Muitos cristãos vivem hoje como se não acreditassem na doutrina bíblica do Arrebatamento ou na proximidade da Segunda Vinda de Jesus
Uma das marcas dos grandes avivamentos da história da Igreja Cristã, incluindo o Movimento Pentecostal, é a pregação sobre o Arrebatamento da Igreja e o Retorno de Cristo. Com o passar do tempo, porém, essa mensagem passou a ser relegada no meio evangélico, sendo substituída por uma pregação mais voltada para as necessidades terrenas. Não que Deus não se importe com as nossas necessidades do dia-a-dia. Claro que Ele se importa. A Bíblia está repleta dessa verdade. Entretanto, o ponto é que uma vida cristã focada apenas nos problemas terrenos perde toda a sua verdadeira dimensão, enquanto a consciência da proximidade da Segunda Vinda de Jesus desperta o crente para uma vida de santidade, para a evangelização e para uma vida de serviço a Deus e ao próximo.
Uma pesquisa da revista U. S. News & World Report, realizada
há pouco mais de dez anos, revelou que 61% dos cristãos americanos acreditam
que Jesus Cristo vai voltar à Terra, e apenas 44% acreditam no Arrebatamento da
Igreja. Até onde se sabe, nunca foi feito esse tipo de pesquisa entre os cristãos
no Brasil. E nos Estados Unidos, essa foi a última grande pesquisa do tipo já feita,
exatamente no final dos anos 90. Mesmo os grandes institutos de pesquisa cristãos
na América do Norte não têm se preocupado mais em fazer esse tipo de
levantamento. E esse desinteresse pelo assunto já é um dado interessante.
Porém, apesar de essa pesquisa do U. S. News & World Report
apresentar uma fotografia de uma realidade de dez anos atrás nos EUA, seu resultado,
ainda hoje, é algo a se pensar, pois revela que cerca de 40% dos cristãos do
maior país cristão do mundo, os EUA, não criam mais no Retorno de Jesus na virada
do século 20 para o século 21. E se essa pesquisa fosse feita hoje, o resultado
seria muito diferente? Claro que, depois da virada do século, vieram os atentados
de 11 de setembro de 2001; o Tsunami do Natal de 2004; terremotos gigantescos na
Ásia, Europa e no Continente Americano que ceifaram a vida de milhares de pessoas;
o aumento das guerras e da perseguição aos cristãos no mundo (principalmente na
Ásia e África), mas, mesmo assim, é difícil crer que, hoje, se mente no Brasil)
afirmem sua crença nessas doutrinas bíblicas, na prática, o estilo de vida cristã
manifestado por boa parte deles choca-se com essa afirmação.
Outro dado é que, em alguns círculos teológicos onde enfatiza-se
mais o aspecto social da igreja do que o espiritual, é comum a tese de que pregar
sobre o Arrebatamento da Igreja e o Retorno de Jesus é uma mensagem que acaba criando
cristãos alienados, “com a cabeça nas nuvens”, que não se importam com o aqui e
ao agora, mas só com o futuro. Porém, tal análise é absolutamente divorciada dos
fatos. A mensagem da proximidade da Vinda de Jesus não leva a uma fuga da
realidade presente, mas a um despertamento espiritual, inclusive, para melhor servirmos
a Deus e ao próximo hoje, aqui e agora.
Uma breve pesquisa sobre os avivamentos espirituais da história
da Igreja mostra-nos que a mensagem da Segunda Vinda de Jesus sempre foi uma marca
dos avivamentos ao lado das reformas sociais. Uma não estava divorciado do
outro. Foi assim no Avivamento Wesleyano no século 18, na Inglaterra, e no
Grande Despertamento do século 18 e no Avivamento do século 19 nos Estados
Unidos. Além do mais, a Bíblia também enfatiza essa verdade. Os avivamentos no Antigo
Testamento provocaram reformas sociais e o fogo do Espírito no nascimento da
Igreja, como vemos em Atos dos Apóstolos e nas Epístolas do Novo Testamento,
transformou vidas e o comportamento de vários grupos sociais.
O apóstolo Pedro, em sua segunda epístola, afirma a importância,
para a vida espiritual do cristão, de vivermos na expectativa do Arrebatamento
da Igreja. Escreve ele: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a
têm por tardia; mas é longânime para conosco, não querendo que alguns se percam,
senão que todos venham a arrepender-se. (...) Havendo, pois, de perecer todas estas
coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, Aguardando, e
apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão,
e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos
novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas
coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz. (...)
Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano
dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza;
antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém”, 2 Pedro
3.9-18.
Essas palavras são vivas ainda hoje.
Sobre correntes escatológicas
A visão Pré-tribulacionista (Arrebatamento da Igreja antes da
Grande Tribulação) e Prémilenista (Retorno de Jesus com a Igreja — segunda fase
da Segunda Vinda de Jesus — para estabelecer o Milênio) é a mais aceita entre
os evangélicos em todo o mundo, inclusive pelas Assembleias de Deus. Sobre o Pré-milenismo,
o célebre teólogo Norman Geisler escreve na seção Apologética desta edição, na
página 16. Mas, como surgiram essas diferentes correntes escatológicas no meio
cristão?
As inúmeras correntes escatológicas quanto à interpretação do
Tempo do Fim têm raízes históricas, são fruto de contextos e conjunturas. A que
tem mais base bíblica é justamente a que prevaleceu nos primeiros séculos da Igreja
Primitiva e voltou à tona cem anos depois da Reforma Protestante.
“O fato de que Jesus virá de novo à Terra está mais do que claro
nas Escrituras. Os evangélicos em geral aceitam Atos 1.11 como garantia de Sua
Volta pessoal e visível. Várias teorias têm surgido na tentativa de inventar
explicações que cancelariam esse fato. Alguns dizem que Cristo voltou na pessoa
do Espírito Santo no Dia de Pentecostes. Foi, no entanto, o próprio Cristo
glorificado que derramou o Espírito Santo naquela ocasião (Atos 2.32,33). Outros
dizem que a Segunda Vinda de Cristo ocorre quando Ele entra no coração do
crente por ocasião da conversão deste (Apocalipse 3.20 é usualmente citado), mas
as Escrituras ensinam que aqueles que o recebem esperam a Sua Vinda (Filipenses
3.20; 1 Tessalonicenses 1.10). Ainda outros dizem que a Sua Vinda é cumprida
quando Ele vem buscar o crente que morre. Os mortos e os vivos juntos, porém, serão
‘arrebatados juntamente’ na Sua Vinda (1 Tessalonicenses 4.17)”, destaca pastor
Stanley Monroe Horton, célebre teólogo da Assembleia de Deus nos EUA.
Até o final do segundo século d.C., a maioria esmagadora dos
cristãos pensava que Cristo voltaria para estabelecer o Milênio, como ensinam as
Escrituras. Somente a partir do terceiro século essa visão foi mudada.
Tudo começou na segunda metade do segundo século, quando os assuntos
escatológicos deixaram de ser enfatizados. É que a Igreja passou a deter-se
mais no combate às heresias em torno da pessoa de Jesus. O foco principal era a
Cristologia. Então, quando chegou o terceiro século, quando a Escatologia foi
novamente observada, Orígenes (185-254 d.C.), sob a influência da filosofia
grega, passou a ver o Milênio como algo alegórico, tirando um pouco da
literalidade do Milênio e dando início à espiritualização do Reino futuro. Como
resultado disso, o Reino futuro e o Juízo Final deixaram de ser enfatizados
como no início da Igreja Primitiva. A visão de um Milênio literal já não era
unanimidade.
Veio, então, o fim da perseguição no quarto século e a transformação
do cristianismo em religião do Estado. Consequentemente, alguns cristãos passaram
a pensar que o Milênio chegara. Na Idade Média, mesmo com o fi m do Império Romano,
o Reino de Deus e a Igreja Católica Romana eram vistos como sendo a mesma coisa.
Para a maioria dos cristãos dessa época, a Igreja Católica Romana estava edificando
a Cidade Eterna de Deus na Terra. Nesse período, a crença no Milênio literal, em
um Reino futuro, existia apenas entre os grupos que protestavam contra a
autoridade da Igreja Romana.
No século 16, com a Reforma Protestante, a autoridade da Bíblia
foi enfatizada, mas a ênfase era apenas na glorificação final dos crentes. Foi
só no século 17, com o Movimento Puritano na Inglaterra, que a crença na inauguração
do Milênio após a Segunda Vinda de Jesus, como acreditavam os primeiros cristãos
até o final do segundo século (e que tem apoio bíblico), começou a se popularizar.
Porém, houve desvios.
No século 18, Daniel Whitby passou a ensinar uma inversão: Cristo
só viria depois que um milênio de progresso, sob a autoridade da Bíblia, fosse instaurado
no mundo. Esse pensamento ganhou espaço entre muitos cristãos norte-americanos no
século 19, pois encaixava-se com a filosofia do progresso que vigorava nessa
época. Porém, no final do século 19, a ênfase passou a ser o Milênio literal depois
da Segunda Vinda de Cristo.
Um adendo deve ser feito: nos séculos 19 e 20, com o advento
do liberalismo teológico, muitos teólogos passaram a ensinar o amilenismo (a não
crença no Milênio), mas seu pensamento é aceito pela minoria dos cristãos evangélicos
de todo o mundo (não que todo amilenista seja teólogo liberal, mas a influência
do liberalismo nessa época levou a isso).
Ainda há os pósmilenistas, que creem que o Milênio virá depois
que o mundo todo ser conquistado por Cristo. Mas, a visão mais fiel à Bíblia é,
sem dúvida, o Pré-milenismo, que reconhece à luz das Sagradas Escrituras que a Segunda
Vinda de Cristo, a Ressurreição dos Justos e o Tribunal de Cristo virão antes do
Milênio, depois do qual haverá a soltura e derrota final de Satanás, e, finalmente,
o Juízo Final, seguido de “novos céus e nova terra”.
Compartilhe este artigo. Obrigado.
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante