó arrependeu-se, mas não agiu deixando o
mal (Êxodo 10.16-17); e Judas, cheio de remorso, devolveu o prêmio do seu pecado,
mas, em vez de se dirigir a Jesus, enforcou-se (Mateus 27.3-5).
Ambos os Testamentos apresentam a fé como elemento preponderante
para a Salvação e aquisição de bênçãos do Senhor. Biblicamente, somos salvos pela
fé (Atos 16.31; Romanos 5.1; 9.30-32 e Efésios 2.8), enriquecidos com o Espírito
Santo por ela (Gálatas 3.5,14), além de santificados (Atos 26.18), guardados (Romanos
11.20; 2 Coríntios 1.24; 1 Pedro 1.5; 1 João 5.4) e curados (Isaías 7.9; Atos
14.9; Tiago 5.15) pela fé.
Deus considera a fé necessária para agradá-lo (Hebreus
11.6), ao mesmo tempo que declara ser a descrença um grave pecado (João 16.9 e
Romanos 14.23), pois restringe a manifestação de Seu poder (Marcos 6.5-6).
A fé tem dois lados. Além de ser uma operação do Espírito
Santo, é uma reação da alma humana. Como uma operação direta de Deus (Atos 11.21),
ela é preciosa (2 Pedro 1.1), santíssima (Judas 20) e frutífera (1 Tessalonicenses
1.3).
Teologicamente, fé é a atitude mediante a qual o homem abandona
toda confiança em seus próprios esforços para obter a Salvação e outras bênçãos decorrentes desta. É a atitude de completa confiança em Cristo, de dependência exclusiva
dele, a respeito de tudo quanto está envolvido na Salvação.
A definição bíblica para a fé é: “...firme fundamento das coisas
que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hebreus 11.1). No
sentido bíblico, significa crer e confiar. É o assentimento do intelecto com o consentimento
da vontade. Com o intelecto, se crê nas verdades reveladas concernentes a Deus
e a Cristo. Pela vontade, aceita-se essas verdades como diretrizes da vida.
Posto isto, a fé intelectual não é o sufi ciente (Tiago
2.19; Atos 8.13,21) para obtenção da Salvação. É possível dar seu assentimento
intelectual ao Evangelho sem, contudo, se entregar a Cristo. O essencial é a fé
oriunda do coração (Romanos 10.9). Qual a diferença entre essas duas
modalidades?
1) Fé intelectual – Significa reconhecer como verídicos os fatos
do Evangelho.
2) Fé provinda do coração – É a pronta dedicação da própria vida
às obrigações implícitas nesses fatos. Abrange também o elemento emocional, sendo,
por conseguinte, a fé que salva a personalidade inteira (intelecto, sentimento
e vontade).
por Ciro Zibordi
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