Educação Cristã para crianças e adolescentes

Educação Cristã para crianças e adolescentes


A importância vital da Escola Dominical para a evangelização e a formação das crianças e adolescentes

A Escola Dominical exerce uma dupla missão no Reino de Deus: evangelizar e formar. Essa assertiva ficou muito conhecida no meio assembleiano a partir da seguinte colocação do saudoso teólogo das Assembleias de Deus no Brasil - mas, sobretudo, eterno educador cristão de nossa igreja - pastor Antonio Gilberto, a respeito do conceito orgânico da Escola Dominical: “É o ensino bíblico da Igreja que evangeliza enquanto ensina”.

Esse conceito orgânico, cunhado primorosamente pelo nosso saudoso educador, revela que, em primeiro lugar, a Escola Dominical deve ser uma agência estratégica de evangelização que elabora métodos de modo que não-crentes e filhos de crentes sejam evangelizados, bem como seus alunos vão e preguem o Evangelho a toda a criatura (Mc 16.15). Ao mesmo tempo, é uma instituição que forma os educandos com os mandamentos do Senhor a fim de transmitir os valores e as virtudes atemporais ensinados por Jesus Cristo ao coração da criança e do adolescente (Mt 28.20).

Conscientes dessa dupla missão, procuraremos demonstrar neste artigo a importância dessa nobre instituição para vitalizar a obra de evangelização e a formação de nossas crianças e adolescentes. Os desafios são imensos. O tempo de pandemia trouxe obstáculos à evangelização e à formação cristã na igreja local. Nossas crianças e adolescentes são metódica e sistematicamente molestadas por ideologias que afrontam os valores eternos de nosso Senhor. Por isso, precisamos rememorar a posição estratégica dessa nobre instituição e reforçar a paixão pela evangelização e o esmero pela formação cristã.

Quando o pastor Antonio Gilberto fala de conceito orgânico da Escola Dominical, ele deseja ressaltar o caráter vivo dessa magna instituição. Não se trata de uma instituição paralisada, acostumada ao ritmo de domingo após domingo sem que haja uma predisposição de colocar em prática o que se aprendeu. Ela é orgânica porque fala sobre evangelização e evangeliza; e é orgânica porque fala de formação e forma. Assim, a Escola Dominical é orgânica, isto é, viva, porque abarca a dimensão teórica e prática, produzindo a transformação interior dos educandos para a prática do Evangelho. Por isso, ela é vital. Aqui, conjugo vitalidade com orgânico, pois ambas expressões revelam a complexidade de uma vida que pulsa e esbanja saúde. Com isso, queremos nos referir à Escola Dominical que pulsa e esbanja vida do Espírito para evangelizar e formar qualquer pessoa e em qualquer lugar.

A respeito da palavra vitalidade, cabe relembrar seu significado. A palavra vem do latim vitalitãte, e traz a ideia de aptidão pela vida.

Gosto muito desse sentido, pois a instituição que esteja acompanhada dessa palavra passa a mensagem de vida, produtividade, ação. Entretanto, há outros sentidos bem profundos: força vital, energia, entusiasmo, atividade transbordante, grande capacidade para o trabalho. Assim, uma instituição que ganhe a alcunha de “vital” mostra sua capacidade de viver, se desenvolver de maneira vigorosa. Simplesmente, transmite vida. Logo, o contrário de vitalidade é a inaptidão para vida, degeneração, falta de entusiasmo. No lugar de transmitir vida, transmite-se morte. Assim, uma instituição que não seja vital, no lugar de transmitir vida, produtividade e ação, mostra-se sem vida, improdutiva e inativa.

Segundo a medicina, os sinais vitais do corpo humano são pelo menos quatro: 1) pressão arterial, 2) pulsação, 3) frequência respiratória e 4) temperatura corporal. O funcionamento satisfatório desses sinais são parâmetros para avaliar o estado de saúde de um paciente. Quando não há esses sinais vitais, há morte. Há alguns sinais na Escola Dominical que passam uma mensagem de seu estado real quanto à natureza da evangelização e da formação. Se as classes dessa magna instituição estão envolvidas de maneira metódica e sistemática na evangelização e na formação de crianças e adolescentes, é um claro sinal vital de que a Escola Dominical é um lugar de importância para as práticas missionárias e educativas. Ora, sabemos que as classes de Escola Dominical têm transversalidade com os departamentos da igreja local: o Infantil, o de Adolescentes, o de Jovens, o da União Feminina (conjunto das irmãs) e o da União de Homens (ou conjunto de obreiros). Nesse sentido, todo projeto de evangelização e de formação deve passar pelas classes da Escola Dominical, que têm um método e sistematização por natureza, bem como deve haver a transversalidade com todos os departamentos da igreja mediante seus respectivos líderes. É um trabalho de parceria.

Além de a Escola Dominical ter esse caráter transversal, ela é uma instituição metódica. Outro sinal que marca a vitalidade da Escola Dominical é que ela sistematiza a mensagem a ser apresentada ao aluno. Para a prática da evangelização, bem como do processo de formação, essa escola busca tocar o coração do aluno. Mas, para alcançar o coração da criança e do adolescente, é preciso igualmente tocar o seu intelecto, sua emoção e sua vontade. Ora, não podemos ignorar o trabalho do intelecto. Nesse sentido, a Escola Dominical é uma escola de treinamento que evangeliza e forma crianças e adolescentes por meio do estudo metódico da Bíblia. Nesse sentido, essa escola apresenta o plano de salvação metodicamente, de modo que crianças e adolescentes tenham seus corações alcançados. A exposição metódica da Bíblia toca o intelecto do aluno.

A Escola Dominical pode e deve também evangelizar e formar a partir das experiências pessoais com Cristo para tocar a emoção dos adolescentes e crianças. Somos um seguimento que valoriza a experiência pessoal com o Espírito Santo, logo saber traduzir em palavras o que aconteceu conosco de maneira concreta é uma estratégia vital para alcançar o coração de nosso público-alvo. Nesse aspecto, o exemplo dos professores a respeito de suas experiências com Cristo tem um fator determinante para tocar a emoção das crianças e dos adolescentes. Como escreveu o teólogo pentecostal, Robert Menzies: “Embora os pentecostais sempre tenham sido o povo da Bíblia e estejam compromet idos com a Bí blia, também estão prontos a enfatizar que as mesmas experiências que moldaram a vida da Igreja Primitiva estão disponíveis hoje”. Essa conscientização a respeito das experiências com o Espírito é poderosa para a obra de evangelização e formação de crianças e adolescentes na Escola Dominical.

Podemos apresentar uma mensagem ordenada ao intelecto do aluno e uma experiência para tocar sua emoção. Intelecto e emoção constituem a integralidade do ser humano. No caso de crianças e adolescentes, elas estão em desenvolvi mento e formação. Por isso, tocar na vontade desse grupo é um desafio dispendioso. Uma mensagem entendida pelo intelecto e sentida pela emoção atingirá a vontade da criança e dos adolescentes. Mas, como fazer para que a vontade da criança e do adolescente seja tocada e uma transformação completa do caráter e da conduta se evidencie? Não se trata de uma tarefa fácil. O educador francês Jules Payot escreveu: “Toda volição é precedida de uma onda emotiva, de uma percepção afetiva do ato a realizar”. Por isso não basta apenas atingir o intelecto. É preciso, mediante o conteúdo apresentado ao intelecto, que haja u ma descarga emocional que passe por um sentimento afetivo a respeito da verdade agora conhecida. Para isso, tanto a criança quanto o adolescente precisam do auxílio do Espírito Santo; sim, daquele poder pentecostal, a fim de ser tocado pelo conteúdo que uma vez foi compreendido, sentido e, finalmente, amado. Só há alteração na vontade ou na conduta de nossas crianças e adolescentes se o conteúdo glorioso do Evangelho for recebido com afeto. Assim, há uma perfeita transformação da vontade para agir de acordo com o que se compreendeu, sentiu e amou. Quando eu compreendo a mensagem, estou pronto para sentir o impacto dessa compreensão; quando sinto esse impacto, estou pronto para amar a mensagem; quando a amo, desejo vivê-la integralmente. Do contrário, a mensagem será uma mera ideia que, embora correta e gloriosa, se perderá no caminho como a boa semente do Evangelho que caiu em lugares pedregosos e, por isso, não germinou (Mt 13.20,21).

Finalmente, a Escola Dominical é vital para a obra de evangelização e de formação de nossas crianças e adolescentes. Sua capacidade de, por meio da transversalidade, reunir diferentes segmentos da igreja local é uma contribuição vital para tocar o intelecto, a emoção e a vontade das crianças e adolescentes com a ajuda do Espírito Santo. Essa escola evangeliza-os enquanto os forma.

O prezado leitor deve ter notado as expressões “intelecto”, “emoção” e “vontade”. Elas estão presentes na obra Ensinando para Transformar Vidas, do educador norte-americano, Howard Hendricks. Essas palavras expressam o conceito de coração, conforme no capítulo “A Lei do Coração” dessa clássica obra em Educação Cristã. Essa noção bíblica presente na obra de Hendricks está de pleno acordo com o educador Jules Payot, quando fi ca em evidência a importância do afeto sentido por uma mensagem para submeter a vontade à cruz de Cristo. Note que não se trata de priorizar só o intelecto, muito menos priorizar só a emoção, mas tratar essas duas faculdades dotadas por Deus ao ser humano de maneira integral. Ora, não há processo de mudança da vontade sem a compreensão pelo intelecto como também não há essa mudança sem o profundo amor pela verdade que se abraça. Nesse caso, precisamos pensar no que é virtuoso para desejá-lo e agir virtuosamente; mas, se pensarmos no que não é virtuoso, não desejaremos e, fatalmente, não executaremos. Como Hendricks, queremos mostrar que evangelizar e formar crianças e adolescentes, de maneira bíblica, passa pelo coração. E para tocar a integralidade do coração é preciso tocar o intelecto, a emoção e a vontade deles.

Para evangelizar e formar tanto crianças quanto adolescentes, a Escola Dominical se mostra como uma agência estratégica e vital. Sua vitalidade passa, sobretudo, por professores que se relacionam bem com a Bíblia, compreendem a complexidade psicológica dessa faixa etária e selecionam bem o método pedagógico para aplicar a Palavra de Deus ao coração das crianças e dos adolescentes.

 Amar a Bíblia é a posição primária para tocar o coração desses alunos. Esse livro é a razão de existir a Escola Dominical. Nosso desafio é fazer com que crianças e adolescentes desenvolvam amor pelo livro sagrado. Nessa tarefa, o professor e a professora devem ser exímios estudiosos da Palavra de Deus. Isso fará com que eles tenham a habilidade de identifi car quatro coisas que serão os objetos de transmissão para os alunos em uma lição dominical: 1) valores, 2) princípios, 3) doutrina e 4) conceitos presentes na Bíblia. Que valores identifi cados na lição deveríamos transmitir? Que princípios precisam ser inculcados? Que doutrina deve ser exposta? Que conceito devemos expandir? Tudo isso deve ser extraído das Escrituras e transportado para o coração das crianças e dos adolescentes para que, por meio do intelecto e das emoções, a vontade esteja pronta para decidir livremente a praticar as virtudes do Reino de Deus.

Para atingirmos o intelecto e a emoção, há métodos dos quais podemos fazer uso. Particularmente, nós, os pentecostais, podemos fazer uso de um método que em educação é clássico: a contação de história. Como diz o teólogo pentecostal Robert Menzies, “a hermenêutica é direta e simples: as histórias em Atos são minhas histórias – histórias que foram escritas para servir de modelo para moldar a minha vida e experiência [...] histórias que moldam a nossa identidade, ideais e ações”. Ora, o que aconteceu em Atos é a nossa história porque ela torna a acontecer na realidade da nossa vida contemporânea. Honrando essa tradição pentecostal, podemos fazer uso da arte de contar histórias para alimentar a imaginação da criança e do adolescente. Eu diria que o conteúdo virtuoso das Escrituras dentro de uma boa história é poderoso para atingir o intelecto e a emoção de nossas crianças e adolescentes. É como um presente embalado numa bela caixa que enche os olhos de quem a recebe. Um exemplo clássico é a obra O Peregrino, de John Bunyan, um clássico da literatura cristã. Ali, encontra-se uma arte atemporal a fim de contar a jornada de uma alma que inicia a caminhada cristã. Essa obra dá conta de reproduzir no imaginário do leitor as grandes doutrinas da fé cristã no que concerne à salvação, à fé, ao arrependimento, à perseverança etc. A obra O Peregrino pode ser um excelente ponto de partida para pensarmos meios objetivos para atingir o imaginário das crianças e dos adolescentes. O imaginário do infante e do adolescente é excelente repositório para a sedimentação da fé.

Há uma guerra que visa a conquistar as mentes de nossas cria nças e adolescentes. Essa guerra passa pela conquista da imaginação e, consequentemente, do coração. Quem são os heróis das crianças hoje? Quem são os heróis dos adolescentes atualmente? Se não apresentamos nossos verdadeiros heróis, tanto das Escrituras quanto os de nossa rica tradição pentecostal, esteja certo de que o mundo está sendo muito competente em apresentar seus heróis que, infelizmente, e muitas vezes, “morreram de overdose”, pois tudo em volta das crianças e dos adolescentes na sociedade os desestimula para uma vida de virtude no Espírito conforme as Escrituras. Ou eles têm um estímulo poderoso em nosso meio para a virtude cristã ou serão engolidos pelos estímulos sociais contemporâneos.

Não há nada mais poderoso que, conjugado ao bom trabalho pedagógico, o professor e a professora serem os verdadeiros motivadores das crianças e dos adolescentes. Essa motivação deve acontecer por meio do exemplo do professor e da professora. O exemplo é o que dá a credibilidade ao ensino que se está transmitindo (Mt 7.29). Por isso, o professor e a professora não devem temer apresentar uma interpretação corajosa da Palavra de Deus, e confirmar e reafirmar os valores, princípios, doutrinas e conceitos que emergem da Bíblia. A coragem dos professores em apresentar os valores e os princípios da Bíblia de maneira corajosa é o contraponto necessário aos valores contrários que estimulam a mente e o coração de nossas crianças e adolescentes fora da igreja. E o exemplo de vida dos que ministram aos corações dos alunos confirmará os valores virtuosos da Palavra de Deus. Assim, o conjunto intelecto, emoção e vontade, isto é, o coração será tocado e verdadeiramente transformado pelo poder do Espírito Santo. A Escola Dominical é vital para a evangelização e a formação de crianças e adolescentes.

por Marcelo Oliveira

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