Houaiss define o mercantilismo como “a propenso a sujeitar ou relacionar qualquer coisa ao interesse comercial, ao lucro, à s vantagens financeiras; teoria e sistema de economia polÃtica, dominantes na Europa após o declÃnio do feudalismo, que, baseados no acúmulo de divisas em metais preciosos pelo Estado por meio de um comércio exterior de caráter protecionista, fortaleceram o colonialismo e proporcionaram o desenvolvimento industrial, com resultados lucrativos para as balanças comerciais”.
O mercantilismo surgiu na Europa, entre os séculos 15 e 16, quando
um conjunto de práticas e medidas econômicas começou a ser usado pelos Estados
com os objetivos de unificar o mercado interno e possibilitar importação e
exportação entre os paÃses. Nessa mesma época, já existia também uma forma de mercantilismo
religioso, praticado pela Igreja Católica Romana.
No seu best-seller Uma Breve História do Mundo, o professor
Geoff rey Blainey afirma: “A Igreja reuniu cobradores de impostos profissionais
e, assim como as pessoas que hoje ajudam a angariar fundos nas instituições de
caridade, eles se encarregavam de vender indulgências. (...) Martinho Lutero detestava
a prática de venda de indulgências, que nada mais eram que pacotes caros pagos pelo
perdão. Em 31 de outubro de 1517, na véspera do Dia de Todos os Santos, um dia
importante do calendário, afixou seus protestos em latim à porta da igreja do
castelo de sua cidade” (Fundamento, página 185).
O termo “mercantilismo”, quando empregado a respeito de igrejas
e lÃderes pretensamente evangélicos, refere-se à queles que se valem do Evangelho
para obtenção de vantagens financeiras ou lucro, o que é, sem dúvida, uma forma
condenável de comercialização.
O mercantilismo do Evangelho é visto no oportunismo de pessoas
que se aproveitam da facilidade para abrir igrejas a fim de ganharem dinheiro de
modo igualmente fácil. Em vez de abrirem uma mercearia ou uma padaria, por exemplo,
tais exploradores optam pela comercialização do Evangelho. Ignoram que já existem
igrejas bem estruturadas, capazes de formar discÃpulos de Jesus e acolhê-los, e
fundam as suas próprias igrejas-negócios.
Os exploradores da fé se aproveitam da liberdade religiosa que
vigora no paÃs e da facilidade para abrir uma igreja. São necessários cinco dias
úteis e menos de R$ 500 em despesas burocráticas para estabelecer uma igreja legalmente,
com CNPJ e tudo. É preciso apenas o registro da assembleia de fundação e do estatuto
social em cartório.
Infelizmente, boa parte dos programas evangélicos de tevê é mercantilista.
Não apresentando conteúdo evangelÃstico, sua ênfase recai no triunfalismo e na prosperidade
meramente financeira, como se isso fosse a prioridade do cristão. Seus apresentadores
se valem de mensagens “proféticas” e testemunhos de pessoas que teriam recebido
vitórias financeiras, mediante os quais sensibilizam os telespectadores a lhes enviarem
vultosas contribuições.
Outro recurso usado pelos mercantilistas do Evangelho é a mensagem
de autoajuda, verbalizada mediante a repetição de bordões como: “Ouse sonhar”, “Seja
um sonhador”, “Sonhador não morre”, “Não desista dos seus sonhos”. Essa mensagem
não se aplica aos servos do Senhor. Às vezes, é preciso desistir de sonhos, ainda
que sejam bons, a fim de agradar a Deus. Davi e Paulo, por exemplo, abandonaram
seus excelentes projetos (sonhos) para cumprirem a prioritária vontade do Senhor
(2 Samuel 7 e Atos 16.6-10). “Do homem são as preparações do coração, mas do SENHOR,
a resposta da boca”, Provérbios 16.1.
Nos tempos do Novo Testamento, já havia pessoas mal-intencionadas,
sem compromisso com as Escrituras, interesseiras e sem temor de Deus que vagueavam
pelas igrejas cristãs usando o Evangelho para obter lucro (2 CorÃntios 11.3-15
e 1 Timóteo 6.9-10). Isso levou o apóstolo Paulo a mostrar aos cristãos de
Corinto que ele era diferente desses aproveitadores (2 CorÃntios 2.17). Referindo-se
aos falsos mestres, o apóstolo Pedro também alertou aos crentes da época e a nós,
hoje, sobre os que mercadejam a fé (2 Pedro 2.1-3).
O mercantilismo do Evangelho consiste no sacrifÃcio das ovelhas
em prol de falsos e maus pastores, ao contrário do que disse o Senhor Jesus, em
João 10.11: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas”.
por Ciro Sanches Zibordi
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