A sabedoria que os homens mundanos tanto valorizam é loucura aos olhos de Deus. Os pensamentos dos homens mais sábios deste mundo estão cheios de prepotência, tolice e vaidade. Contudo, isso não significa que nós não valorizemos as descobertas científicas, o avanço da tecnologia, do pensamento sadio, com os quais também somos enriquecidos, desfrutando das benesses do mundo mais evoluído. O que o apóstolo Paulo ataca é aquela atitude que, desde os antigos, considerava como sabedoria as opiniões vãs, autoconfiantes, que se opunham às verdades simples que Deus quer que os homens compreendam.
Em Romanos 1.22, Paulo declara: “Dizendo-se sábios, tornaram-se
loucos”. Aqui, temos o termo grego φασκο = phasko, que sugere “afirmar,
declarar, reivindicar uma declaração de crença, ou intenção”. Assim, percebemos
que estes tais sábios reivindicavam, com certa arrogância, ser mais capazes e inteligentes
que os outros. Contudo, esta autodeclarada soberba levou-os à rejeição da
verdadeira sabedoria divina, tornando-se homens de fúteis pensamentos. É
necessário que possuamos humildade e dependência de Deus para acessarmos as
bênçãos do verdadeiro conhecimento.
Essa subversão dos padrões humanos de sabedoria é ainda mais
clara em 1 Coríntios 1.27: “Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para
confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as
fortes”. O Evangelho de Cristo não é compatível com a lógica dos poderosos. O
nascimento de Jesus em um estábulo, Sua vida humilde, Sua morte na cruz, tudo isso
parece loucura. Mas, nesse “escândalo”, Deus revelou Sua sabedoria
incomparável.
Em 1 Coríntios 3.19, Paulo reforça essa ideia, ao dizer:
“Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito:
Ele apanha os sábios na própria astúcia deles”. Essa frase nos remete ao livro
de Jó (5.13), onde se percebe que a bajulação da sabedoria humana não passa de
um autoengano, visto que a mesma é suscetível a erros, desvarios, devaneios,
perturbando a mente vaidosa dos sábios, que, no frenesi de buscar o
conhecimento, acabam tropeçando na sua própria astúcia. São mentes inquietas na
busca do saber. No entanto, “correm atrás do vento” (Eclesiastes 1.17), visto
que a verdadeira sabedoria é conhecer a Deus.
O ser humano costuma gloriar-se em vão em três coisas, conforme
Jeremias 9.23: “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem
se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que
se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o
Senhor, que faço benevolência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas
me agrado, diz o Senhor”. Diante deste texto, aprendemos que o homem pode se gloriar
pela sabedoria que possui, ou pela força, ou também por sua riqueza. Nessa passagem,
a palavra que foi traduzida por “me conhecer” é, no original hebraico, לַכָׂש = sakhal, que significa: “entender, compreender, ser prudente”.
Ela denota que entender as coisas de Deus, e refletir sobre os assuntos espirituais
relacionados à adoração divina, é o que realmente vale aos olhos do Altíssimo.
A verdadeira sabedoria começa com o temor do Senhor,
conforme Provérbios 1.7: “O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os
loucos desprezam a sabedoria e o ensino”. A Palavra do Eterno nos mostra que
temer a Deus é o início do ponto de partida. A palavra hebraica para princípio
é תּיִׁשאֵר = re’shiyt, que significa “começo, primeiro ou princípio”, como
normalmente é traduzida, como vemos em Gênesis 1.1: “No princípio criou
Deus...”. Ela revela-nos que, sem este respeito, reverência e temor ao sagrado
e aos assuntos espirituais relacionados a Deus, é impossível ser sábio de
verdade. O que sobra é ser “louco”, cujo termo no original é ליִוֱא = ‘eviyl, que significa “insensato, tolo”. Desprezar a Deus é
tolice!
A divindade se revela aos pequeninos (Mateus 11.25), ou
seja, àqueles
que se consideram frágeis, indoutos e simples. A estes, sim, Deus tem prazer em
se revelar mais profundamente, pois seus corações são terras férteis,
quebrantados pela vida, com a humildade suficiente a qual Deus não abre mão
para a Sua manifestação.
Que possamos estar abertos para receber a sabedoria do Alto,
que é pura, pacífica, moderada, cheia de misericórdia e bons frutos (Tiago
3.17). Que rejeitemos a sabedoria orgulhosa que nos afasta de Deus e abracemos
a simplicidade do Evangelho, que nos conduz à salvação. Muitos sábios, sob o
prisma deste mundo, erraram o caminho, entraram pela porta larga, que conduz à
perdição. No entanto, pecadores arrependidos e submetidos a Cristo encontram o
caminho da vida eterna.
Não estamos, de forma nenhuma, apelando à mediocridade, à
ignorância, ao analfabetismo educacional. Longe disto! Contudo, que a nossa educação
e crescimento como seres pensantes sejam construídos sobre os alicerces da
humildade, da fé em Cristo, a “Pedra Angular” (1 Pedro 2.7).
Que Deus nos abençoe em Cristo Jesus, a verdadeira
sabedoria, rejeitada pelas “mentes brilhantes” deste mundo (que se acham brilhantes),
cujo brilho desvanece por teimarem em rejeitar ao chamado do Evangelho. Nós,
contudo, tidos “indoutos” por muitos, recebemos a luz do Evangelho da glória de
Deus!
por Diogo Roos
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