Você aprecia o estudo das genealogias? Em geral, não gostamos muito desse tema e quero confessar que, na minha juventude, sempre pulava o texto bÃblico em que elas apareciam. Por que todo esse desinteresse, se elas estão inseridas nas Escrituras? Creio que o desinteresse está associado ao fato de não sabermos seu real significado e importância dentro da Palavra de Deus. Então, antes que você desista da leitura do texto, vejamos a definição do termo e sua relevância. Segundo o Dicionário BÃblico Wycliffe (CPAD), o termo pode ser definido “como a relação de nomes indicando os ancestrais ou descendentes de um indivÃduo ou de vários”. No entanto, as genealogias bÃblicas não são apenas relação de nomes, pois tudo que está no Livro de Deus tem propósito, e com as genealogias não é diferente. Elas têm duas funções principais: preservar a pureza do sacerdócio arônico e conservar a linhagem de Davi, pois de sua descendência viria o Cristo.
O apóstolo Mateus, inicia seu Evangelho com a genealogia do homem
mais importante que já viveu nesta Terra, que dividiu a história em antes e
depois do Seu nascimento: Jesus Cristo, o Messias prometido desde o Éden.
Mateus está escrevendo para os judeus, por isso sua preocupação em mostrar a
origem de Jesus como Messias e descendente de Abraão (o pai da nação de Israel)
e de Davi (o rei da promessa messiânica). Porém, ele também mostra que Jesus é
o Filho de Deus e que foi gerado pelo EspÃrito Santo, em cumprimento das
profecias do Antigo Testamento. “Esta linhagem de Abraão a Jesus através dos
reis da casa de Davi, tem a intenção explÃcita de apresentar os direitos de
Jesus ao trono de Davi. Ainda que o trono estivesse vago por quase seis séculos,
ninguém poderia esperar a devida consideração dos judeus para com o Messias se
Ele não pudesse provar sua descendência real”.(1)
Entretanto, o que chama a atenção na genealogia de Mateus e
a difere das do Antigo Testamento e dos Evangelhos, é a referência a algumas
mulheres (Mateus 1.3,5,6).
Por que citar as mulheres?
O que levou Mateus, vivendo em uma sociedade patriarcal, a
incluir o nome dessas mulheres? Não sabemos ao certo. Lawrence Richards(2) afirma
que uma das possibilidades é o fato de que Mateus era um publicano, ou seja, um
coletor de impostos ou fiscal dos romanos. Sabemos que os coletores eram odiados
pelo povo, pois sempre cobravam além dos encargos. Podemos ver o quanto eram
desprezados quando os textos bÃblicos dizem “publicanos e pecadores” (Mateus
9.10) e “publicanos e meretrizes” (Mateus 21.31). Em diversas ocasiões, eles são
comparados aos gentios (Mateus 18.17). Além de ninguém gostar de pagar
impostos, eles se enriqueciam com a miséria do povo e em geral, extorquiam as
pessoas (Lucas 3.12). Mateus, com certeza, sabia o que era ser excluÃdo.
De alguma forma, Mateus se identificava com essas mulheres e
desejava mostrar que o Messias predito pelos profetas veio ao mundo para salvar
a todos (Mateus 1.21). Ele escreveu para crentes judeus e certamente sabia como
as mulheres eram vistas dentro do judaÃsmo; talvez, por isso, tenha desejado revelar
a seu povo que agora, na nova aliança, todos eram alvos do amor do Salvador.
Jesus, durante Seu ministério terreno, mostrou que os publicanos, ou melhor,
todos os seres humanos, mereciam Seu amor, Seu olhar, Sua atenção. O Mestre se
assentou à mesa com algumas pessoas que eram desprezadas, colocadas à margem da
sociedade. Ele acolhia indefesos e oprimidos. Hoje, falamos a respeito de
educação inclusiva, mas Jesus já acolhia os excluÃdos (publicanos, mulheres,
crianças, leprosos, pobres). Certamente, o fato de ter chamado Mateus para ser
um dos apóstolos deve ter impressionado e escandalizado muitos (Marcos
2.14-17). Não fomos alcançados por Jesus por nossa bondade, nobreza ou realeza,
mas por Sua misericórdia e graça (Efésios 2.4,5).
Tamar (Gênesis 38.1-30).
Segundo o relato bÃblico, ela era cananeia e casou-se com
Er, filho primogênito de Judá. A Palavra de Deus diz que seu marido era mau, pelo
que o Senhor deu cabo da sua vida. Então, Tamar fica viúva e sem filhos, o que
também era muito ruim, pois a esterilidade era vista pelos judeus como uma
maldição, um juÃzo da parte de Deus (Êxodo 23.26; Deuteronômio 7.14; LevÃticos
20.21), e as viúvas eram sustentadas pelos parentes, pelo filho mais velho que
recebia o direito de primogenitura. Parece que ela estava mesmo destinada Ã
vergonha e à dor. Segundo as leis antigas do Oriente, o irmão de Er, Onã,
cunhado de Tamar, tem a responsabilidade de lhe dar uma semente, um filho.
Porém, Onã, que também era um homem mau, não queria suscitar semente a seu
irmão, pois a criança que nascesse daquele relacionamento não seria contada
como sua (v. 9). Então, ele joga sua semente fora. Pense na condição de Tamar.
Ela se tornou um “objeto” na mão de um homem perverso, apenas satisfazia seus
desejos sexuais. Quantas mulheres hoje também não se encontram nessa situação? É
algo terrÃvel! Mas saiba que Deus conhece sua dor e sabe como e quando livrar
você da vergonha, da dor e do sofrimento. Vendo a atitude de Onã e a maldade do
seu coração, Deus também o matou. Mais uma vez, o Senhor se compadeceu de
Tamar. Seu sogro, com medo (já tinha perdido 2 filhos) e pelo fato de seu filho
mais novo ainda ser muito jovem, envia Tamar de volta para casa dos seus pais. Mais
uma vez, Tamar é afligida pela vergonha e dor de ter que retornar à casa dos
pais sem nada. Talvez todos a olhassem como uma coitada ou como alguém que tem algo
de errado, uma maldição. Era estigmatizada pelas perdas. Mas Tamar não aceitou
aquela situação. Ela se levantou em meio à sua dor e decidiu agir em seu favor.
Até aqui Tamar foi conduzida; agora, ela vai conduzir sua vida. Com coragem e
destemor decide lutar por sua semente. Tamar descobre que seu sogro havia
ficado viúvo e nessa altura ela já tinha consciência de que ele não lhe daria o
filho mais novo. Então, ela traça um plano no qual se passa por prostituta. Ela
negocia com seu sogro, que sem saber que era sua nora, contrata seus serviços.
Tamar ficou grávida do seu sogro. E da sua semente, descenderia o Messias. Uma
história de perdas, humilhação, vergonha e dor, mas que foi reescrita pelo
Senhor.
(1)
PFEIFFER, Charles F; HARRISON, Everett F. Comentário BÃblico Moody. Vol.
4. 4.ed. São Paulo: IBR, 1990, p.3.
(2) RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do
Novo Testamento. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 12.
por Telma Bueno
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