
Em 12 anos, segundo o instituto, evangélicos subiram de
21,6% para 27% e católicos caíram 65,1% para 57,7%; espíritas também diminuíram
Em 6 de junho, após três anos do Censo 2022, o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) finalmente divulgou os números oficiais
relativos à religião no Brasil, mas com algumas alterações em relação aos dados
comparativos de 2010 e algumas aparentes inconsistências nos dados de 2022. Por
exemplo: segundo o anúncio oficial do IBGE em junho de 2012 sobre os dados do
Censo 2010, os evangélicos eram 22,2% da população na ocasião; entretanto, no
anúncio de junho deste ano sobre os dados de religião do Censo 2022, ao fazer a comparação dos novos dados com os de
2010, o IBGE disse agora que os evangélicos em 2010 eram 21,6%, e não 22,2%, e que
no Censo de 2022 eles teriam passado para 26,9% da população.
Outro detalhe é que, em 2012, eles haviam anunciado que, no Censo 2010, os
evangélicos eram 42,3 milhões (o que bate com uma conta simples de quantos
seriam 22,2% da população em 2010); agora, afirmam que em 2010 os evangélicos
eram 35 milhões, quando nem mesmo baixando para 21,6%, como fizeram, se chega a
esse número, considerando outra vez a população do país naquele ano conforme os
dados fornecidos pelo próprio IBGE. Por sua vez, os católicos, que eles haviam
anunciado há 13 anos que no Censo de 2010 eram 64,6%, agora retificaram dizendo
que eles eram 65,1% em 2010 e que no Censo 2022 teriam caído para 56,7%.
Não obstante essas alterações que fizeram no resultado dos dados de 2010, vê-se
uma contundente diminuição dos católicos no país no Censo 2020, não apenas
proporcionalmente, mas também numericamente. Em 2010, eles eram, como anunciado
em 2012, 126 milhões, com o IBGE dizendo agora que eram 105,4 milhões em 2010;
e em 2022, eles seriam 115 milhões (56,7% em cima de uma população de
203.080.756, dada pelo próprio Censo 2022), mas o IBGE anunciou que seriam
100,2 milhões em 2022.
No caso dos evangélicos, por uma conta simples a partir dos dados do próprio
IBGE, os evangélicos teriam aumentado de 42,3 milhões em 2010 para 54,6 milhões
em 2022 (considerando 26,9% em cima de uma população de 203.080.756, dada pelo
próprio Censo 2022), mas, segundo o anúncio oficial do IBGE mês passado, os
evangélicos seriam 47,4 milhões em 2022. Afinal, seriam 47,4 milhões mesmo ou, na
verdade, 54,6 milhões? Seja como for, lembremos que este é um retrato - preciso
ou não - de três anos atrás. Se considerarmos essa média de meio ponto percentual
de crescimento por ano dos evangélicos no Brasil de 2010 a 2022, conforme esses novos dados do
IBGE, hoje os evangélicos já seriam 28,5%, o que representaria muito mais de 50
milhões, ainda mais se considerarmos essa porcentagem de 28,5% em cima do
tamanho que a população brasileira teria hoje, três anos depois do censo. A
estimativa oficial do próprio IBGE para a população brasileira em 2024 era de
213 milhões.
Sem religião crescem e ainda sem dados por denominação
Segundo o censo, os sem religião também cresceram, de 7,9%, em 2010, para
9,3%, em 2022. não se identifica com nenhuma denominação e também aquelas que
não têm qualquer fé (ateus e agnósticos). “Se a pessoa se declara sem religião,
a gente registra que é sem religião, mas não tem uma pergunta que busque
especificar por que motivo a pessoa se declarou sem religião”, afirma Bruno Perez,
pesquisador do IBGE, em entrevista à Agência Brasil.
Até o fechamento desta edição, o IBGE ainda não havia divulgado os dados mais
discriminados do levantamento, os quais trariam, por exemplo, o número de fiéis
de cada denominação evangélica. Infelizmente, o instituto informou que talvez
não traga este detalhamento dos dados em futuras divulgações. em relação ao Censo 2022,
porém, conforme divulgado pela própria imprensa, o IBGE afirmou que ainda é possível que esses dados saiam, embora não tenha dado garantia. o IBGE declarou
que “não sabe se conseguirá detalhar os dados dentro de cada grupo religioso” e
que “caso consiga detalhar as informações de cada grupo” referentes ao Censo
2022, “a divulgação acontecerá no segundo semestre de 2025” (Fonte da
declaração: matéria “IBGE ainda não sabe se conseguirá identificar a qual
igreja ou denominação pertencem os fiéis”, G1.globo.com, 06/06/2025).
Seja como for, os dados preliminares divulgados em 6 de junho já servem para
termos pelo menos uma visão geral da realidade religiosa no Brasil hoje – ou
pelo menos até 2022, data do levantamento. Vejamos, a seguir, portanto, os
detalhes desses dados iniciais apresentados.
Ritmo do crescimento evangélico diminuiu
Pelo levantamento do IBGE, vemos que o crescimento evangélico continua forte,
mas em um ritmo menor. Houve um claro desaceleramento, o que significa que a
previsão de anos atrás de que até 2032 a maioria da população brasileira seria
evangélica não deverá mais se realizar. De 2000 a 2010, o ritmo de crescimento era de 6,5%; já
de 2010 a 2022, ele foi de 5,2%.
Nesse ritmo atual, no entanto, ainda mais com a queda contínua e vertigionosa
do catolicismo romano em nosso país (o ritmo da queda católica na década anterior
era de -9% e agora foi de -8,4%), os evangélicos no Brasil ainda estão
caminhando para se tornarem a maioria no país. É uma questão de tempo e de pelo menos se manter o
trabalho que tem sido feito pelas igrejas em todo o Brasil.
Evangélicos são o grupo que tem mais jovens
Um dado interessante do levantamento no que diz respeito aos evangélicos é que
a distribuição por faixa etária nesse grupo religioso é o mais uniforme de
todos, só que é um pouco maior entre as faixas etárias mais jovens, o que faz
com que os evangélicos sejam o grupo religioso com mais jovens no Brasil. Entre
aqueles que têm de 10 a 14 anos, por exemplo, 31,6% declararam ser evangélicos
em 2022. O percentual varia entre 27,5% e 28,9%, na faixa de 15 a 49 anos. A
partir daí, os evangélicos têm ligeira queda conforme a idade avança, chegando
à parcela de 19% entre aqueles com 80 anos ou mais.
Outras duas curiosidades em relação aos evangélicos são a manutenção da maioria
feminina – em 2022, 55,4% de todos os evangélicos no país eram mulheres – e a
informação de que o segmento da população brasileira com maior percentual de evangélicos
é o indígena, com 32,2%. Quanto aos dados por etnia entre os evangélicos, eles
são os seguintes: 49,1% são pardos, 38% são brancos, 12% são pretos, 0,7% são
indígenas e 0,2% são amarelos.
Região Norte: a mais evangélica
Outro dado interessante do levantamento do IBGE é que a Região Norte possui a
maior proporção de evangélicos na população brasileira (36,8%), seguida pelo Centro-Oeste
(31,4%). O Sudeste e o Sul, por sua vez, tinham, respectivamente, 28% e 23,7%. O
Nordeste apresentava a menor proporção: 22,5%.
Os estados com a maioria da população de evangélicos estão na Região Norte: o
Acre, com 44,4% de evangélicos contra 38,9% de católicos; e Rondônia, com
41,08% de evangélicos contra 40,87% de católicos. Já o Piauí continua tendo a
menor proporção de evangélicos na sua população (15,6%), além de ser o estado
mais católico do país (77,43%).
Ainda segundo Censo, os evangélicos eram em 2022 maioria da população em apenas
58 municípios, com destaque para aqueles de colonização alemã/pomerana: Arroio
do Padre (RS), Arabutã (SC) e Santa Maria de Jetibá (ES). Em 244 municípios,
eles não eram maioria, mas representavam a principal religião. Manacapuru (AM)
era o município com mais de 100 mil habitantes que registrou a maior proporção
de evangélicos (51,8%).
Estados com grande proporção de evangélicos
Além do Acre e Rondônia, ambos de maioria evangélica, o Censo 2022 revelou
alguns estados que, não obstante os evangélicos ainda não serem maioria neles, eles
trazem uma proporção grande de evangélicos. São eles Amazonas, com 39,37% de evangélicos;
Amapá, com 36,37%; Espírito Santo, com 35,4%; Pará, com 35,27%; Roraima, com
34,35%; Goiás, com 32,57%; Mato Grosso do Sul, com 32,47%; Rio de Janeiro, com
32%; e Tocantins, com 31%. As demais unidades da Federação têm a seguinte
proporção de evangélicos em sua população: Mato Grosso, com 29,99%; Distrito
Federal, com 29,21%; São Paulo, com 27,33%; Paraná, com 26,06%; Maranhão, com
25,37%; Pernambuco, com 25,18%; Minas Gerais, com 24,78%; Santa Catarina, com
23,4%; Bahia, com 23,35%; Alagoas, com 22,88%; Rio Grande do Norte, com 21,4%; Rio
Grande do Sul, com 21,35%; Paraíba, com 20,77%; e Ceará, com 20,75%. Os estados
com menor proporção de evangélicos são Piauí, já mencionado, com 15,56%; e
Sergipe, com 18,27%.
Espíritas diminuem e sem religião crescem em RR e RJ
O Censo 2022 mostrou ainda o crescimento de pessoas que declaram ter outras
religiões. No grupo “outras religiões” entram seguidores do judaísmo, do islamismo,
do budismo, das tradições esotéricas e de várias outras religiões. Todos estes
somavam, no Censo 2010, um total de 2,7% da população; agora, em 2022, eles passaram
para 4%. Por sua vez, as tradições indígenas saíram de praticamente 0% para
0,1% no mesmo período.
Uma curiosidade é que os espíritas reduziram sua presença na matriz religiosa
brasileira, passando de 2,1% para 1,8% entre os censos de 2010 e 2022. A maior concentração
dos que se declararam espíritas era no Sudeste (2,7%), e os umbandistas e
candomblecistas estavam mais presentes no Sul (1,6%) e no Sudeste (1,4%). O Sudeste
também reunia a maior quantidade de pessoas sem religião (10,5%).
Outra curiosidade é que Roraima era, em 2022, o estado com maior proporção de
pessoas com tradições indígenas na população (1,7%), com maior proporção de outras
religiosidades (7,8%) e com maior proporção de pessoas sem religião (16,9%).
Neste último caso, o posto é dividido com o Rio de Janeiro, que também possuía 16,9%
de pessoas sem religião em 2022. O Rio de Janeiro também tinha em 2022 a maior
proporção de espíritas na população (3,5%). Já o Rio Grande do Sul apresentou a
maior proporção de praticantes de umbanda, candomblé e outras religiões de
matriz africana (3,2%).
Cor e sexo
De acordo com o IBGE, as mulheres eram maioria em quase todos os grupos de
religiões, em 2022, com exceção das pessoas sem religião, em que os homens representavam
56,2%, e de tradições indígenas, onde os homens eram 50,9%. No catolicismo,
elas representavam 51% do total dos seguidores desta religião, percentual
inferior à participação feminina na população total com mais de 10 anos
(51,8%).
O grupo com maior percentual de mulheres é o de espíritas, no qual elas
representavam 60,6% do total. Em seguida, aparece o grupo umbanda e candomblé, em
que elas eram 56,7%. Entre os evangélicos, elas respondiam por 55,4% do total
de fiéis.
Em 2022, o catolicismo predominou em todas as categorias de cor ou raça. Dentre
os que se declararam brancos, 60,2% se identificavam como católicos apostólicos
romanos, 23,5% como evangélicos e 8,4% como sem religião. Entre as pessoas que se
declararam pretas, 49% eram católicas, 30% evangélicas e 12,3% sem religião. Já
entre os pardos, as proporções eram de 55,6% de católicos, 29,3% de evangélicos
e 9,3% sem religião.
O Censo 2022 mostrou ainda que o segmento da população com maior percentual de
evangélicos é o indígena (32,2%). Entre os indígenas, 42,7% são católicos e apenas
7,6% seguem as tradições religiosas indígenas.
Escolaridade
No recorte de escolaridade, o Censo observou que, entre aqueles com 15 anos ou
mais, a maior taxa de analfabetismo foi observada naqueles que seguem tradições
indígenas (24,6%) e nos católicos (7,8%). Entre os evangélicos, a taxa era de
5,4%; entre os sem religião, 5,3%; para outras religiões, 3%; para umbanda e
candomblé, 2,4%; e para os espíritas, 1%.
Analisando-se a escolaridade da população com 25 anos ou mais, o Censo
constatou que o grupo religioso com maior número de pessoas com ensino superior
completo era o de espíritas (48%), seguido por umbanda e candomblé (25,5%),
outras religiosidades (23,6%) e sem religião (20,5%). Entre os católicos, o percentual era de 18,4%,
enquanto entre os evangélicos era de 14,4%. No grupo daqueles que declararam seguir
tradições indígenas, 12,2% tinham ensino superior completo.
As proporções de pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto em
cada grupo de religião foram: espíritas (11,3%), umbanda e candomblé (19,9%), outras
religiosidades (23,6%), sem religião (30,1%), evangélicos (34,9%), católicos
(38%) e tradições indígenas (53,6%).
Compartilhe este artigo. Obrigado.
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante