Maioria das mais importantes descobertas arqueológicas relacionadas aos relatos das Sagradas Escrituras ocorreram nos últimos 70 anos
No final do ano passado, próximo ao Natal, uma equipe de arqueólogos divulgou ter encontrado ruínas de uma residência na cidade de Nazaré, no norte de Israel, datada da época de Jesus. Mês passado, foi a vez de outro grupo de arqueólogos anunciar a descoberta de uma rua de mais de 1,5 mil anos, utilizada por peregrinos cristãos, na cidade velha de Jerusalém (ver matéria na página 13). Tratam-se de duas grandes descobertas, em um período curto de tempo, que estão relacionadas ao relato histórico da Bíblia Sagrada ou à história da Igreja.
Mas, esses acontecimentos recentes são apenas uma pequena
amostra da efervescência da Arqueologia Bíblica nos últimos anos. Simplesmente,
devido ao maior número de investimentos e recursos para essa área nas últimas
décadas, especialmente depois do estabelecimento do Estado de Israel e do
início das intensas atividades dos arqueólogos judeus, a maioria das mais importantes
descobertas arqueológicas relacionadas aos relatos das Sagradas Escrituras
ocorreram nos últimos 70 anos. Tais descobertas, inclusive, derrubaram a
maioria das argumentações usadas pelos céticos para contestar a historicidade
dos relatos bíblicos. Vejamos, a seguir, apenas alguns dentre centenas de exemplos
que poderiam ser listados.
O Evangelho de Lucas fala sobre o nascimento de Cristo mencionando
um censo decretado por Cirênio, governador da Síria (Lucas 2.2). No final do século
20, arqueólogos descobriram um Cirênio com seu nome gravado em uma moeda que o
coloca como procônsul da Síria e Cilícia de 11aC a 4aC, época do nascimento de Cristo,
conforme destaca o arqueólogo John McRay, em sua obra Archaeology and the New Testament
(Grand Rapids, Baker Book House, 1991, págs. 154 e 385).
Além disso, o arqueólogo Randall Price lembra que “o censo
de Cirênio, também mencionado por Lucas em Atos 5.37, tem numerosos paralelos em
formulários de censo de papiro que datam do 1o século a.C. ao 1o século d.C.”
(Arqueologia Bíblica, CPAD, pág. 259). Price cita como exemplos o Papiro linhas,
forma padrão encontrada em tais inscrições. A primeira linha é uma data e indica
o ano em que o vinho foi feito. A segunda linha dá o lugar e o tipo específico
do vinho, e na última linha temos o nome ‘Herodes, Rei da Judéia’”, contou Netzer
em entrevista publicada na revista israelense Eretz, edição de setembro/outubro
de 1996.
Outro personagem da narrativa da vida de Cristo cuja existência
foi comprovada arqueologicamente é o sumo sacerdote Caifás que, hoje se sabe,
foi líder do Sinédrio de 18 d.C. a 36 d.C. Foi ele que presidiu o julgamento de
Jesus e é várias vezes citado (João 11.49-53; 18.14 e Mateus 26.57-68). Foi no pátio
de casa de Caifás que Pedro traiu Jesus (Mateus 26.69-75). Essa casa foi encontrada
por acidente em novembro de 1990, quando trabalhadores estavam construindo um parque
aquático na Floresta da Paz em Jerusalém, ao sul do elevado onde os judeus
afirmam ser o monte do Templo.
O local encontrado foi identificado como sendo a casa de Caifás
porque ali foram encontrados 12 ossuários de calcário e, entre eles, simplesmente
o ossuário contendo os restos mortais do sumo sacerdote. Randall Price relata a
descoberta: “Um dos ossuários era requintadamente ornamentado e decorado com
rosáceas detalhadas. Obviamente pertencera a um patrono rico ou de alta posição
que poderia dar-se ao luxo de possuir tal caixa. Na caixa havia uma inscrição. Lê-se
em dois lugares Qafa e Yehosef bar Qayafa, que significa ‘Caifás’ e ‘José,
filho de Caifás’. O Novo Testamento refere-se a ele apenas como Caifás, mas Josefo
apresenta o nome completo: ‘José, que era chamado Caifás, o sumo sacerdote’. Dentro
havia os ossos de seis pessoas diferentes, inclusive de um homem de 60 anos,
provavelmente Caifás” (Arqueologia Bíblica, CPAD, pág. 267).
Finalmente, outro personagem contemporâneo de Jesus cuja
historicidade foi comprovada arqueologicamente é Pilatos (Joã18.36-37 e
19.12-15,21-22). Sabe-se hoje que a residência oficial de Pilatos era em
Cesaréia Marítima, cidade litorânea do Mediterrâneo. Em 1961, quando o governo
italiano patrocinava escavações no teatro romano de Cesaréia, foi descoberta uma
placa de pedra de 60cm por 91cm trazendo o nome de Pilatos. Hoje conhecida como
Inscrição de Pilatos, a laje é, segundo especialistas, um autêntico monumento do
primeiro século que havia sido remodelado no quarto século para a construção do
teatro romano. De acordo com eles, trata-se de um monumento para dedicação de Pilatos
a um Tibérium – um templo para adoração ao imperador romano Tibério César, que governou
durante o mandato de Pilatos na Judéia.
A Inscrição de Pilatos está em quatro linhas, é escrita em latim
e apresenta o título “Pôncio Pilatos, governador da Judéia”, exatamente o mesmo
título encontrado em Lucas 3.1. “Esse foi o primeiro achado arqueológico que menciona
Pilatos e mais uma vez testemunha a precisão dos escritores bíblicos. Esse
entendimento de tais mandatos oficiais indica que os autores viveram durante a vigência
do seu uso e não um século ou dois depois, quando tais mandatos teriam sido esquecidos”,
destaca Randall Price.
Com o passar dos séculos, muitos lugares e cidades citadas na
Bíblia durante o ministério de Jesus foram descobertos, comprovando mais uma vez
a historicidade do relato bíblico. Um desses lugares foi o Tanque de Betesda, lugar
do milagre da cura de um paralítico por Jesus (João 5.1-15). Ele foi encontrado
em 1903 na Jerusalém Oriental por Fathers White, e é datado do terceiro século a.C.,
o que comprova o relato bíblico de que o tanque já era um tradicional e
lendário local de ritual de cura na época de Jesus.
Outro lugar descoberto foi a Sinagoga de Cafarnaum, antiga
cidade natal do profeta Naum (Cafar significa aldeia) e lugar onde Jesus desenvolveu
boa parte de seu ministério. Ao lado do mar da Galileia, onde se encontrava a
cidade, foi encontrada em 1983 uma sinagoga do primeiro século, com paredes de basalto
preto. A descoberta foi divulgada pela conceituada revista Biblical Archaeology
Review, edição de novembro/dezembro de 1983. Foi nessa sinagoga que Jesus
operou muitos milagres (Mateus 8.5-13 e Lucas 7.1-10).
Em Cafarnaum também foi encontrada uma casa datada do
primeiro século. O detalhe é que suas paredes são tão estreitas que não aguentariam
um telhado de alvenaria. Descobriu-se, em seguida, que os telhados das casas da
região eram, na época, de ramos de madeira recobertos com terra batida. Tais
telhados encaixam-se perfeitamente com a descrição bíblica do telhado de uma
casa em Cafarnaum na época de Jesus, uma vez que a passagem bíblica afirma que foi
cavado um buraco no teto rapidamente para descer um paralítico até onde Ele estava
(Marcos 2.4). A descoberta foi publicada também na Biblical Archaeology Review,
edição de setembro/outubro de 1993.
Em 1989, perto de Cafarnaum, foi descoberta Betsaida, cidade
natal de Pedro, Felipe e André (João1.44 e 12.21). Ali foram encontradas, em escavações
do arqueólogo israelense Rami Arav, evidências de uma indústria pesqueira, com muitas
âncoras e anzóis, o que está de acordo com a narrativa bíblica. Tais descobertas
foram relatadas por Ariv no livro A City by the North Shore of the Sea of Galilee,
publicado em inglês pela ‑ omas Jeff erson University Press em 1995.
Em 1993, foi descoberta a Estela de Tel Dan. Trata-se duma
pedra de basalto escuro que menciona a “Casa de Davi”, com a inscrição bytdwd,
(byt casa dwd Davi). Em 1996, foi descoberta a inscrição de Ecrom (Tel Mikné)
contendo o nome da cidade filisteia de Ecrom e uma lista dos seus reis. Em 1998,
foi descoberta a Sinagoga de Jericó datada do ano 75 a.C. Em 2001, foi descoberta
a Estela de Joás, rei de Judá. Em 2007, foi encontrado o túmulo de Herodes.
Também recentemente foram encontradas a cidade de Caná da Galileia
e o Tanque de Siloé, mencionados no Evangelho de João (João 2 e 9).
Arqueólogos israelenses anunciaram em 22 de dezembro de 2004
a descoberta, na Galileia, do lugar onde estava localizada a aldeia de Caná, citada
na Bíblia como o local onde Jesus realizou seu primeiro milagre, transformando
água em vinho durante um casamento (João 2.1-11). Curiosamente, foram encontrados
no local jarros de pedra do mesmo tipo e da mesma época dos usados no milagre efetuado
por Jesus. A descoberta inclui ruínas de mais de um metro e meio de altura que datam
das épocas helenística, romana e bizantina na Terra Santa. Pedras talhadas e utensílios
caseiros foram desenterrados no local a uma profundidade de quase dois metros.
Em janeiro de 2005, dias depois da descoberta da Caná
bíblica, foi a vez do Tanque de Siloé, outra referência a um milagre de Jesus no
Evangelho de João (João 9), ter sido encontrado. Uma equipe de arqueólogos
descobriu em Jerusalém vestígios de pedra que seriam a Piscina (Tanque) de Siloé,
onde um homem cego foi se lavar sob a orientação de Cristo e voltou vendo (João
9.7). A piscina fica no bairro árabe de Siloé. Durante os trabalhos, que duraram
seis meses, eles descobriram que o tanque tem 50 metros de comprimento e era
abastecido por um canal vindo da Fonte de Siloé. A piscina de pedra tem degraus
de acesso por todos os lados.
No ritmo em que vão as descobertas na Arqueologia, mais achados
são esperados nos próximos anos, os quais, com certeza, serão publicados no
Mensageiro da Paz.
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